Tradição indígena e Bach pautam espetáculos de dança no CIS Guanabara

Treino no CIS-GuanabaraA mostra Fevereiro na Dança prossegue nesse sábado (23/02), ao longo de todo o dia, no CIS Guanabara. Atividades relacionadas ao universo dessa arte têm início às 9h00, com treino de dança e prosseguem durante o dia com lançamentos de livros e apresentações de espetáculos que conectam artistas, espaços e projetos locais da cidade de Campinas.

Das 9h00 às 13h00 ocorre o Treino de Dança sob a coordenação da artista-pesquisadora Melina Scialon, que apresenta o trabalho Coreologia e Dramaturgia do Performer. Segundo Melina, esse treino faz parte da pesquisa que desenvolve para buscar, por meio da prática de princípios do movimento traçados pela coreologia de Rudolf Laban, a autonomia criativa do performer, seja dançarino ou ator. “Esta prática, apesar de ser baseada em princípios de movimento e treinamento que nasceram na primeira metade do século XX, é revista para uma ação contemporânea do artista-criador do século XXI”, afirma a pesquisadora. As inscrições para essa atividade podem ser feitas até o dia 22 de fevereiro pelo e-mail projetocamdanca@gmail.comMelina atua como professora colaboradora de dança e expressão corporal no Departamento de Artes Cênicas da Unicamp, com especialização em Estudos Coreológicos pelo Trinity Laban (Londres, Reino Unido, 2014). Tem doutorado em Dança pela University of Roehampton (Londres, Reino Unido, 2015) e mestrado em Artes Cênicas pela UFBA (2009).

Às 18h00, ocorrem os lançamentos de dois livros. A bailarina e escritora Daniela Alvares Beskow assina a obra Dramaturgia Cênica Feminista e Análise Situada de Espetáculos. Simultaneamente, a artista-pesquisadora de dança Melina Scialom estará autografando o livro Laban Plural: Arte do Movimento, Pesquisa e Genealogia da Práxis de Rudolf Laban no Brasil.

 

A partir das 20 horas serão realizados os espetáculos Estudo 1. Prelúdio para Movimento, com Daniela A. Beskow e Catarina Rossi e Herança, com Arcilia Lima, Alexandra Krenak e Sol Terena. Daniela e Catarina apresentam um estudo sobre a relação entre o movimento e a música a partir do Prelúdio da Suíte n. 3 de J. S. Bach para violoncelo, tocado na viola. Ideias de movimento e som se desenvolvem a partir deste prelúdio, propondo espaços, silêncios e relações. É o primeiro trabalho resultado do encontro entre Daniela e Catarina. Daniela é bailarina e escritora graduada em Ciências Políticas (Unicamp, 2006) e mestre em Artes Cênicas (Unesp, 2017). Desde 2002 desenvolve trabalho solo como bailarina e também a Metodologia de Pesquisa do Movimento e Criação em Dança, método de treinamento e criação que resultam em apresentações e cursos ao público. Catarina é bacharel em viola erudita e pós-graduanda em música pela Unicamp. É pesquisadora de música popular e desde 2014 vem se dedicando ao estudo sobre a rabeca pernambucana. 

No espetáculo Herança a ação combina narrativa, cantos, dança e tradição indígena. O elemento estético se dá pelos adornos utilizados pelas artistas indígenas e pela pintura feita no próprio corpo durante o ritual de preparação para o grafismo indígena, realizado por Sol Terena e Alessandra Krenak. Ocorre também a pintura feita no corpo da artista não-indígena, Arcilia Lima, simbolizando a transferência da cultura indígena nos hábitos de vida do povo brasileiro.Durante a mistura da essência retirada do jenipapo e o carvão, utilizados na produção da tinta do grafismo, a narrativa traz elementos da cultura indígena, presentes em hábitos de vida e momentos de resistência desses povos ao longo da história. Na dança, uma adaptação do Toré, um ritual que celebra a vida, a criação, atualmente incorporada ao movimento indígena como uma forma de expressão étnica, política, o ritual maior de resistência e união dos povos indígenas. Arcilia Lima é instrutora de Pilates, pesquisadora do movimento no campo da educação Somática e da dança contemporânea. Na pesquisa em dança contemporânea, busca a construção do corpo-político, resgatando a identidade indígena presente nos hábitos de vida do povo brasileiro, discutindo o papel da mulher indígena na perpetuação dessa tradição. Sol Terena é indígena da aldeia Tereré, localizada em MS. Trabalha como pintora corporal indígena e é responsável pela discussão sobre direito indígena no coletivo “Mulheres Indígenas no Contexto Urbano”. Atua na cidade de Campinas e saiu da sua aldeia para estudar Direito na Universidade Mackenzie para lutar pelos direitos de seu povo. Alexandra Krenak é contadora de histórias a partir do Porongo, cabaça com cenas da história contada produzidas pela própria artesã. É também integrante do coletivo “Mulheres Indígenas em Contexto Urbano”.

A temporada de compartilhamentos de metodologias de treino em dança é uma ação do Projeto Camdança que tem como objetivo a valorização dos saberes metodológicos na área da pesquisa e do movimento através do compartilhamento e troca de saberes entre profissionais dessa arte. A ação consiste em artistas oferecerem treinos de dança e movimento a partir de suas técnicas de trabalho, movimento e artes cênicas, ensinando suas descobertas e saberes na área da pesquisa prática e treinos em dança.

No CIS-Guanabara, o evento, com a coordenação da agente cultural Maria Cristina Amoroso Lima Leite de Barros, tem o apoio da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (PROEC), da Unicamp. O Projeto Camdança, responsável pelas exibições no CIS-Guanabara, é um dos parceiros dessa iniciativa.

O CIS fica à Rua Mário Siqueira, 829, Botafogo, Campinas (estacionamento gratuito no local).
Imagem: Treino de Dança coordenado pela artista-pesquisadora Melina Scialon. Foto: Ricardo Lemos Ribeiro


 

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