Por Juliana Sangion (Especial para o Jornal da Unicamp)
Fotos: Felipe Bezerra
Darlene quer cursar Sistemas de Informação, Ivo busca uma vaga em Ciências Econômicas, e Adenilva sonha estudar Medicina. Todos fizeram a prova do Vestibular Indígena Unicamp/UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), no domingo (22), em São Gabriel da Cachoeira (AM), uma das seis cidades onde a Comissão de Vestibulares da Unicamp (Comvest) aplicou a prova. Com dois locais de exame, São Gabriel da Cachoeira registrou o menor índice de abstenção desta que é a quinta edição do Vestibular Indígena para a Unicamp: 43,7%. Dos 1.116 inscritos, 672 compareceram para realizar a prova. A abstenção geral, considerando todas as cidades de aplicação, ficou em 51,6%, segundo a Comvest.
Ivo Junior, da etnia Baré, escolheu o curso de Ciências Econômicas e disse que decidiu prestar a prova porque conhece pessoas que foram aprovadas e estão estudando em Campinas. “O vestibular é uma boa oportunidade para quem se interessa em sair daqui para conhecer novos lugares”. Quanto à adaptação em Campinas, caso seja aprovado, Ivo afirmou que está tranquilo. “Sei que pode ser um pouco complicada no início, mas nem tanto, porque já conheço algumas pessoas lá”, disse.
Saber da aprovação de outros estudantes da mesma região foi um dos fatores que motivaram a Darlene Almeida, da etnia tariano, a fazer o Vestibular Indígena. “Alguns amigos já passaram, e está tudo certo com eles. A adaptação é algo diferente para nós, mas quero muito ser aprovada!”, contou Darlene.
A abstenção próxima dos 50% está dentro da média dos últimos anos, de acordo com a Comvest. Para o diretor da Comissão, José Alves de Freitas Neto, essa é uma característica do Vestibular Indígena. Apesar deste fato, Alves destacou que, neste ano, a Comvest registrou, em números brutos, um recorde de estudantes que fizeram a prova: 1.743. “É um desafio enorme do ponto de vista logístico, dos esforços e deslocamentos que temos que fazer para chegarmos mais perto dos estudantes indígenas, em cidades como São Gabriel da Cachoeira, Tabatinga, Dourados e Recife. Eles também se esforçam muito para chegar até os locais de prova”, afirmou.
Adenilva Silva de Sousa contou que achou a prova bem elaborada, principalmente em relação às questões sobre os movimentos indígenas. Ela disse que escolheu, para escrever a Redação, a proposta sobre os incêncios na Amazônia. “Achei a proposta bastante relevante para quem acompanha o movimento indígena, como eu, que gosto da área de meio-ambiente. Fiz ensino médio técnico em meio-ambiente, então já tinha familiaridade com o tema”, disse.
Elaborar questões e propostas de redação que considerem a realidade indígena é uma característica da prova. De acordo com Márcia Mendonça, coordenadora acadêmica da Comvest, a prova foi pensada para dialogar com dois principais aspectos. “Pensamos tanto na diversidade de comunidades indígenas que existe no Brasil, como nas realidades escolares. Esses alunos são egressos de ensino médio, então temos a preocupação de tratar dos conteúdos e habilidades trabalhados no ensino médio, como para qualquer estudante brasileiro, mas também a de fazer uma prova que pense a diversidade étnica que temos aqui”, afirmou a coordenadora, que também participou da aplicação na cidade de São Gabriel.
Já em Recife, o exame foi acompanhado pelo diretor da Comvest. “Pude observar a mobilização dos estudantes. Foi uma prova bastante emocionante, pois, antes do seu início, houve uma fala de um estudante indígena que acabara de concluir sua graduação na Universidade Federal de São Carlos. Ele enalteceu o espaço da universidade e a necessidade de os indígenas ocuparem esse espaço”.
José Alves ressaltou o momento histórico que o Brasil vive em relação aos povos indígenas. “O país tem atravessado uma reflexão muito dura em relação aos povos indígenas, e a fala do estudante da etnia pankararu é muito importante, no sentido de apontar que muitas pessoas ainda não querem que os indígenas ocupem certos espaços, como o das universidades. Portanto, a Unicamp e a UFSCar sinalizam, por meio desse vestibular, que essas instituições estão abertas aos estudantes indígenas”, disse.
A lista de aprovados em primeira chamada será divulgada no dia 13 de fevereiro, na página da Comvest na internet. Estão previstas até cinco chamadas para matrícula.
