Prof. Luiz Carlos Dias | Foto: Antonio Scarpinetti

Luiz Carlos Dias é Professor Titular do Instituto de Química da Unicamp, membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico e membro da Força-Tarefa da UNICAMP no combate à Covid-19.

A fila da vacina já está andando em diversos países, mas aqui...

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O Instituto Butantan adiou a data do anúncio da eficácia em fase 3 da CoronaVac, desenvolvida em colaboração com a farmacêutica chinesa Sinovac. A Anvisa concedeu, conforme publicação no Diário Oficial da União de 21/12/2020, o certificado de boas práticas de fabricação para a fábrica da vacina CoronaVac, na China, com validade de 2 anos. Este certificado é parte importante tanto do processo de registro, como de pedido de autorização de uso emergencial dessa vacina.

O Governo Federal finalmente cedeu às pressões e deve mesmo adquirir a CoronaVac, do Butantan, incorporando a mesma ao Plano Nacional de Imunizações (PNI). Embora a compra inicialmente prevista pelo Governo Federal seja de cerca de 45 milhões de doses, o Butantan anunciou que pode oferecer mais 55 milhões de doses, chegando a 100 milhões de doses do imunizante para o PNI ainda no primeiro semestre de 2021. Além do Brasil, Indonésia, Turquia, Chile e a China estão aguardando os resultados de eficácia e segurança em fase 3 e devem vacinar suas populações com o imunizante.

O governo do estado de São Paulo anunciou que vai receber um lote com matéria prima para preparar mais 5,5 milhões de doses no dia 24 de dezembro e terá 10,8 milhões de doses da CoronaVac disponíveis até o dia 31/12/2020.

                        A VACINAÇÃO PELO MUNDO

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SUÍÇA SAI NA FRENTE E AUTORIZA USO NÃO EMERGENCIAL DA PFIZER/BIONTECH

A Suíça é o primeiro país a registrar e autorizar o uso não emergencial da vacina da Pfizer/BioNTech em sua população, baseada nos critérios de segurança, eficácia e qualidade. A Suíça tem 8,6 milhões de habitantes, comprou 15,8 milhões de doses de vacinas, sendo 3 milhões da Pfizer/BioNTech, 7,5 milhões da Moderna e 5,3 milhões da AstraZeneca.

A vacina já foi aprovada para uso emergencial em vários países, entre eles Reino Unido, Estados Unidos, Canadá, Bahrein, Arábia Saudita, México, Chile, Equador e Singapura, sendo que Reino Unido, Estados Unidos e Canadá já iniciaram as campanhas de aplicação do imunizante em suas populações.

OS EFEITOS ADVERSOS DA PFIZER/BIONTECH

Além das duas pessoas com histórico de anafilaxia que apresentaram reações alérgicas à vacina da Pfizer/BioNTech no Reino Unido, outras seis pessoas nos Estados Unidos, entre 272 mil que tomaram a vacina, também tiveram reações alérgicas. Todos passam bem, mas um dos americanos não tinha histórico de alergias graves. Os tratamentos para reações alérgicas e choques anafiláticos normalmente envolvem o uso de corticosteroides, anti-histamínicos, injeções de epinefrina ou de adrenalina.

Uma possibilidade ainda apenas como suspeita e bem especulativa é que as nanopartículas lipídicas (LNPs) a base de polietilenoglicol (PEG) possam ser responsáveis pelas reações alérgicas. O PEG nunca foi usado antes em vacinas, mas é encontrado em vários medicamentos que causam eventos adversos como anafilaxia, mas também em pastas de dente, cosméticos, shampoos e amaciantes. Então é possível que pessoas que já usaram medicamentos contendo PEG, tenham adquirido uma resposta imunológica de anticorpos tipo IgM, IgG e especialmente IgE, que podem causar reações alérgicas como mecanismo de proteção contra PEG, o que poderia desencadear a resposta de anafilaxia.

