
Mesmo na paisagem cinza do inverno ou da longa e atípica primavera, as bicicletas fazem parte da paisagem de Vancouver. Uma cidade pequena para padrões brasileiros, mas a oitava maior no Canadá, com pouco mais de 600 mil habitantes e 400 km de ciclovias. Elas estão por toda a parte e fica fácil aderir a este hábito quando o planejamento urbano inclui bikes e ciclistas.

Ao fazer a prova de direção de automóvel, antes mesmo de testar as aptidões pelas ruas, os motoristas precisam saber os sinais de parar, virar à direita e à esquerda dos ciclistas (imagem abaixo). Isso quer dizer que tanto os motoristas de veículos motorizados quando ciclistas precisam seguir as regras de trânsito, se respeitar mutuamente e dar sempre preferência aos pedestres.
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Além de vias exclusivas para as bicicletas, há ruas onde elas têm preferência, com sinalização constante para não pegar nenhum desavisado. Há suportes (racks) para estacionar bikes nas calçadas e estações de aluguel disponibilizadas, desde julho passado, pela empresa de TV a cabo e telefonia Shaw com capacetes, toucas descartáveis e medidor de quilometragem que mantêm os usuários informados sobre a extensão percorrida.
Ciclistas mirins
O eficiente transporte público da cidade, composto por ônibus elétricos e metrôs, possui lugar reservado para as bicicletas, o que auxilia na integração entre transportes e potencializa a cultura da bike na cidade. Assim é possível sair de casa com crianças pequenas, percorrer 4-5 quilômetros até o Parque Queen Elizabeth, fazer um lanchinho para repor as energias e matar a sede num dos bebedouros públicos. E se cansar na volta? Pegue um ônibus! Os motoristas costumam ser gentis para ajudar no trato com o suporte para duas bicicletas que vão bem à frente. Se preferir ir de metrô, alguns vagões possuem áreas espaçosas destinadas aos ciclistas que entram, sem embaraço, mesmo em pleno horário de rush.

Não tem chuva, frio ou escuro que faça os ciclistas desaparecerem. É comum ver pais com seus filhos na garupa, na cadeirinha ou em carrinhos puxados na traseira das bicicletas com os devidos equipamentos de segurança (luz pisca-pisca, adesivos refletores, capacetes e sininhos ou buzinas). Desde pequenas as crianças vivenciam a bicicleta como diversão, transporte e exercício. Pais acompanham seus filhos pelas ruas de Vancouver tornando a cidade um ambiente vívido e harmonioso.
Há ainda lojas de aluguel de bicicletas ou sites onde é possível comprar uma usada. São cerca de 100 mil viagens por dia.
Pedaladas e segurança
O grande número de bikes em Vancouver, que defende o posto de maior cidade de ciclistas da América, traz consigo um problema: os roubos são constantes e dignos de colocar a cidade onde este tipo de crime mais ocorre na América do Norte! Há uma média de pouco mais de 2.200 roubos registrados ao ano, mas com índices crescentes - sobretudo no verão -, superando 3 mil em 2015, segundo dados da polícia divulgados pelo jornal Vancouver Sun.
Para tentar driblar este tipo de crime, a Polícia de Vancouver solicita que os ciclistas cadastrem suas bikes no site 529Garage. Um programa piloto mostrou que dentre 5 mil bicicletas registradas, 16 foram roubadas e 10 conseguiram ser devolvidas aos donos. O programa conta também com um interessante blog que debate questões polêmicas e dúvidas de leitores como qual tipo de cadeado é mais seguro, como comprar uma bicicleta usada sem correr o risco de comprar algo roubado, entre outras.
Algumas organizações criaram aplicativos em que é possível informar o local do crime, o que ajuda a polícia a visualizar áreas de risco, além de facilitar a devolução, em caso de localização. O Van City Bike Watch, por exemplo, identificou em julho uma média de dois casos por dia.
Mas os roubos talvez sejam o principal ponto negativo. Com tantas bicicletas circulando em meio ao tráfego, ocorrem também acidentes, mas os baixos números indicam que a cidade é bastante segura. Para cada 100 milhões de viagens com a bicicleta ocorrem cerca de 21 incidentes com lesões e 14 mortes, de acordo com estatística da ICBC (Insurance Coorporation of British Columbia), seguradora de veículos da provîncia da Colúmbia Britânica, onde Vancouver está localizada. Dito de outra forma, a cidade registra uma média de 5 mortes de ciclistas por ano dentre os pouco menos de mil incidentes registrados.
As universidades fazem também a sua parte promovendo a bicicleta como meio de transporte, seja informando os ciclistas sobre a existência de racks onde possam prender suas bicicletas no campus, como faz a Simon Fraser University (SFU), ou dando dicas e incentivando a comunidade a usá-las como meio de transporte, como a Universidade de British Columbia (UBC).
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A prefeitura fornece o Guia das Ciclovias na cidade que pode também ser acessado online, fundamental para planejar as melhores rotas para o trabalho ou para descobrir novos trajetos pela cidade.
Razões não faltam para deixar o carro na garagem, economizar as tarifas e emissão de carbono do transporte público, colocar o corpo em movimento e redescobrir a cidade. Pena que para fazer essa escolha, na maioria das médias e grandes cidades, não basta a decisão de sentar no selim e sair pedalando. Para uma prática segura e integrada na vida urbana, depende-se também de vontade política, planejamento, investimento em infraestrutura e em educação. Que possamos ter mais Vancouvers e mais ciclistas nas cidades.
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