O Ministério da Saúde (MS) enviou ao Supremo Tribunal Federal (STF), no dia 12/12/2020, através do Ofício nº 1499/2020/DATDOF/CGGM/GM/MS, o "Plano nacional de operacionalização da vacinação contra a Covid-19". O plano, incompleto, contém 93 páginas, considera pouco mais de 108 milhões de doses, suficientes para vacinar aproximadamente 51 milhões de brasileiros (considerando cerca de 5-6% de perdas) do total aproximado de 212 milhões de habitantes. Nesta versão, embora ainda não seja prevista uma data de início nem cronograma para a vacinação da população, o plano menciona 13 potenciais candidatas vacinais, entre elas a CoronaVac, vacina sendo produzida pelo Butantan em colaboração com a fabricante chinesa Sinovac. No anúncio anterior, o governo comunicou que faria a imunização entre março e junho de 2021, agora informou que a campanha levará 5 meses, pois prefere aguardar a liberação e aprovação das vacinas por parte da Anvisa.
O plano poderá sofrer modificação até a divulgação oficial para a população brasileira, o que deve ocorrer em breve. O governo federal tem acordos com a AstraZeneca para fornecer 100,4 milhões de doses até julho de 2021; com a Covax Facility, iniciativa da OMS, para fornecer 42,5 milhões de doses e um acordo sendo costurado com a Pfizer para obter mais 70 milhões de doses. O plano prevê vacinação inicial da população prioritária, como trabalhadores da saúde, idosos, pessoas com comorbidades, mas excluiu mais da metade dos indígenas do país e não inclui mais a população carcerária.
No dia 12/12/2020, 36 especialistas que participam do eixo Epidemiológico do Plano Operacional da Vacinação contra Covid-19 e assessoram o governo federal, colaborando na elaboração do plano nacional de vacinação, comunicaram que, embora seus nomes apareçam subscrevendo o documento, não referendaram o relatório final. O grupo técnico afirma que solicitou a inclusão de todas as vacinas disponíveis, preocupação pela retirada de grupos prioritários como a população carcerária e profissionais da educação, inclusão de grupos vulneráveis como ribeirinhos, quilombolas e pessoas com deficiência, mas não teve anuência da versão final e se diz surpreso com a divulgação do plano com suas assinaturas.
Segundo a colega, professora Ethel Maciel, epidemiologista da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), o governo modificou o plano para adequá-lo ao número de doses de vacinas que vai ter à disposição. O governo federal informou no dia 13/12/2020 que os pesquisadores foram convidados para discutir e debater o plano, mas sem qualquer poder de cunho opinativo e de decisão na formalização do documento. No mesmo dia, o Ministério mudou o tom e disse que os convidados foram indicados pelo Programa Nacional de Imunizações para participar de debates, mas que cabia ao PNI o poder de decisão na consolidação e formalização do Plano Nacional de Vacinação contra a Covid-19.
Como o plano apresentado não tem data para início, nem cronograma para operacionalizar a vacinação da população como um todo, o ministro do STF, Ricardo Lewandowski deu no dia 13/12/2020, domingo, prazo de 48 horas para que o ministro Eduardo Pazuello (Saúde), informe uma data de início e de término do Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19. Uma data para início de imunização poderia ser definida, desde que tenhamos a vacina da Pfizer aprovada para uso emergencial aqui. Mas aí precisaria saber quando a vacina chega aqui. Ou marcar data para vacinação com a CoronaVac, desde que mostre eficácia em fase 3. Mas como marcar data de início da vacinação sem aprovação de vacinas pela Anvisa?
Não temos vacina mas, claro, temos a cloroquina e o kit Covid-19
Parece inacreditável, mas o governo federal vai gastar R$ 250 milhões de dinheiro público para fornecer para a população brasileira, os mais de 2,5 milhões de comprimidos de hidroxicloroquina encalhados nos estoques, além do antibiótico azitromicina, medicamentos sem eficácia comprovada no combate à Covid-19 e que podem trazer mais prejuízos do que benefícios à saúde de quem tomar. Estes medicamentos serão incluídos no programa Farmácia Popular, que deve entregar medicamentos de graça ou com até 90% de desconto.