Tanto a Pfizer como a Moderna, excluíram da fase 3, pessoas com histórico de alergias aos componentes das vacinas. A Pfizer não incluiu pessoas com alergias graves a outras vacinas. Certamente, mais estudos são necessários e o Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos (NIAID) investiga o caso. Isto não impede as campanhas de vacinação, mas pessoas com alergias graves devem estar de sobreaviso.

VACINA DA MODERNA: A FANTÁSTICA PLATAFORMA RNA

A FDA (Food and Drug Administration) americana aprovou a vacina da Moderna, baseada na fantástica plataforma de RNA mensageiro (mRNA) para uso emergencial em maiores de 18 anos. A FDA confirmou que o tratamento tem eficácia de 94,1% e que a vacina não mostra problemas de segurança que impeçam a emissão de autorização para o uso de emergência. O CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) já aprovou e os Estados Unidos terão a segunda vacina aprovada para uso emergencial em sua população (a primeira foi a da Pfizer-BioNTech, também de mRNA, aprovada para uso emergencial em maiores de 16 anos).

A Moderna, que não possui nenhuma vacina aprovada em seu portfólio, planeja disponibilizar cerca de 125 milhões de doses do seu imunizante no primeiro trimestre de 2021, sendo até 100 milhões para os Estados Unidos e até 25 milhões para outros países interessados. A vacina deve ser armazenada em temperatura de 20 graus Celsius negativos.

CHADOX1 + SPUTNIK V JUNTINHAS NO COMBATE À COVID-19?

A empresa farmacêutica AstraZeneca anunciou no dia 21/12/2020, que vai realizar estudos clínicos combinando a sua candidata vacinal ChAdOx1 (AZD1222) com a Sputnik V, vacina da Rússia. A ChAdOx1 usa como plataforma um vetor viral baseado em adenovírus que causa resfriado em chipanzés, enquanto a Sputnik V é baseada em dois adenovírus humanos diferentes, Ad5 e Ad26, que causam resfriado em humanos.

O objetivo é aumentar a eficácia da ChAdOx1, que foi de apenas 62% após a análise interina com duas doses completas, embora a eficácia maior de 90% com uma meia dose seguida de uma dose completa ainda esteja sendo investigada. Segundo os russos, a Sputnik V apresentou 92% de eficácia na primeira análise interina.

A aposta é de que o uso de dois vetores diferentes pode levar a uma eficácia maior do que usar um único vetor viral nas duas doses. A parceria visa avaliar a imunogenicidade e segurança, combinando um dos componentes da Sputnik V com o adenovírus da vacina AZD1222.

A AstraZeneca retirou no dia 10/12/2020 de seu site a previsão de testes da ChAdOx1 em crianças maiores de 5 anos entre os voluntários. A empresa conversa com a Anvisa e espera conseguir aprovação para uso de sua vacina no Brasil em breve. Cerca de 2 milhões de doses da ChAdOx1 serão entregues ao Ministério da Saúde a partir de 08/02/2021, sendo que a previsão é receber 100,4 milhões de doses do imunizante da AstraZeneca ainda no primeiro semestre, segundo a Fiocruz.

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UNIÃO EUROPEIA VAI INICIAR CAMPANHA DE VACINAÇÃO UNIFICADA

Após o início da vacinação contra a Covid-19 no Reino Unido, marco histórico no combate à Covid-19 e para mostrar unidade no enfrentamento à pandemia, os 27 países da União Europeia (UE) vão iniciar campanhas de vacinação unificadas, no dia 27/12/2020, já que a Agência Europeia de Medicamentos (EMA), órgão regulador da UE, aprovou a vacina da Pfizer/BioNTech. O Reino Unido saiu da União Europeia no dia 31/01/2020. Estamos na torcida para que de fato aconteça, pois seria ótimo termos boas perspectivas para começar a esquecer 2020 e o vírus. Só estaremos seguros quando todos estiverem seguros. Sem dúvida, uma das notícias mais gratificantes para trazer a este espaço.

