Exposição exibe fotografias dos tumulos do Cemitério da Saudade

Ora pro nobis

A "Ora pro nobis: o silêncio na obra de Lelio Coluccini" é uma exposição com as fotografias de Josemar Antônio Giorgetti dos conjuntos escultóricos tumulares do artista ítalo-brasileiro Lelio Coluccini (1910-1983), encontradas no Cemitério da Saudade da cidade de Campinas. As fotografias estarão em exposição do dia 4 a 22 de dezembro, na Biblioteca 'Octávio Ianni' do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH). 

A tradição marmorista italiana aliada com o ofício familiar reconfigura-se nas mãos de Lelio devido ao seu contato com as vanguardas artísticas. A arte moderna pode ter rompido com tradições como a da perspectiva, a da representação da realidade ou com a noção de escultura como monumento, mas o aspecto vital da relação do homem com o mundo, o espaço, não deixou, por isso, de ser uma questão inerente à criação artística, e Coluccini investiu no espaço público para ocupá-lo ora com o comedimento próprio da encomenda burocrática, ora com uma potência poética ímpar.

As esculturas tumulares, de volumes densos e evocativos, trazem o silêncio das alegorias da ordem, da ressurreição, saudade, família, dor e fé, que afloram com o pout-pourri referencial do artista: kitsch, art nouveau, cubismo, expressionismo e neoclássico, numa miscelânea acadêmica e moderna. A linguagem de Lelio Coluccini, evocativa e edificante, representa o seu apreço pela arte sacra e pelo decorativismo. Suas esculturas tumulares são a materialização da necessidade simbólica de eternização de uma opulência e ascensão social, da morte enquanto passagem e memória dos entes queridos (e da figura do próprio artista) e não como esquecimento. 

O Cemitério da Saudade, inaugurado em 1881, é considerado um dos mais importantes do Brasil devido a sua riqueza arquitetônica e seu valor histórico e cultural. Conhecido como Cemitério do Fundão, a nova necrópole era de administração pública, fruto da incorporação e transferência dos outros cemitérios já existentes na Vila Industrial: o Cemitério Público, o Cemitério da Irmandade São Miguel e Almas, o Cemitério do Santíssimo Sacramento e o Cemitério dos Acatólicos. A partir da doação de terras de Joaquim Ferreira Penteado (Barão de Itatiba), o loteamento foi executado segundo a segmentação urbana e social do município, algo inédito à planificação cemiterial.

Ao caminhar pelas ladeiras e ruas, é possível perceber os sinais das dezenove ampliações que o espaço sofreu ao longo dos anos, silmultâneas ao crescimento urbano da cidade.O Cemitério da Saudade também é conhecido pela importância artística: tombado pelo CONDEPACC (Conselho de Defesa do Patrimônio Artístico e Cultural de Campinas) em 2004 devido ao seu conjunto escultural, possui obras de escultores como Marcelino Velez, J.Rosada e Wilmo Rosada, Giuseppe Tomagnini, Aldo Puccetti, Nicola del Nero, Albertini e Lelio Coluccini dentre outros, representando um grande patrimônio artístico de Campinas. 

Na extensão das 112 quadras do cemitério há peças de mármore (principalmente da região de Carrara, Itália), granito, bronze e latão dos referidos artistas que ornamentam túmulos das famílias abastadas do final do século XIX e início do XX, auge do período cafeeiro da região. 

Os imigrantes italianos foram os principais responsáveis por atender a demanda da arte tumular através de catálogos com os mais variados tipos e temas para as obras: a Pietá, Jesus, anjos, altares, cruzes, santos e alegorias religiosas. Tanto a arquitetura mortuária quanto as esculturas seguiam padrões europeus, imigrados junto com os artistas e desejados pelo público campineiro, forte mercado para a ascenção social e artística dos imigrantes e seus descendentes, como Lelio Coluccini.

Apesar do tombamento e do reconhecimento da importância do conjunto escultural, são visíveis os sinais de abandono e depredação das obras. A curadoria espera que, com as pesquisas recentes e com essa exposição, aumentar o interesse do público sobre esse acervo público e seus artistas esquecidos.

As figuras vigilantes e crentes foram captadas pelas lentes do fotógrafo Josemar Antônio Giorgetti, mestrando da Pós Graduação em História da Arte IFCH/UNICAMP. A exposição traz uma pequena mostra do trabalho de Lelio Coluccini, entre 1932 e 1973.

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