Com o montante de R$ 250 milhões para distribuir este “kit-covid” inútil, o governo poderia adquirir cerca de 13 milhões de doses da vacina de Oxford/AstraZeneca, se aprovada, imunizando cerca de 7 milhões de pessoas. No país do negacionismo científico e do obscurantismo, muitas mortes poderiam ter sido evitadas. Embora o presidente tenha dito a frase “Quem é de direita toma cloroquina. Quem é de esquerda toma Tubaína. Pronto.”; eu penso que todos, independente das opções ideológicas, deveriam tomar a vacina. Nada contra a Tubaína.
A pressão aumenta sobre o Ministério da Saúde
O governo do estado de São Paulo anunciou o início da campanha de vacinação contra a Covid-19 no dia 25/01/2021, embora ainda não tenha vacina aprovada. O Reino Unido começou a aplicar a vacina da Pfizer/BioNTech em idosos e profissionais de saúde no último dia 08/12/2020, enquanto o Canadá e os Estados Unidos iniciaram a vacinação em 14/12/2020. Tudo isso aumenta a pressão sobre o Ministério da Saúde para que ofereça uma opção para imunizar os brasileiros, que apenas espiam tudo da janela, olhando a vacina como um sonho distante. O governo federal receia que pessoas de outros estados viajem até São Paulo ou até ao exterior para se vacinar.
Se o país tivesse líderes de verdade e não projetos pessoais de poder, estaríamos lutando para sair da pandemia como uma Nação. A política tomou conta da questão de vacinação e a situação da pandemia no Brasil tem que melhorar muito para ficar ruim. O Brasil ultrapassou a dolorosa marca de 181 mil mortes por Covid-19, o número de casos vem aumentando em todo o país, o número de capitais com alta taxa de ocupação de leitos de UTI vem crescendo, as filas para testes vem aumentando e em algumas cidades há filas por leitos de UTI. Os países começam a vacinar suas populações, mas o nosso presidente ainda defende o uso da cloroquina.
Planos paralelos de vacinação podem virar uma bagunça
O dever de oferecer vacinas a toda a população brasileira é do governo federal e se os estados entrarem com ações judiciais no STF para garantir a compra de vacinas e a realização de campanhas de vacinação paralelas ao plano do Ministério da Saúde, vai virar bagunça. O governador do estado de São Paulo, afirmou que o estado já tem estoque de agulhas, seringas e equipamentos de proteção individual para aplicar as doses da CoronaVac, mas há notícias de pregões cancelados para aquisição de seringas preocupam.
Outros estados já encomendaram 210 milhões de seringas, numa corrida desenfreada para garantir vacinas da Covid-19. É fato que o Brasil nunca teve um plano, uma estratégia, para, enquanto Nação, combater a crise. O negacionismo científico tomou conta do país, tratamentos sem eficácia científica foram usados e hoje estamos atrás na questão logística para organizar uma campanha eficiente de vacinação em massa. Vamos cobrar para que a Anvisa não atrase a vacinação no Brasil. Não é questão de torcer, mas de ficarmos vigilantes.
Teremos a vacina da Pfizer/BioNTech no Brasil?
A Pfizer informou que aguarda que o governo brasileiro assine o contrato confirmando a compra dos 70 milhões de doses de sua vacina e já alertou que as doses não serão entregues em 2020, em virtude da demora na negociação, mas que cerca de 8,5 milhões de doses podem ser entregues até o final de março de 2021. O CEO da Pfizer Brasil, Carlos Murillo, disse que empresa possui caixas especiais para o armazenamento das vacinas, que podem ser mantidas a temperaturas de -70 graus Celsius com o auxílio de gelo seco, mas lembrou que a logística de distribuição das doses até os pontos de vacinação precisa ser definida pelo governo federal.
Não é possível que o Brasil não vá ter a vacina da Pfizer/BioNTech por não ter refrigeradores que a mantenham a -70 graus Celsius. Nós precisamos de uma verdadeira inovação no PNI, com a aquisição de caixas especiais com gelo seco, geradores ou refrigeradores movidos à energia solar, pois muitos locais distantes e com difícil acesso não têm energia elétrica e muitos locais têm rede de energia elétrica muito instável. Lembrem do recente blecaute no Amapá.
Uma estratégia viável seria instalar super congeladores em pontos centrais nas capitais e nos grandes centros e distribuir as vacinas para áreas mais distantes, sem infraestrutura de refrigeração, com auxílio destas caixas especiais. Mas as transportadoras e os postos de aplicação devem se adequar também e possuir sistemas de refrigeração para manter as vacinas a -70 graus Celsius.
Precisa do registro na Anvisa?