NOVAS VARIANTES DO SARS-COV-2 NO REINO UNIDO

Uma nova linhagem do SARS-CoV-2, batizada de VUI–202012/01, foi detectada recentemente em mais de 60 localidades no Reino Unido, após a identificação de 1.108 casos de Covid-19. Até o momento, pouco mais de 40 países suspenderam temporariamente voos provenientes do Reino Unido. Mas ainda não temos dados concretos que comprovem que essas mutações significam evolução do vírus para ser transmitido mais facilmente entre as pessoas, para se tornar mais virulento ou para causar uma doença mais grave.

Este aumento no número de casos pode estar relacionado também ao relaxamento da população, principalmente mais jovem, não respeitando as medidas não farmacológicas de combate à Covid-19. O comportamento humano durante esta pandemia é preocupante. Os cientistas já observaram milhares de mutações no SARS-CoV-2, mas algumas variações na proteína Spike (espícula), que é utilizada pelo vírus para entrar em nossas células, chamam a atenção. Neste caso, os cientistas observaram 17 mutações no genoma do vírus, sendo 3 delas na proteína Spike. Uma das mutações, conhecida como N501Y, acontece no domínio de ligação ao receptor, que o vírus usa para se ligar à proteína ECA-2 em nossas células e entrar nas mesmas. A outra mutação (H69/V70), já foi observada anteriormente em humanos e nos mais de 10 milhões de visons infectados e sacrificados na Dinamarca.

O governo britânico está reavaliando a estratégia de combate à pandemia em virtude da recente divulgação desta nova cepa do vírus SARS-CoV-2, que poderia ser mais transmissível e ser responsável pelo impulsionamento da disseminação do vírus por lá. Mas fato é que não existem evidências científicas robustas de que a nova variante seja transmitida mais facilmente, que cause uma doença mais grave ou até que inutilize as vacinas.

A variante do SARS-CoV-2 conhecida como D614G, que é dominante no Brasil, é mais facilmente transmitida que a linhagem anterior sem esta mutação. Se a H69/V70 se comportar como a D614G, o impacto será maior na proliferação da doença do que na mortalidade, mas o fato de ser mais transmissível seria suficiente para causar estragos nos sistemas de saúde, pois com mais pessoas infectadas, maior será a procura por tratamento hospitalar em menos tempo.

Uma outra variante do SARS-CoV-2 conhecida como N501.V2 foi detectada na África do Sul e pode ser responsável pela maioria dos casos na segunda onda no país, infectando jovens e pessoas sem comorbidades, que desenvolveram casos mais graves da doença. Esta nova linhagem também foi observada no Reino Unido, pode ter sofrido mais mutações e pode apresentar alta taxa de transmissão, segundo as autoridades britânicas.

Para o vírus se tornar resistente às vacinas sendo desenvolvidas, seria necessária uma mudança muito grande em seu código genético na região da proteína Spike. Fato é que após o início das campanhas de vacinação em massa, para infectar as pessoas que foram imunizadas, o vírus terá que se adaptar e sofrer grandes transformações em sua proteína Spike. Se isto acontecer como um processo natural de evolução do vírus, muito provavelmente nós teremos que atualizar as vacinas, como é feito para a gripe sazonal, mas até agora não há evidências que essas mutações possam prejudicar a eficácia de vacinas em desenvolvimento.

Os vírus de RNA como o SARS-CoV-2 sofrem mutações o tempo inteiro, é normal, então é muito importante realizar vigilância epidemiológica, monitorar o comportamento do vírus, aumentando a capacidade de sequenciamento, para detectar rapidamente formas mutantes que possam causar preocupação. Fato é que quanto mais o vírus se espalhar e circular entre as pessoas, mais pessoas serão infectadas, um número cada vez maior de mutações aleatórias vai ocorrer, sendo que algumas serão vantajosas para o vírus, mas outras não. Neste processo, o vírus pode evoluir.

