Os passageiros que participaram da última etapa do programa Roda SP nesta quinta-feira (5 de julho) tiveram a oportunidade de conhecer alguns aspectos da história da ferrovia de São Paulo. Antes de embarcarem com destino a Serra Negra e Amparo, rebobinaram o fio do tempo, retornaram ao ano de 1876 quando foi inaugurada oficialmente a Companhia Mogiana de Estradas de Ferro. O estudioso da história de Campinas, Wagner Paulo dos Santos, falou sobre a vinda do imperador D. Pedro II a Campinas a bordo da Maria Fumaça e da Estação Guanabara como importante entroncamento ferroviário que ajudou a desenvolver um bairro de Campinas que é hoje uma das áreas mais valorizadas da cidade.
Wagner Santos lembra que D. Pedro II passou pela Estação Guanabara em 1876, na inauguração da Companhia Mogiana. “O imperador veio de trem do Rio de Janeiro a São Paulo. Na capital, pegou a antiga estrada de ferro dos ingleses que unia Santos a Jundiaí, de onde seguiu para Campinas. Ele embarcou na Estação Central de Campinas (hoje Estação Cultura), veio para a Estação Guanabara e seguiu para Mogi Mirim. Evidentemente, no trecho Campinas-Mogi Mirim já existiam as paradas planejadas, nas fazendas dos grandes produtores de café. O imperador aproveitou a oportunidade para conceder títulos de barão e de visconde aos fazendeiros, de acordo com as conveniências políticas da época. Os novos barões, enaltecidos, aplicavam mais dinheiro nas ferrovias, algo muito importante para o desenvolvimento do estado”, afirma o estudioso revelando que na primeira visita do imperador a Campinas, em 1852, a viagem se deu no lombo de uma mula.
O palestrante revelou também que o bairro Guanabara era um lugar afastado do centro, mas com algum sinal de uma industrialização que se fortaleceria nos anos seguintes. “A Estação Guanabara tornou-se uma espécie de entroncamento ferroviário. Houve um momento em que eram embarcados mais passageiros aqui do que na Estação Central. Toda a produção agropecuária que vinha do interior de São Paulo passava pela Estação Guanabara com destino a estação Central de Campinas. De lá seguia para diferentes destinos, como São Paulo e Santos. A estação Guanabara, no entanto, passou a ser um importante entreposto. Aquilo que não era transportado para a capital, como as máquinas agrícolas, ficava nos barracões e daqui seguiam para fazendas em Mogi Mirim, Mogi Guaçu e Jaguariúna, por exemplo. Ou seja, a Mogiana começava a ganhar vida própria, era o pontapé inicial de uma nova linha, de um mercado que começava a se expandir para uma região até então desabastecida de linha ferroviária”.
O programa Roda SP, iniciativa da Secretaria Estadual de Turismo, teve início no dia 21 de junho. Inicialmente estavam previstas saídas diárias de um ônibus para Serra Negra e Amparo (terças, quintas e sábados) e Águas de Lindóia e Lindóia (quartas, sextas e domingos). Por conta da grande procura, com bilhetes no valor de R$ 10,00, a organização ampliou o número de ônibus. Em média, partiram diariamente da Estação Guanabara três ônibus. Hoje, foram necessários quatro veículos coletivos para atender a demanda. Segundo a agente Cultural do CIS-Guanabara, Flávia Moraes Salles, idealizadora do projeto memória-viva que possibilita a visita guiada coordenada por um estudioso ou personagem que vivenciou os áureos tempos da ferrovia paulista, a Secretaria Estadual de Turismo já sinalizou que o programa poderá se repetir no próximo ano. “Caso se confirme, nossa proposta é intensificar as visitas guiadas, apresentando aos passageiros um pouco da memória da ferrovia paulista”, afirma.