Unicamp
Jornal da Unicamp
Baixar versão em PDF Campinas, 09 de novembro de 2015 a 15 de novembro de 2015 – ANO 2015 – Nº 643Singer e Quartim alertam para ‘golpe branco’ e avanço do fascismo no país
Rumos da política foram debatidos em mesa-redonda da série “Perspectiva Unicamp 50 anos”Para o cientista social André Singer, jornalista e porta-voz da presidência da República no primeiro governo de Luis Inácio Lula da Silva (2003 a 2007), o principal elemento para o agravamento da situação política atual no país é a crise do que ele chamou de “pacto lulista”. Trata-se, conforme Singer, da entrada em crise de uma transformação do país que vinha sendo orientada pelo governo de Lula por meio da distribuição de renda lenta e sem confronto com o capital.
Singer, que é docente em ciência política pela Universidade de São Paulo (USP), participou no último dia 4 da mesa-redonda “Rumos da política nacional”, organizada como parte das comemorações dos 50 anos da Unicamp. O evento, realizado no Centro de Convenções, integra a série Perspectiva Unicamp 50 anos, da universidade para a sociedade.
“Ao entrar em crise, este ‘pacto lulista’ coloca em questão todo o arranjo político, institucional e econômico do país. Eu diria que, neste momento, não há uma alternativa clara e nós não sabemos se, de fato, este pacto realmente se esgotou. Estamos num momento de intensa luta política e ainda não sabemos qual será o desfecho. Um dos elementos dessa luta política que vem crescendo é o movimento pelo impeachment da presidente da República, que eu considero um golpe branco. Uma das questões que se coloca é evitar esse golpe branco e tentar uma solução para a crise absolutamente no espaço da democracia”, defendeu.
O organizador do debate, o professor João Carlos Kfouri Quartim de Moraes, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp, concorda com a opinião de Singer. Quartim de Moraes, que militou na resistência armada contra a ditadura militar no Brasil no final dos anos de 1960, relacionou o momento atual com o avanço do fascismo no país.
“Estes 50 anos da Unicamp coincidem com um momento sério, grave e duro da história política do nosso país. Nós temos dois fenômenos, um já muito bem sintetizado pelo Singer, e que vejo nos mesmos termos. Mas vejo, também, sobretudo para as novas gerações, um avanço inédito do fascismo em nosso país. Poucos, como eu, têm a idade para relembrar a histeria reacionária que precedeu o golpe de 1964. E nós estamos vivendo um momento de extrema gravidade com essa truculência fascista. Eu estava no Chile em 1972 e conheço bem isso”, apontou.
Outro debatedor do evento, o cientista social Laurindo Leal Filho, docente da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, falou sobre o papel da mídia na atual conjuntura. “Com raras exceções, a mídia tem sido negligenciada pela academia como um ator político, com influência no desenrolar do processo político do Brasil, tanto no sentido de uma tentativa de ruptura democrática, quanto da estabilidade conservadora. É necessário um olhar mais atento da academia e dos pesquisadores para notar como a ação política da mídia hoje no Brasil suplanta e se coloca acima, muitas vezes, dos próprios poderes institucionais”, observou.
A professora Ítala D’Ottaviano, coordenadora da comissão organizadora das comemorações dos 50 anos da Unicamp, destacou a relevância de debates como estes para o avanço de questões importantes para o país. A coordenadora revelou que os debates Perspectivas Unicamp 50 Anos estão programados para ocorrer até setembro de 2016. A série será constituída de 11 eventos distintos, envolvendo temas atuais com relevância política, econômica, social, cultural, artística e científica, contando com a participação de pesquisadores e intelectuais da Universidade e de outras instituições brasileiras e do exterior.