As vacinas em desenvolvimento produzem anticorpos neutralizantes que vão se ligar a diferentes pontos da proteína Spike do vírus, neutralizando o mesmo. Então, as mutações que não são na proteína Spike não devem atrapalhar as vacinas em desenvolvimento e mesmo as mutações que ocorrerem na proteína Spike, teriam que ocorrer em grande extensão de forma a impedir o reconhecimento da proteína pelos anticorpos neutralizantes. E se isso acontecer no futuro, basta adaptar as plataformas que utilizam fragmentos da proteína Spike, como as de adenovírus e de RNA mensageiro, para preparar uma vacina mais robusta. Ou usar a nova linhagem do vírus, inativada, mas penso que as plataformas de adenovírus e especialmente de RNA mensageiro vieram para ocupar este espaço. A ciência está atenta e com ciência nós sairemos desta pandemia.

VACINA, UM PASSAPORTE PARA O FUTURO

Logo, logo, os países vão exigir a comprovação de vacinação contra a Covid-19. Será tipo um passaporte para o futuro, se quisermos alcançar um mundo sem Covid-19. Se não tem, não entra no país, ou toma uma vacina ao entrar, sentadinho lá no aeroporto. O governo federal publicou no dia 17/12/2020, uma portaria exigindo o exame de RT-PCR negativo para brasileiros ou estrangeiros que quiserem entrar no país de avião. A medida passa a valer a partir de 30/12/2020 e o teste, que deve ser realizado até 72h antes do voo, será exigido ao embarcar.

                       PANORAMA DA COVID-19 NO BRASIL

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OS PRIMEIROS CASOS DE REINFECÇÃO NO BRASIL

O Ministério da Saúde confirmou os dois primeiros casos de reinfecção por Covid-19 e informou que acompanha outros casos com suspeita que foram notificados por secretarias estaduais de Saúde e estão sendo avaliados em 9 estados. Alguns casos suspeitos já foram descartados, pois não atendem ao período mínimo de 90 dias entre a primeira e a segunda infecção, ou não apresentaram resultados de RT-PCR positivos, ou ainda não mostraram linhagens diferentes após o sequenciamento completo do genoma do coronavírus nas duas infecções.

O termo linhagem corresponde a um grupo de vírus que contém várias mutações em comum. O primeiro caso confirmado foi de uma médica do Rio Grande do Norte, de 37 anos, infectada por duas linhagens diferentes do SARS-CoV-2, coletadas em João Pessoa nos dias 23/06/2020 (linhagem B.1.1.33) e a segunda no dia 13/10/2020 (linhagem B.1.1.28), que confirma que são casos novos. O curto espaço de tempo entre a primeira e a segunda infecção, de menos de 4 meses, mostra que a médica não adquiriu proteção em termos de imunidade para evitar a reinfecção. Outro caso de reinfecção foi confirmado pelo Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, após o sequenciamento genético de duas amostras clínicas de uma mulher de 41 anos.

A análise mostrou se tratar de duas linhagens diferentes, sendo que a primeira linhagem, diagnostica em junho, circula apenas no Brasil, enquanto a linhagem responsável pela segunda infecção, 145 dias depois após a primeira, envolve variante que já foi identificada circulando no Reino Unido, Austrália, Chile e nos Estados Unidos. Aparentemente, o processo de reinfecção não é frequente, mas a vigilância genética do vírus precisa continuar.