Para ser usada em campanhas de vacinação em massa, uma vacina deve ser aprovada, autorizada e registrada pelo órgão de vigilância sanitária, que no Brasil é a Anvisa. Mas a Lei 14.006 de 28/05/2020, que altera a lei 13.979, editada em 06/02/2020 e aprovada para o período da pandemia da Covid-19, diz que a Anvisa tem prazo de 72 horas para se manifestar sobre a aprovação em forma excepcional e temporária do uso de vacinas que tenham sido aprovadas e registradas por pelo menos uma das autoridades sanitárias estrangeiras, como o FDA (Food and Drug Administration), dos Estados Unidos, a EMA (European Medicines Agency), da Europa, a PMDA (Pharmaceuticals and Medical Devices Agency), do Japão, e a NMPA (National Medical Products Administration), da China.
A vacinação foi iniciada no Reino Unido, a agência de saúde britânica não consta na lista da Lei 14.006, mas os Estados Unidos aprovaram a vacina da Pfizer/BioNTech para uso emergencial e a FDA americana está nesta lista. Assim, se algum desenvolvedor de vacinas solicitar autorização para uso emergencial de vacina aprovada pelo FDA, EMA, PMDA ou NMPA, a Anvisa teria que autorizar ou não, no prazo máximo de 72h e se a agência não se posicionar, a autorização será automática. Uma autorização para uso emergencial permite que as vacinas possam ser aplicadas de forma pontual em alguns grupos da população, como idosos ou profissionais da saúde, em planos públicos de vacinação, mas em princípio não permite vacinação em massa da população e nem na iniciativa privada.
Resta dúvida se as vacinas aprovadas em uso emergencial só poderiam ser usadas no SUS (Sistema Único de Saúde). A agência avalia, no caso de uma crise sanitária como é a Covid-19 e enquanto durar a pandemia, se o benefício do uso emergencial supera os riscos, enquanto o registro só é concedido após a análise dos dados completos de estudos. A Anvisa pode cassar a autorização em caso de eventos adversos graves, falhas na segurança ou na eficácia, sendo que estes devem ser comunicados pelas empresas desenvolvedoras de vacinas no prazo de 24 horas.
Os estudos clínicos de fase 3 continuariam em andamento, mesmo com a autorização de uso emergencial, que não é a mesma coisa que registro definitivo. Apenas a Anvisa e os desenvolvedores de vacinas conversam, os governos não se envolvem. Tanto no Reino Unido, como no Canadá e Estados Unidos, a vacina da Pfizer está aprovada para uso emergencial, o que aqui no Brasil autorizaria o uso em vacinação de determinados grupos, mas não em vacinação em massa, o que na minha opinião é um equívoco. No meio disto, brasileiros estão morrendo. Vamos viver dias surreais à frente, precisando ir para os tribunais para decidir se podemos ou não vacinar e salvar vidas da população brasileira.
A Anvisa é uma autarquia vinculada ao Ministério da Saúde, com 3 diretores sem formação técnica da área colocados lá pelo presidente Bolsonaro. Mas é uma agência de Estado, não é de governo. Nós queremos vacinas! Não existe lógica em esperar que o FDA ou outra das agências regulatórias do Japão, União Europeia ou China conclua o registro definitivo. Milhares de pessoas podem morrer antes disto.
As decisões da agência devem ser de natureza técnica e científica. A Anvisa não pode negar o registro para uso emergencial de um imunizante com segurança e eficácia comprovadas, desde que toda a documentação com os resultados de todas as fases de testes pré-clínicos e clínicos for disponibilizada. O período para análise e decisão deve ser curto e a agência não pode de forma alguma sofrer interferência política do governo federal, sob pena do STF ou a Justiça Federal tomarem providências para rever os atos da agência, fazendo a constituição ser respeitada e cumprida.
Cresce o percentual de pessoas que não pretendem se vacinar
Uma pesquisa do Instituto DataFolha divulgada no dia 12/12/2020, mostra que está crescendo o percentual de pessoas que não pretendem se vacinar contra a Covid-19. Neste momento, cerca 73% dos entrevistados disse que pretende se vacinar, 5% está indeciso e cerca de 22% dos entrevistados não pretendem tomar imunizantes. Em agosto, o percentual que se vacinaria era de 89% contra 9% que não pretendiam se vacinar.
