Por Edwiges Maria Morato*
Observando a trajetória de 40 anos da Editora da Unicamp vemos bem que, de diversas maneiras, ela tem representado o ambiente universitário plural e diverso da Unicamp.
Creio que se trata de uma trajetória com muitos elementos positivos, resultado de esforços institucionais e pessoais variados, diferentes estilos e formas de gestão, distintas formas de interação com o meio editorial e com o universo livreiro e a comunidade interna e externa à Unicamp, variados desafios e demandas postos para a Universidade.
Nessa altura de sua existência, a Editora da Unicamp constituiu-se uma referência no âmbito nacional e no internacional. Conta com um catálogo diversificado e intelectualmente estimulante, que integra erudição e inovação na discussão em torno de uma agenda científica contemporânea e de grande relevância formativa e social, em diferentes domínios do conhecimento.
Nesses 40 anos, muitas e variadas foram as circunstâncias políticas e socioeconômicas que afetaram a universidade pública, muitas as nuanças das gestões desenvolvidas na administração da Unicamp. Isso tudo colaborou, ao longo do tempo, para a construção de perspectivas distintas e, muitas vezes, complementares das funções e características de uma editora de universidade pública. Muitos foram também, nesse período, os cenários do mercado editorial – que viu crescer o interesse pelos livros digitais e por livros acessíveis, bem como por políticas que integram as formas de incentivo à leitura e à cultura do livro, como a do acesso aberto.
Assim é que ela vem, em termos editoriais, percorrendo políticas de publicação que vão dos livros didáticos de alcance educacional amplo a obras de disseminação de pesquisas universitárias de ponta, passando pelas traduções de clássicos e de autores contemporâneos, bem como pela produção de livros de divulgação científica e de introdução ao pensamento científico; em termos administrativos, vem se institucionalizando cada vez mais, tornando-se comercialmente consistente; em termos organizacionais, vem profissionalizando sua equipe e aprimorando os procedimentos editoriais; em termos de políticas de atuação, vem alinhando sua existência com a da própria Universidade, por meio da comunicação e compartilhamento de seus objetivos e iniciativas, de forma a convidar a comunidade universitária e a população a nelas se engajarem.
Nas esferas acadêmica e cultural, vemos crescer as iniciativas da Editora da Unicamp voltadas ao estímulo e o acesso à leitura, à cultura do livro e à experiência de cidadania. Entre tais iniciativas, podemos mencionar a abertura da Livraria da Editora, as campanhas de doação de livros para o incremento de bibliotecas públicas e de organizações não governamentais sem fins lucrativos do estado de São Paulo, a condução de políticas que visam à acessibilidade e à aquisição dos livros produzidos e comercializados pela Editora, a participação formativa na graduação e na Pós-graduação - seja por meio de uma qualificada produção editorial, seja por meio de ações culturais promovidas em conjunto com diferentes instâncias da Universidade.
Hoje com mais de 600 livros de elevado padrão editorial disponíveis no catálogo, a Editora da Unicamp recebe propostas espontâneas encaminhadas do Brasil e do Exterior, além de prospectar obras por meio de editais específicos e de Séries e Coleções temáticas, cuja abrangência pode ser apreciada em nosso site institucional. Fazem parte desse catálogo obras que abordam temas de grande relevância da agenda científica contemporânea, obras clássicas e inovadoras no campo da ciência, da arte e da literatura, livros de caráter didático, Coleções e Séries temáticas, coletâneas de redações do vestibular da Unicamp. Por meio de iniciativas editoriais próprias ou em cooperação com editoras nacionais e estrangeiras, públicas ou privadas, a Editora da Unicamp tem veiculado conhecimento de amplo espectro sociocultural. A qualidade de sua produção acadêmica, editorial e gráfica tem rendido à Editora da Unicamp inúmeros e significativos prêmios.
O espectro da relevância acadêmica, científica e cultural do livro universitário alargou-se muito nos últimos tempos, o que tem levado as editoras das universidades públicas a se engajarem em iniciativas que não apenas competem com a iniciativa privada no terreno editorial, mas que driblam o cerco das sucessivas crises econômicas e da falta de políticas públicas de apoio ao livro e à produção editorial nos últimos anos. Suas ações, para além da produção e comercialização do livro, voltam-se também para o incentivo à leitura e o acesso ao livro, para o enfrentamento dos ainda baixos índices de leitura no País.
Resiliente e essencial para a vida universitária, como o próprio livro, a escrita e a prática da leitura, a Editora chega aos 40 anos com características de maturidade e aberta, em função de sua vocação universitária, a novos desafios.
Essa abertura a um sentido de futuro tem sido exibida pela Editora da Unicamp ao longo de sua história, de diversas maneiras. Em termos editoriais, ela percorreu diferentes e não excludentes trilhas, caminhando do interesse por livros didáticos de alcance educacional amplo a obras derivadas de pesquisas universitárias de ponta, passando pela tradução de clássicos e autores de grande interesse contemporâneo, livros de divulgação científica e de introdução ao conhecimento universitário; em termos administrativos, ela foi ganhando qualificação profissional e institucionalizou-se cada vez mais, convivendo com regimentos e diretrizes que orientam seus procedimentos editoriais, comerciais e financeiros; em termos institucionais, em consonância com valores da Universidade, empenhou-se, com conselhos editoriais atuantes, na excelência de sua produção e na interação com o público.
Ainda que tenhamos no Brasil excelentes editoras universitárias, o cenário desse nicho editorial tem sido de resiliência e de resistência diante da falta de políticas públicas permanentes em torno do livro e da leitura, bem como das intempéries de ordem socioeconômica que têm marcado a história recente do País.
Entre os desafios mais gerais, podemos mencionar, sobretudo em relação à produção e à distribuição de livros digitais, o incremento do impacto das editoras universitárias no mercado do livro no Brasil. Também podemos mencionar a relação entre os limites e os alcances de diferentes tipos de gestão institucional das editoras universitárias, bem como o enfrentamento de tendências que procuram reduzir a editoração universitária a um tipo de atividade de mercado ou reduzir a importância do livro como veículo essencial de disseminação do conhecimento. Em termos mais específicos, pensando na Editora da Unicamp, podemos mencionar o desafio representado pela expansão do seu catálogo e de suas condições estruturais, administrativas e profissionais, bem como a manutenção de sua autonomia editorial, do apoio institucional recebido e de sua saúde financeira e comercial. Também constitui um desafio – permanente - o diálogo com a comunidade universitária e com a sociedade de uma forma geral. Esse diálogo, baseado na atenção aos temas de relevância científica e cultural do nosso tempo, é importante para uma contribuição decisiva da Editora na formação não apenas acadêmica, mas cultural e política de seus leitores.
* Edwiges Maria Morato é professora do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) e diretora da Editora da Unicamp