FAKE NEWS DO FUTURO SOBRE VACINAS

O vírus SARS-CoV-2 é um dos piores inimigos que a humanidade já enfrentou. Mas hoje nós enfrentamos outros inimigos perigosos, como os vírus da desinformação, do negacionismo científico, da ignorância e das narrativas falsas criadas em torno de medicamentos ineficazes no combate à Covid-19 e em torno das vacinas. Eu já comentei aqui, sobre desinformação o movimento antivacinas e fakenews, e que nós seriamos atingidos pela maior onda de desinformação da história. Claramente, os benefícios das vacinas superam os eventuais prejuízos que elas possam causar. No entanto, nós precisamos nos preparar para combater a maior onda de disseminação de mentiras e fake News da história, que vai surgir em torno dos efeitos adversos relacionados a vacinas. O movimento antivacinas vai usar este momento para criar narrativas falsas sobre mortes sendo causadas por vacinas.

Nos próximos meses, no pós-vacinação, pessoas vão morrer de causas naturais, algumas por acidentes, mas falsas evidências fantasiosas e mentirosas serão divulgadas relacionando as mortes com o fato das pessoas terem tomado esta ou aquela vacina. Serão construídas narrativas apelando para coincidências em mortes ou problemas de saúde que apareceram no pós-vacinação, mesmo que já fossem aparecer, com determinadas vacinas. Se uma pessoa que foi vacinada morrer por alguma causa natural, ou acidente, suicídio, câncer, não importa a razão, este movimento criminoso vai espalhar que a pessoa morreu porque tinha chip na vacina, que tinha o vírus que causa HIV na vacina, porque a vacina causou câncer, que foi para fazer controle populacional, que a vacina alterou o DNA e a pessoa ficou doente.

Então, precisaremos estar atentos e antecipar o combate às mentiras destes grupos que usam sua criatividade para promover desinformação porque rejeitam a ciência, motivados por interesses políticos ou religiosos, ou outros interesses nefastos. E para combater este movimento criminoso, precisaremos de muita organização na fase de farmacovigilância, no pós-vacinação e de campanhas de esclarecimento da sociedade.

A JUDICIALIZAÇÃO DAS VACINAS

O mundo está há um ano em meio a uma pandemia que já ceifou a vida de quase 190 mil brasileiros e por mais incrível que possa parecer, estamos às voltas com um processo de judicialização das vacinas. O Superior Tribunal Federal (STF) decidiu que os pais devem vacinar os filhos menores de 18 anos e negou autorização para os pais não vacinarem seus filhos com base em “convicções filosóficas, religiosas, morais e existenciais”.

Outra decisão importante foi a autorização para que governos estaduais e municipais aprovem leis com sanções a pessoas que não tomarem vacinas contra a Covid-19. Estas decisões não poderão ser impedidas pelo Governo Federal. O Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), apresentou uma ação ao STF solicitando "plena vigência e aplicabilidade" da lei nº 13.979/2020, em caso de omissão da Anvisa. Então, uma liminar do ministro do STF, Ricardo Lewandowski, no dia 17/12/2020, autoriza os estados e municípios a importarem e distribuírem vacinas que tenham sido registradas por autoridades sanitárias estrangeiras dos Estados Unidos, China, Japão e União Europeia, caso a Anvisa não cumpra o prazo para avaliar pedidos emergenciais. Isso vale para o governo federal com o plano nacional de vacinação contra a Covid-19.

A Anvisa informou no dia 14/12/2020 que o processo de análise de uso emergencial das vacinas com ensaios clínicos sendo realizados no Brasil será concluído em prazo máximo de 10 dias e que vai trabalhar entre o Natal e o Ano Novo. Segundo a Agência, apenas as candidatas vacinais com testes clínicos de fase 3 sendo conduzidos no Brasil poderão receber a aprovação emergencial. Entre as candidatas vacinais em fase 3, quatro estão sendo testadas no Brasil: a da Pfizer/BioNtech; a da Oxford/AstraZeneca; a da Sinovac/Butantan; e a vacina da Johnson&Johnson.

