A segunda fase do Programa se encerra em 2020. “Essa é umas das metas para discutirmos na avaliação de 2017. Iremos novamente avaliar a possibilidade e a necessidade de continuidade”, afirma Joly, referindo-se aos próximos passos. Para o coordenador, os trabalhos não estão finalizados. “É preciso ainda, por exemplo, estabelecer relações com os saberes tradicionais, que considero uma base de conhecimento fantástica. O que desejamos é resgatar esse conhecimento e integrá-lo. Não é só reconhecer que ele existe, mas compartilhar essas informações, respeitando o direito de quem a detém. Nós não tivemos grandes avanços nesse sentido e precisamos retomar essa conversa”, afirma. Dentre outros pontos, o pesquisador levanta a necessidade de ampliar a interação entre o conhecimento já adquirido, a conservação da biodiversidade e as áreas de ciências humanas e sociais.
Em 2012 foi criada a Plataforma Intergovernamental de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES) que, semelhante ao Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), produz relatórios periódicos. Os pesquisadores brasileiros têm participado ativamente e identificado grandes lacunas. “Talvez isso nos ajude a pensar como olhar para frente”, afirma Joly. As decisões futuras do Biota também levarão em consideração os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, que fazem parte dos Objetivos para o Desenvolvimento do Milênio, acordados por diversos países em 2015 na Cúpula da ONU, em Nova Iorque, e a própria comunidade científica.
“É notável o avanço do Programa ao longo dos anos. Gerar conhecimento acerca de uma biodiversidade ainda pouco conhecida é vital para que o país seja liderança em pesquisa na área. Ao passo que há uma produção de Ciência básica de qualidade, há geração de conhecimento e melhora na educação. E o que o país precisa é de educação, educação, educação, educação…”, reflete Bolzani. “A partir do conhecimento molecular da biodiversidade, abre-se um laboratório químico sofisticado, com potencial para se identificar “hits” e “leads” capazes de gerar inovação”, complementa.
A professora também destaca que o Biota é bastante premiado. Ela cita que em 2015 o Programa recebeu o Prêmio Kurt Politzer de Inovação Tecnológica, na categoria Pesquisador, concedido pela Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) com o projeto "Utilização sustentável da polpa dos frutos do umbu e umbu-cajá: Produtos naturais fenólicos de alto valor agregado para a indústria de cosmético com propriedades antienvelhecimento", do qual Bolzani era uma das coordenadoras.
Há muitas dificuldades em estudar a biodiversidade no Brasil e, provavelmente, ela jamais será conhecida em sua totalidade, dadas as dimensões continentais do país, a extensão de sua plataforma marinha e a complexidade de seus ecossistemas. “O projeto ‘Flora Fanerogâmica do Estado de São Paulo’ começou no início dos anos 1990. Já estamos em 2017 e ele ainda está no meio do caminho. São cerca de 8.000 espécies apenas de plantas superiores. E o estudo da biodiversidade é muito mais que fazer inventários de espécies. É preciso, no mínimo, saber onde elas estão localizadas. E para isso é necessário fazer uma cobertura geográfica completa”, exemplifica Lewinsohn.
Para Freitas, por mais que o Estado de São Paulo seja um dos mais estudados biologicamente, o que se conhece ainda é pouco. “Novas espécies continuam sendo descritas em todo lugar, até mesmo dentro do campus da Unicamp. Isso só mostra que ainda precisamos manter o foco na pesquisa básica, na descrição de espécies, listas de espécies por localidades, distribuições e padrões de diversidade”, complementa o professor.
Assim, apesar de todos os ganhos nos 18 anos de vigência do Biota, ainda há muito a conhecer e desvendar da biodiversidade brasileira, sendo necessário continuar os estudos para conhecer, aprender, restaurar, conservar e mesmo admirar a sua grandiosidade.
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Biota rompe fronteiras e forma legião de mestres e doutores