O diagrama abaixo mostra a evolução da dinastia Bush. A linha forte a ser destacada é aquela que vai de Samuel Prescott Bush para a frente. É daí que vem o principal DNA político da dinastia. Samuel era um empresário de Ohio que fabricava material ferroviário e George Herbert Walter era um financista de St. Louis, muito bem relacionado nas altas esferas.
Mas Samuel Prescott Bush tinha outras prendas preciosas. Uma delas, o reino da Guerra. Junto com Averell Harriman, associou-se a Percy Rockfeller, que por sua vez dirigia a Remington Arms. E essa empresa fornecia a maior parte dos rifles usados na Primeira Guerra, do lado da coalizão anti-germânica. Mais tarde, porém, a família iria diversificar os clientes – e as simpatias políticas. Mudaria de lado sem comunicar o novo endereço, evidentemente.
Os Prescotts teriam laços cada vez mais fortes com os alemães, já na fase do “Projeto Hitler”. O mais escandaloso, porém, é que continuaram com esses negócios depois da declaração de guerra – o que poderia lhe dar uma pena de traição. Não aconteceu. E ninguém fala mais nisso. Ou quase ninguém. Afinal, não faltavam empresários americanos a colaborar com os nazistas.
Pouca gente também fala nas ligações carinhosas da família Prescott Bush com as teorias racistas do começo do século – as experiências eugenistas que pretendiam criar uma super-raça eliminando ou esterilizando os “desajustados”. Até mesmo pistas de colaboração de Prescott com médicos de Auschwitz foram reveladas e logo apagadas. Muita gente pensa que esse tipo de “ciência maldita” é “coisa de alemão”. Só que a eugenia foi muito mais vitaminada nos Estados Unidos do que na Alemanha. De fato, os alemães aprenderam muito com os americanos. Nos anos 1930, um biólogo americano famoso lamentou: “os alemães estão ganhando da gente no nosso jogo”. Edwin Black conta essa estória em War Against the Weak: Eugenics and America's Campaign to Create a Master Race (Dialog Press, 2012).
A Famíglia tinha um grande futuro pela frente. Mesmo não sendo exatamente exemplares de uma super-raça, os Bush se mostraram muito ajustados ao business – o suficiente para escapar de qualquer esterilização.
Veja-se o exemplo de Bush I. Durante a Segunda Guerra, foi inscrito na Força Aérea (não na infantaria, evidentemente). Piloto, saiu em meia dúzia de missões despejando bombas na cabeça de japoneses. Voltou e recebeu uma bolsa de estudos do governo americano (beneficiário do famoso GI Bill, a lei dos veteranos). Como seu pai era ex-aluno de Yale e doara uma boa nota para o “endowment” da Universidade, ele foi admitido sem qualquer dificuldade. Aparentemente, o caminho posterior foi facilitado para o jovem, que aliás declarava ter muito mais afeto pelo beisebol do que para os livros. Fez um “curso acelerado” de três anos, graduando-se rapidamente. Dizem as más línguas que em Yale se você não aprende Direito apreende estelionato e similares. Bush não estudou Direito.
Uma outra curiosidade dessa fase é a “militância” do jovem Bush na irmandade meio-secreta a que se filiou (a mesma do pai, aliás). Skull and Bones – você pode ver o símbolo da confraria aqui abaixo e ele dá uma ideia do que significava aquele grupinho de jovens ricos e excêntricos. Mas algo mais parece ter ocorrido, ainda durante o curso. Uma outra filiação, que só foi revelada anos mais tarde, graças a um memorando indiscreto do lendário chefe do FBI, John Edgard Hoover: George H.W. Bush se tornara agente da CIA.
Como os negócios da família não se chocavam com essa atividade patriótica, muito pelo contrário, a coisa prosseguiu bem. Bush se meteu também em política e lá pela frente, já nos anos 1970, foi nomeado diretor da CIA. Agora era oficial! Logo depois virou vice-presidente na chapa de Ronald Reagan.
Destaque para dois filhos de Bush I, Jeb e George, que depois seria coroado Bush II. Também foram para Yale e também se filiaram à famigerada Skull and Bones. Aparentemente, eram também menos caretas do que o pai. A dupla Junior e Jeb tinha acentuada queda pelos licores fortes. E Jeb enveredou por outras substâncias, não apenas como usuário mas, também, como intermediador remunerado. Estavam se preparando, evidentemente, para os cargos que ocupariam, um como presidente do país, outro como governador da Flórida.
Jeb chegou a sonhar com a possibilidade de ser o Bush III, disputando a indicação republicana com Trump. Sem chance. Trump, certa vez, comentou, zombeteiro:” Esse Jeb, cara, se ele não fosse governador, você o contrataria para alguma coisa? “
O Junior teve melhor sorte. Saiu da dependência química, encontrou Jesus graças à ajuda do televangelista Bily Graham e entrou na rota que lhe era destinada, com ajuda de outros pastores, dos amigos do pai e dos juízes da Suprema Corte, que lhe deram a vitória em uma disputa eleitoral conturbada
O que a eugenia do velho Prescott não podia prever é que a linhagem terminaria por ali e de modo melancólico. Um sopro de força ainda beneficiou Bush II, graças ao auxílio de seu amigo Bin Laden. Mas não durou muito. Talvez se possa dizer, hoje, que Bush, outrora todo poderoso, encabeça a lista dos presidentes mais desmoralizados dos Estados Unidos – uma disputa dura. Talvez sua imagem de mocorongo e lunático perigoso seja hoje menos destacada porque outra voz mais alta se alevantou. Competir com o topete laranja é tarefa difícil até para o super-homem da super-raça dos Prescott Bush. Não há eugenia que aguente. Mas o poder de Bush II talvez tivesse o destino do amor de Vinicius de Morais: infinito enquanto dure. Veremos a seguir.