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MEDIDAS RESTRITIVAS PARA QUEM NÃO SE VACINAR

No país do obscurantismo e do negacionismo da pandemia e da ciência, o STF autorizou, no dia 17/12/2020, os estados e municípios, a adotarem medidas restritivas para quem não se vacinar contra Covid-19, quando vacinas estiverem aprovadas e incluídas no Programa Nacional de Imunizações. O STF (assim como pessoas com um mínimo de bom senso) defende que a saúde coletiva não pode ser prejudicada por decisões individuais. Não são medidas coercitivas, ninguém será forçado a se vacinar, mas haverá sanções para quem não o fizer. A questão é que o STF apenas autorizou, ou deu seu aval para que o presidente da República, os governadores e os prefeitos possam adotar medidas restritivas. O presidente afirmou que não tomará a vacina contra a Covid-19 e chamou de “idiota” quem o vê como mau exemplo por não se imunizar.

É absolutamente inacreditável, a ciência deu uma resposta tão rápida, eficiente e temos vacinas sendo aprovadas para uso emergencial em menos de um ano do início da pandemia, mas neste país algumas lideranças promovem desinformação contra a vacinação. Este é o momento de todas as autoridades abraçarem e demonstrarem apoio incondicional às campanhas de vacinação em massa contra a Covid-19, para que possamos ter a elevada cobertura vacinal que começará a nos tirar da pandemia.

A Constituição brasileira, nos artigos 6º e 196º, diz claramente que a saúde é um direito da população, direito de todos e dever do Estado. Cabe ao Estado brasileiro, garantir o uso de políticas sociais e econômicas com o objetivo de reduzir riscos e combater doenças que afligem a população, matam ou incapacitam, fornecendo o acesso universal e igualitário às ações que tem por objetivo a proteção da saúde da população. Se a vacina mostrar segurança em todas as fases de estudos clínicos e eficácia em fase 3, sendo aprovada, é por quê foi considerada segura para uso, embora restrições com relação a grupos que não possam tomar o imunizante devam aparecer na bula.

A sociedade não vai se auto-organizar, precisamos de lideranças, que o Governo Federal lidere a Nação, mas não para o buraco. Este cenário lamentável está acontecendo, não é ficção, mas parece um daqueles filmes com roteiros bizarros, que deixaria Ed Wood com alguma inveja.

RESPOSTA DE DEFESA DAS VACINAS X RESPOSTA PELA INFECÇÃO NATURAL

As vacinas podem estimular o sistema imunológico a produzir uma resposta de defesa mais eficiente do que a resposta obtida pela infecção natural, com o vírus selvagem. A carga viral ou a quantidade de vírus, assim como as vias de entrada no organismo são diferentes. O SARS-CoV-2, que causa a Covid-19, entra em nosso organismo pelo sistema respiratório e ativa o sistema imunológico, mas a resposta em termos de imunidade de mucosa é menos potente. Uma vez dentro do organismo, o sistema imune pode produzir uma resposta adaptativa humoral com produção de anticorpos neutralizantes e reposta celular, com produção de linfócitos T, as chamadas células TCD4 e as células citotóxicas TCD8, mas cuja duração de proteção ainda não é bem conhecida.

Segundo os dados disponíveis, esta resposta de proteção parece não ser muito duradoura. As vacinas funcionam através da introdução de um corpo estranho em nosso organismo para enganar o sistema imunológico, fazendo ele acreditar que tem um intruso que precisa ser combatido. As vacinas podem estimular o sistema imune a produzir uma resposta mais robusta de produção de anticorpos neutralizantes e de linfócitos T, mas não necessariamente as duas respostas (humoral e celular). As vacinas baseadas em vírus inativados, de adenovírus, assim como as de vírus atenuados ou enfraquecidos, precisam do uso de adjuvantes, que são compostos químicos, alguns à base de sais de alumínio, para reforçar e ajudar na resposta do sistema imune. As vacinas de RNA mensageiro (mRNA) possuem as nanopartículas lipídicas protetoras à base de polietileno glicol (PEG) que podem funcionar como adjuvantes.

