Conflitos e Invasões

JU - Qual deve ser o papel do reitor frente a situações de conflito na comunidade interna, como a ocupação da Reitoria e as desavenças entre docentes e estudantes que ocorreram em 2016?

Foto: Antonio Scarpinetti

Marcelo Knobel – A Unicamp vivenciou em 2016 um cenário complexo de conflitos internos que não podem ser minimizados ou tidos como resolvidos. Além dos desafios de natureza orçamentária, portanto, a próxima administração terá que lidar com o clima tenso ainda presente na Universidade. Os efeitos dessa tensão não foram devidamente compreendidos nem enfrentados pela atual gestão, gerando, em parcela significativa da comunidade, uma sensação de falta de governança, de abandono, de falta de capacidade de mediação e de estímulos para a boa convivência nos campi, e de falta de reconhecimento da importância da missão da Universidade.

Por isso mesmo, é urgente restabelecer o clima de tranquilidade para as atividades acadêmicas e de normalidade nas relações interpessoais na Universidade. Para isto é necessário enfrentar com determinação as crises financeira e política na sua profundidade, suas dimensões internas e externas e seus horizontes de solução no curto, médio e longo prazo. O reitor tem que ser a liderança a coordenar o processo de reconstrução das relações interpessoais e recuperar, com a serenidade necessária, um ambiente acadêmico marcado pelo respeito mútuo entre estudantes, docentes, funcionários e gestores. Para isso, o diálogo tem de ser permanente, efetivo, franco e honesto, rejeitando qualquer tipo de jogo de aparências, e sobretudo tem de se basear nos princípios fundamentais de respeito à pluralidade de ideias que devem prevalecer em uma instituição como a Unicamp.

A reconstrução do ambiente universitário sereno exigirá, portanto, novas e efetivas ações que valorizem o debate genuíno e democrático, com envolvimento e participação de todos, sobre os múltiplos assuntos da pauta política e acadêmica, preservando e visando sempre tornar ainda melhores as atividades de ensino, extensão e pesquisa, que constituem nossa função e bem mais precioso.

Garantimos que na nossa gestão não haverá espaço para decisões monocráticas. Queremos construir uma Unicamp que seja um espaço de debate contínuo e profícuo, de alto nível, que a qualifique para seu contínuo desenvolvimento.

Foto: Antonio Scarpinetti

Luís Alberto Magna Canais permanentes de diálogo com todos os setores da Unicamp são o único meio eficaz de evitar esses conflitos, pois manifestações deixam de ser necessárias: as reivindicações estarão permanentemente em discussão e soluções encaminhadas, com a participação permanente das Unidades. Daí a importância da Diretoria Executiva, necessidade imediata para a Unicamp. Assim, reitor e diretores estarão, o tempo todo, sintonizados e prontos a responder, de acordo com a pertinência e o mérito das reivindicações, de maneira racional e pacífica, sem transtornos para a vida nos campi.

No entanto, caso manifestações venham a ocorrer, é necessário separar o quê se reivindica do como se reivindica. Manifestações legitimamente conduzidas e que não cerceiam os direitos de cada indivíduo ou parcela da comunidade são constitucionalmente previstas e garantidas; no entanto, ultrapassados os limites do previsto no ordenamento jurídico brasileiro, não podem ser toleradas e serão confrontadas nos limites da lei, preservando o interesse público acima de tudo.

Foto: Antonio Scarpinetti

Leo Pini – Antes de tudo, a ocorrência repetitiva de iniciativas de invasões de prédios administrativos e salas de aula por minorias, sem qualquer representatividade no âmbito da Unicamp, é fruto de uma visão e reações equivocadas de nossas administrações centrais e de parte de nosso corpo docente. Estes atores deveriam atentar para o fato de que nossa instituição deve educar, em seu entendimento mais amplo. Em 2016, a administração superior observou, atônita e imóvel, o agravamento de uma situação inicialmente causada por eventos alheios à nossa Universidade. Reitor e pró-reitores devem tratar questões dessa natureza com brevidade, e amparados em nossa legislação, não transigindo nem fazendo concessões que em nada engrandecem a Universidade. Transparência de todas as ações e acordos é uma necessidade absoluta.

Foto: Antonio Scarpinetti

Antonio FonsecaNunca estarei nesta situação, visto que não serei reitor, entretanto, pondero que nestes casos deve-se impedir, de modo pacífico, o fluxo de trânsito de entrada na unidade ocupada. Os que quiserem sair que o façam de modo civilizado, e sem punições caso não tenham danificado o patrimônio público, e com ressarcimento dos danos no caso contrário. Não se deve estimular a invasão permitindo entrar colchões e alimentos para dar suporte ao evento por tempo ilimitado, como ocorreu nesta gestão. O canal do diálogo deve sempre estar aberto e a autoridade do reitor, se legítima, deve ser respeitada.

Foto: Antonio Scarpinetti

Rachel Meneguello – Não é demais repetir o que temos apontado nos vários documentos que já apresentamos à comunidade universitária, afirmando que um dos principais valores que orientarão nossa gestão é a preservação do terreno democrático das relações de convivência entre professores, funcionários e alunos. A Universidade é o lugar, por definição, do argumento, do debate, do diálogo, e são eles que devem conduzir as práticas cotidianas. Da mesma forma, o respeito é o que dará harmonia entre as diferentes opiniões e garantirá a solução de problemas e constrangimentos.

Dentre os vários problemas que provocaram as situações ocorridas em 2016, nosso diagnóstico aponta que a falta de informação acessível à comunidade universitária, sobre os problemas decorrentes da necessidade do contingenciamento orçamentário, aliada à falta de comunicação mais intensa e regular da administração central com os alunos, sobre problemas objetivos, sobretudo relacionados à permanência estudantil, foram componentes importantes das mobilizações. 

A Reitoria precisa aproximar-se da comunidade universitária através de canais de comunicação que intensifiquem a informação sobre a gestão e amplifiquem o contato com professores, alunos e funcionários. O diálogo com a comunidade é o principal mecanismo de prevenção dos conflitos e solução de problemas.

As situações de greve e movimentação política podem evoluir para cenários de maior ou menor intensidade nas manifestações ou mobilizações. O fato é que não existe fórmula que preveja comportamentos, e as formas de ação política recentes adquiriram variações próprias da política contemporânea. Certamente, isso não significa que a Universidade deva acompanhar a impunidade quando comportamentos violentos ou contrários à convivência respeitosa ocupam o espaço da mobilização política legítima. Nesse sentido, a Unicamp possui regras que pautam o comportamento na Universidade, que garantem a integridade das pessoas e do patrimônio e que devem ser respeitados igualmente por docentes, funcionários e alunos. Ao mesmo tempo, o(a) reitor(a) responde como autoridade pública sobre o patrimônio da Universidade, e não pode esquivar-se das responsabilidades legais.

Mas somos enfáticos ao afirmar que não há lugar no campus para a repressão e para a polícia, quando se tratar de manifestações e mobilizações políticas legítimas de entidades e grupos que compõem a comunidade universitária.  As trajetórias administrativas das gestões anteriores, e desta atual gestão, preservaram um vetor fundamental da autonomia universitária, que é a capacidade de solução pela própria instituição dos seus problemas internos. Esse vetor nós vamos preservar.

O que a próxima gestão fará será tomar todas as medidas possíveis para evitar que as greves de estudantes, professores e funcionários se repitam em 2017, tendo como método o diálogo regular e democrático, e a negociação.

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