Nós estamos assistindo países como Reino Unido, Canadá, Estados Unidos, México, China, Rússia, vacinando suas populações. Se a cobertura vacinal contra a Covid-19 for baixa, o que eu não acredito, muitas pessoas que não podem tomar as vacinas, como grávidas, mulheres amamentando, pessoas com HIV, com comorbidades graves, pessoas com alguma doença que comprometa o sistema imunológico, ou idosos não protegidos pelas vacinas, vão ficar desprotegidos. Essas pessoas suscetíveis precisam que um grande percentual da população brasileira seja vacinado, para não deixar buracos por onde o vírus possa circular.
Segundo a pesquisa, a vacina CoronaVac, da China, encontra maior resistência da população brasileira, quando comparada com as vacinas produzidas pelos Estados Unidos, Inglaterra e Rússia. O Butantan iniciou uma campanha nas redes sociais e vai investir em propagandas na TV com o objetivo de desmentir notícias falsas, como as que dizem que o imunizante é cancerígeno e altera o nosso código genético. E cada um de nós precisa se engajar em movimentos de conscientização da população brasileira e abraçar a causa da vacinação. Nada é mais importante que as vidas de todos os brasileiros e todas as brasileiras.
Precisamos levar informação correta para a sociedade, reforçar a segurança e a confiança nas vacinas, combater as fake News, a desinformação, a ação dos grupos antivacina, o egoísmo e a falta de empatia e cidadania de quem não quer se vacinar. Nós só estaremos seguros quando todas e todos em nossa volta estiverem seguros e mesmo com as vacinas, teremos muitos meses pela frente com restrições, pois leva tempo para vacinar todo mundo. Então, as vacinas serão parte muito importante e fundamental da solução para o início do fim da pandemia, mas são parte de um todo.
A pandemia de Covid-19 foi comunicada ao mundo no dia 31/12/2019, mas não vai acabar em 31/12/2020. A Covid-19 vai continuar e o ano de 2020 vai continuar em 2021 e nos próximos anos. O vírus está no comando, está controlando o jogo, ainda não está perdendo força, teremos que ter calma, equilíbrio, resiliência. Só com as vacinas nós poderemos deter o avanço do vírus, mas a Covid-19 não vai acabar, não vai desaparecer com elas, então precisaremos manter as ações de distanciamento físico, uso de máscaras, de hábitos de higiene.
Infelizmente, ninguém neste planeta pode fazer previsões muito otimistas enquanto não houver vacinas disponíveis para toda a população mundial, então a vida não vai voltar ao normal imediatamente. As vacinas podem interromper a disseminação e espalhamento do SARS-CoV-2 à medida que mais e mais pessoas forem sendo vacinadas. Por isso precisamos de vacinas com elevada eficácia (acima de 90%), de modo que vacinando uma parcela significativa da população (entre 80-90%), seja possível controlar a circulação do coronavírus, pois ele não encontrará buracos com pessoas susceptíveis como hospedeiros. Se a vacina tiver eficácia menor de 90%, precisaremos de adesão ainda maior da população nas campanhas de vacinação em massa.
O momento em que tivermos a primeira pessoa vacinada contra a Covid-19 no Brasil será outro momento histórico. Eu acredito que as pessoas que hoje hesitam em tomar qualquer uma das vacinas contra a Covid-19 vão repensar e terão uma dimensão e compreensão dos benefícios que as vacinas trazem. Mas precisamos ir para o embate e fazer o máximo para esclarecer a população sobre a ciência por trás das vacinas, levando informações de fontes confiáveis e destacando a importância de uma alta adesão e elevada cobertura vacinal para o início do fim da pandemia. A politização destes imunizantes é muito prejudicial às causas das vacinas, que são bens públicos para todas e todos. Nós precisamos de todas as vacinas para sair da pandemia, é o único meio de olhar para o futuro sem Covid-19, então a ciência não pode ser politizada.
TIRE SUAS DÚVIDAS :
Quem teve Covid-19 precisa tomar vacina?
Pessoas que foram infectadas pelo SARS-CoV-2 não foram incluídas em fases de testes clínicos das candidatas vacinais. Apesar de que provavelmente no futuro isto deva ser avaliado em nova fase de estudos clínicos, quem já foi infectado poderá ser beneficiado com o aumento da resposta do sistema imunológico, respeitando a bula das vacinas e as restrições de grupos lá contidas. Neste momento, é muito importante realizar estudos de soro prevalência, que revelam a duração da imunidade de quem contraiu a Covid-19 ou foi vacinado contra a doença. A FDA e o CDC dos Estados Unidos autorizaram o início da campanha de vacinação em massa com a vacina da Pfizer/BioNTech em pessoas acima dos 16 anos, incluindo pessoas que apresentam anticorpos e foram infectadas pelo SARS-CoV-2.
