No começo desse mês foi anunciado que, pela primeira vez em 380 anos, Harvard tem em 2017 uma maioria não branca de calouros. A notícia saiu no sítio da BBC, no qual aparece um tópico relacionado que desperta a curiosidade: um vídeo sobre a defesa de uma tese de graduação, nosso bom e velho trabalho de conclusão de curso, no formato de rap, graduando o candidato com honras. A matéria completa está na Harvard Gazette, mas a notícia foi reproduzida no G1 e na página da Universidade do Porto, para a qual o estudante Osama Shaw, estudante do curso de Língua e Literatura Inglesa da universidade estadunidense deu entrevista.
O projeto realizado conta com 10 músicas, totalizando 36 minutos (Ouça o álbum/tese de Shaw no Soundcloud), que busca representar os “problemas centrais em questões como o racismo e o legado da escravatura”. Shaw se inspira nos “Contos de Cantuária” de Geoffrey Chaucer, cânone da literatura inglesa do século XVI. Ainda segundo o Jornalismo Porto Net: “Obasi rejeitou os padrões convencionais e decidiu inovar no modo de elaboração da tese: em vez de escrever sobre rap, fez da literatura inglesa um álbum de rap. Isto foi possível porque, segundo o estudante, o departamento de Inglês em Harvard ‘permite aos estudantes escrever teses criativas, o que geralmente leva à criação de projetos como peças de teatro, livros de poesias, coletâneas de pequenos contos, entre outros’”.
Isso não é assim tão inédito. Uma tese de doutorado já foi apresentada na forma de Histórias em Quadrinhos por Nick Sousanis, doutor em Educação pela Universidade de Colúmbia. A tese virou livro, que foi traduzido para o Português com o título “Desaplanar” (editora Veneta) e lançado no Brasil na semana passada. O autor deverá vir ao Brasil para a quarta edição das Jornadas Internacionais de HQ, que acontece agora em agosto. É interessante lembrar que desse lado do Equador temos um precursor interessante. A artista plástica Renina Katz, defendeu seu doutorado, intitulado “Lugares” e composto de 13 litografias em 1982, sendo a primeira tese não verbal defendida na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.
Costa Oeste
Voltando ao universo do áudio, a Universidade da Califórnia em Berkeley traz uma notícia legal em relação ao Dia Internacional dos Povos Indígenas, comemorado na semana passada. Um grupo de pesquisadores dessa universidade conseguiu recuperar e preservar digitalmente uma série de gravações raras de línguas indígenas, feitas, em alguns casos, há mais de 100 anos, em cilindros de cera.
São registros de 78 línguas indígenas da Califórnia. Em vários casos são os únicos registros de línguas que já não têm mais falantes. O projeto é liderado por um linguista, mas a técnica de escaneamento óptico não invasivo vem dos laboratórios de Física da mesma universidade. É um trabalho, portanto, interdisciplinar, e bastante meticuloso, afinal são mais de 2700 cilindros gravados e em péssimo estado de conservação.
Segundo o linguista Andrew Garret é a possibilidade de “uma repatriação digital de uma herança cultural para as pessoas e as comunidades que criaram esse conhecimento”, ao mesmo tempo em que possibilita o “acesso dessa herança à academia”. Mais no vídeo no post da “Berkeley News”. Interdisciplinaridade é isso, ainda que apenas uma gota no oceano, pois os povos indígenas falam a grande maioria das 7.000 línguas existentes e representam cerca de 5.000 culturas diferentes.