Outro ponto importante é que no caso da infecção natural com o vírus selvagem, como no caso do SARS-CoV-2, o nosso sistema imunológico é ativado apenas quando o vírus já entrou no organismo, ele não estava preparado, tendo que dar uma resposta de proteção e combater um vírus que pode já estar causando algum estrago ao infectar nossas células. Com as vacinas, ao inocular um corpo estranho que tenha algumas características do vírus em nosso organismo, o nosso sistema imunológico está sendo treinado para combater aquele intruso, então, quando o vírus real, selvagem, entra nas nossas vias respiratórias, o nosso sistema imune recorda que já viu algo parecido com aquele corpo estranho antes e vai lá combater. É engenhoso.

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CARTILHA DA FIOCRUZ PARA O FINAL DO ANO

Preservar vidas é o melhor presente neste fim de 2020. Não é hora de arriscar. A Fiocruz divulgou um material bem didático e informativo, contendo um plano de convivência com orientações para o final de ano. Mais informações aqui

Eu acrescento, que caso você pense em fazer o teste RT-PCR para se reunir com familiares neste fim de ano, tenha cuidado. Você pode estar infectado, ser assintomático, aí o risco de uma falsa sensação de segurança com um resultado falso negativo é enorme, em virtude da sensibilidade mais baixa do exame nessa situação, que depende até de quando e como o material é colhido. 

Um resultado negativo não quer dizer que você não esteja infectado e não vá transmitir o vírus para seus familiares e amigos. Ninguém pode relaxar nas medidas não-farmacológicas de proteção. Esse negócio de usar o teste RT-PCR como passaporte de segurança não existe. Em caso de teste RT-PCR positivo, aí é isolamento social.

UMA MENSAGEM FINAL

Até o momento, pouco mais de dois milhões de pessoas foram vacinadas contra a Covid-19, em oito países. Eu já disse isso, mas repito, as vacinas, junto com saneamento básico, água potável e esgoto tratado, são nossa melhor estratégia de saúde pública, são a melhor alternativa que a humanidade e a ciência têm para combater doenças que matam ou incapacitam as pessoas.

Ainda não sabemos quais vacinas vão proteger as diferentes populações, então precisamos de todas as vacinas que se mostrarem seguras e eficazes, aprovadas para uso emergencial ou devidamente registradas pela Anvisa. Precisamos sair desta pandemia como Nação. Chega de disputas políticas que colocam em risco a saúde da população brasileira, a hora é de diálogo, de conversa, de equilíbrio e sensatez. Ou o vírus vai continuar entre nós, o ano de 2020 não vai acabar em 2021 e talvez nem em 2022.

O desenvolvimento das vacinas contra a Covid-19 foi reconhecido como o “Avanço Científico do Ano” pela revista científica Science. É sem dúvida, o maior legado desta pandemia. Nós precisamos abraçar a causa da vacinação contra a Covid-19 e combater o movimento antivacinas, o negacionismo científico e o obscurantismo, com CIÊNCIA. A persistirem os sintomas do anticientificismo, os cientistas do bem devem ser consultados. 

Eu ##

Eu encerro as colunas de 2020 neste espaço no Jornal da Unicamp, me solidarizando com os familiares dos quase 190 mil mortos no Brasil por Covid-19 neste ano de desafios para todos nós. 

Desejo a todos e todas que sobreviveram a este ano fatídico, um Natal de paz, luz, equilíbrio, sabedoria, reflexão, serenidade e que 2020 acabe, que não continue em 2021. E que 2021 seja um ano de alento, solidariedade, afeto, empatia, bom senso, esperança, respeito à coletividade e com vacinas seguras e eficazes contra a Covid-19.

E que 2021 seja o Ano Internacional da Celebração à Vida! Fiquem, todas e todos, bem e em segurança.

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