Crianças e gestantes poderão ser vacinados?
Crianças e adolescentes com menos de 16 anos não pertencem ao grupo de risco e assim como gestantes e mulheres amamentando, não foram incluídas em fases de testes clínicos da maioria das candidatas vacinais, a não ser a vacina da Pfizer/BioNTech, que testou um braço envolvendo maiores de 12 anos. É preciso esperar a bula e os planos de vacinação para termos previsão de quando serão aprovadas para jovens acima de 12 anos. Estes grupos serão incluídos após estudos mais prolongados sobre a segurança e eficácia de cada uma das vacinas e na fase 4 ou de farmacovigilância.
Podemos tomar duas doses de diferentes vacinas?
Ninguém pode tomar uma primeira dose de uma vacina e uma segunda dose de outra vacina de outro fabricante. Ou seja, caso mais do que uma vacina esteja disponível para escolha, todos devem tomar a segunda dose da mesma vacina injetada na primeira dose. As diferentes vacinas, com diferentes plataformas vacinais ou não, não foram estudadas de forma combinada em fases 1, 2 e 3, então não devem ser tomadas juntas. Para serem usadas doses 1 e 2 de diferentes vacinas, estas devem antes ser testadas em fases 1, 2 e 3. Como as diferentes candidatas vacinais não foram estudadas em combinação em estudos clínicos, nós não temos informações sobre a segurança, os efeitos adversos e a eficácia ao combinar doses de diferentes vacinas.
A primeira dose é o que a ciência chama de “prime boost”, que serve para alertar o sistema imunológico contra o corpo estranho contido naquela dose da vacina, serve como primeiro contato do sistema imune com a informação genética das proteínas Spike (espícula) do SARS-CoV-2, gera uma resposta imunológica, mas precisa da segunda dose para dar uma resposta mais robusta. Nós temos que fazer campanhas de conscientização para mostrar para a população a importância de tomar a primeira dose e voltar para tomar a segunda dose da mesma vacina.
Não podemos esquecer que quem tomou a primeira dose tem que voltar para a segunda dose dentro do período estipulado de 14, 21, 28 ou 56 dias, dependendo da vacina. As pessoas podem achar que por quê já tomaram uma dose estarão protegidas, mas não estão. Se demorarem a voltar, fora do prazo estabelecido, terão que tomar as duas doses de novo, então vai faltar vacina. O Brasil vai precisar de um sistema de informatização muito bem organizado para registrar os dados da pessoa, qual vacina tomou, a data da primeira dose, efeitos adversos, enfim que possa armazenar todas as informações. E que cada pessoa leve consigo um comprovante com os dados da vacinação. Caso a pessoa esteja na mesma cidade, volta ao mesmo local de vacinação, mas se no dia de tomar a segunda dose a pessoa estiver em outro local, outra cidade, se contarmos com uma estrutura informatizada bem organizada, não será problema.
ATUALIZAÇÕES SOBRE O ANDAMENTO DAS VACINAS
BNT162b2 – A vacina da Pfizer/BioNTech
O Reino Unido anunciou o início da vacinação de sua população com a vacina BNT162b2, da Pfizer/BioNTech, no dia 08/12/2020, de forma gratuita, como destacado neste artigo. A FDA (Food and Drug Administration) dos Estados Unidos comunicou que a BNT162b2 atende aos critérios legais para aprovação, que os dados disponíveis fornecem evidências claras de que a vacina apresenta eficácia na prevenção da Covid-19 e aprovou a liberação do uso emergencial da vacina. A autorização foi baseada na ciência e, após aprovação do CDC (Centro de Prevenção e Controle de Doenças), os Estados Unidos iniciaram a vacinação com a BNT162b2 em pessoas acima de 16 anos no dia 14/12/2020.
A enfermeira Sandra Lindsay, da Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Hospital Judaico de Long Island, foi a primeira pessoa vacinada nos Estados Unidos. O México se juntou ao Reino Unido, Estados Unidos, Bahrein, Canadá e Arábia Saudita e aprovou a BNT162b2 para uso emergencial, comprou 34,4 milhões de doses e vai iniciar a vacinação de 125 mil funcionários da área da saúde até o final de dezembro. Todos estes países estão adequando suas redes de frio com a compra de congeladores, refrigeradores portáteis e os aparatos necessários de refrigeração, com o objetivo de receber e distribuir a BNT162b2. É a Ciência salvando vidas. Notável!
