Estar no lugar certo, na hora certa e saber manejar os dispositivos de abertura e de velocidade de uma câmara fotográfica, muitas vezes, são requisitos para a produção apenas de um bom registro fotográfico. Porém há um componente que distingue um mero registro fotográfico de uma fotografia que atinge o status de arte, um ingrediente que não se encontra em nenhum manual técnico de fotografia: a sensibilidade. Essa é a principal qualidade do fotógrafo Antonio Scarpinetti que assina no período de 9 de maio a 4 de junho a exposição fotográfica "São Gabriel da Cachoeira", no CIS-Guanabara. Com curadoria da jornalista Juliana Sangion, a mostra será aberta às 17h30, no hall de entrada do Centro Cultural.
Diante das 20 fotos que compõem a mostra, o fotógrafo tem dificuldade de eleger a melhor imagem. “Confesso que é difícil escolher uma foto que seja mais significativa entre muitas selecionadas para narrar em pequenos recortes todo esse cotidiano em que nos envolvemos”, explica Scarpinetti que durante dez dias permaneceu em São Gabriel da Cachoeira, município do Amazonas, na região do Rio Negro com equipe da Comissão Permanente para os Vestibulares da Unicamp (Comvest), durante a aplicação da prova do primeiro Vestibular Indígena da Unicamp. São Gabriel, localizado na fronteira com a Colômbia e Venezuela, no extremo noroeste do Brasil, é a cidade brasileira com maior população indígena do país. Após alguns momentos de hesitação, ele faz um novo passeio pelas imagens e dirige o olhar de maneira mais fixa sobre a de um garoto que caminha às margens do Negro. O menino, separado do fotógrafo por uma cortina de borboletas, fenômeno relativamente comum em um cenário de uma natureza exuberante, olha direto para câmera, como se estivesse interagindo com o espectador que mais tarde veria a foto. O resultado é uma imagem cuja cortina de borboletas desfocadas nos remete ao impressionismo, movimento artístico que surgiu na França no final do século XIX, durante o período da Belle Époque. Reside aí a diferença de um fotógrafo sensível, de talento, que o coloca num patamar muito acima da média. Mais modesto, ele explica a escolha: “essa foto do menino e as borboletas foi captada num momento de descontração das crianças na comunidade da Ilha de Tawá e que me dava a medida do viver em comunidade e em liberdade, na alegria dos gestos, da sensibilidade e no brilho desses olhares”.
Fazer do rio Negro pano de fundo para a foto é inserir nesse olhar uma das maiores riquezas de seus moradores. “O rio é a principal via de transporte das famílias. Nele vemos pequenas embarcações, conhecidas como rabetas, que permitem o deslocamento entre as diversas comunidades e a cidade ao longo da calha do alto Rio Negro. O rio é uma extensão de seus habitantes e de suas moradias: ali as crianças brincam, os adultos lavam as roupas, tomam banho, enfim suas águas permitem a sobrevivência dessas pessoas. Nosso acesso às comunidades visitadas foi nesse contexto e boa parte das fotos da mostra foi produzida nesse cenário sem igual da Amazônia e no cotidiano dessas populações ribeirinhas”, afirma Scarpinetti.
Produzir as fotos além dos muros da universidade, para Scarpinetti, é uma maneira de diversificar suas atividades profissionais no âmbito da Assessoria de Comunicação da Unicamp, onde atua há quase 18 anos. “Essa expedição foi uma oportunidade muito especial para nós que estamos acostumados com a produção do fotojornalismo e divulgação científica no âmbito da instituição, nos laboratórios, congressos, seminários e nas várias entrevistas que realizamos na Unicamp. Então, sair desses espaços de ensino e pesquisa e conhecer outras realidades, se configura, sem dúvida, numa experiência muito gratificante”, diz.
Para Juliana Sangion, “a exposição é parte de um trabalho grandioso que começa nos contatos com o movimento indígena, nas discussões, reuniões e aprovações no âmbito da Unicamp, até a realização das provas, matrículas, contatos com calouros, enfim, a rede de solidariedade que se formou em torno de um objetivo comum”. Acrescenta ainda que as fotos produzidas por Scarpinetti, “são resultado de um olhar com uma sensibilidade ímpar, materializam um modo de vida muito distinto daquilo que estamos acostumados nos grandes centros e nos revelam uma rotina diferente mostrando uma outra relação com a natureza.”
No CIS-Guanabara, a mostra, com a coordenação da agente cultural Maria Cristina Amoroso Lima Leite de Barros, tem o apoio da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (PROEC), da Unicamp. O CIS fica à Rua Mário Siqueira, 829, Botafogo, Campinas (estacionamento gratuito no local). A exposição pode ser vista no hall, de segunda a sexta-feira, das 9h00 às 20h00 e aos sábados e domingos das 09h00 às 17h00