Como duas pessoas com histórico de alergia grave e que carregam consigo uma caneta com adrenalina injetável tiveram uma reação anafilática com a primeira dose da vacina BNT162b2 no Reino Unido, a restrição ou contraindicação para que pessoas com alergias graves não tomem a vacina é uma medida de precaução necessária e que ajuda a garantir a segurança e a confiança da população na mesma. As duas pessoas receberam o tratamento adequado e passam bem. A anafilaxia é considerada o grau mais grave entre as reações alérgicas e é preciso investigar qual componente da vacina causou a reação adversa nas duas pessoas. É preciso acompanhar os vacinados após tomarem a vacina, pois os efeitos adversos normalmente ocorrem no período até 45 dias após a administração da dose.
BNT162b2 - Tudo começou com a cientista Katalin Karikó
A BNT162b2, a primeira vacina de RNA mensageiro aprovada no mundo, foi desenvolvida com tecnologia estudada pela cientista húngara Katalin Karikó, que, mesmo lutando contra um câncer e tendo vários pedidos de financiamento para as suas pesquisas negados, deu uma das contribuições mais fantásticas na história da ciência. As vacinas de RNA mensageiro vieram para ficar e vão revolucionar nossa maneira de produzir as vacinas do futuro.
CoronaVac
Mesmo sem confirmação de eficácia em fase 3, o Instituto Butantan começou a produzir a CoronaVac no dia 10/12/2020. O Butantan poderá produzir até 1 milhão de doses por dia. O governo de São Paulo acredita que a Anvisa vai aprovar a CoronaVac, até o dia 15 de janeiro, mas a previsão de envio dos resultados de fase 3 por parte do Instituto Butantan para a Anvisa mudou do dia 15/12/2020 para o dia 23/12/2020. O Butantan pretende apresentar os resultados completos de fase 3 e solicitar o registro do imunizante chinês na Anvisa, pois o estudo atingiu um número de contaminados maior que os 151 contaminados previstos no protocolo e necessários para considerar o estudo completo.
Ao mesmo tempo, a biofarmacêutica chinesa Sinovac entrará com pedido de registro na NMPA (Administração Nacional de Produtos Médicos), o que obrigaria a Anvisa a analisar em 72h o processo e autorizar, ou não, o uso por aqui, lembrando que a agência de vigilância sanitária da China faz parte da lista citada anteriormente, prevista na lei 14.006. Se a CoronaVac apresentar boa eficácia em fase 3, bingo! Boa cartada. O Ministério da Saúde se manifestou garantindo que não vai haver confisco ou requerimento de vacinas produzidas no país ou importadas via medida provisória, até porque seria uma medida considerada inconstitucional pelo STF.
Sputinik V – A vacina russa
O Instituto Gamaleya anunciou no dia 14/12/2020 que a Sputnik V, tem uma eficácia de 91,4%, 21 dias após o recebimento da primeira dose da vacina ou do placebo, segundo relatório da fase 3. Os resultados ainda não foram publicados em revistas de circulação internacional e não foram avaliados por outros cientistas. A análise interina registrou 78 eventos, ou 78 pessoas infectadas com a Covid-19 entre 22.714 voluntários que participaram dos testes. Entre as 78 pessoas infectadas, 62 estavam no grupo placebo, que teve 20 casos graves registrados, enquanto 16 voluntários infectados estavam no grupo que tomou a Sputnik V, que não apresentou nenhum caso grave, o que é excelente.
Esta eficácia de 91,4% foi alcançada, pois do total de 22.714 voluntários no ensaio clínico, foram observados 62 voluntários infectados no grupo de 5.682 pessoas que recebeu o placebo [(62/5.682) x 100 = 1,09%] e 16 voluntários infectados no grupo de 17.032 voluntários que recebeu a vacina [(16/17.032) x 100 = 0,094%]. Chega-se à eficácia ao fazer a continha: [1 – (0,094/1,09)] x 100 = 91,4%. Isto quer dizer que ao tomar a vacina, 91,4% ou 15.567 pessoas do grupo de 17.032 voluntários que recebeu a vacina estaria protegido.