Obra de publicitário e escritor é tema de e-book lançado pela Editora da Unicamp
Entre a alta literatura, o humor ligeiro e o mercado publicitário, o escritor [Manuel] Bastos Tigre (1882-1957) viveu, no início do século XX, o dilema enfrentado até hoje por grande parte dos artistas: agradar o grande público, viver do seu ofício ou ser aceito entre os grandes. Poeta, dramaturgo, bibliotecário e jornalista, Bastos Tigre militou em defesa dos direitos autorais e foi pioneiro na publicidade no Brasil. Apesar de reconhecido como mestre do gênero humorístico pelo público e mesmo por seus pares, Tigre foi sendo esquecido pela crítica literária e abandonado por muitos de seus colegas escritores. Seu legado resumiu-se a slogans publicitários, entre os quais "Se é Bayer é bom", dificilmente associados à sua figura. A trajetória de Bastos Tigre é tema do e-book Estilo Moderno: Humor, Literatura e Publicidade em Bastos Tigre, do historiador Marcelo Balaban. A obra acaba de ser lançada pela Editora da Unicamp.
“Tigre viveu na pele um dilema literário: agradar o público com uma literatura mais ligeira ou desenvolver uma arte literária capaz de elevar seu nome junto a seus pares”, explica Balaban. Segundo o autor, o humor trocadilhesco, os epigramas, os sonetos humorísticos e as peças de teatro do chamado gênero ligeiro, como revistas de ano e vaudevilles, garantiram a Bastos Tigre prestígio em sua época. “Ele fez sucesso junto ao público que consumia avidamente esse tipo de literatura”, conta. Por outro lado, era olhado com desconfiança por seus colegas escritores que o viam mais interessado em agradar um público pouco ilustrado do que em desenvolver uma arte maior, uma arte com “A” maiúsculo. “O dilema literário de Tigre girava em torno dessa questão: ser um literato mais mercantil ou mais artístico”, afirma Balaban.
Tigre reivindicava um tipo de literatura moderna que evitava o uso rebuscado da linguagem e não abria mão do humor. “Ele tinha um estilo elaborado, mas não rebuscado, que escondia o trabalho com a linguagem para dar aparência de espontaneidade”, explica Balaban.
Bastos Tigre atuou de forma intensa pela profissionalização das letras em órgãos de classe criados para garantir os direitos daqueles que buscavam viver da sua arte. Além disso, no final da década de 1910, ele encontrou na publicidade uma oportunidade de reforçar o orçamento doméstico. “Ele abraçou de tal modo a publicidade que chegou a abrir escritório especializado nessa atividade”, comenta Balaban.
Para o pesquisador, revisar a obra de Tigre foi uma oportunidade para mergulhar na literatura e na vida literária do Rio de Janeiro dos primeiros anos do século XX. “Busquei desvendar os sentidos sociais da literatura da chamada Belle Époque, fazendo da literatura fonte da história social”, conta. Segundo ele, a pesquisa o permitiu avançar na reflexão sobre os sentidos sociais de fontes como literatura, imprensa e caricatura. “Entendo essas fontes como parte da sociedade, não como representações dela. Desenvolver essa abordagem é ponto de toque de grande parte de minhas pesquisas”, conta.
O livro faz parte da coleção Históri@illustrada, coordenada pelo Centro de Pesquisa em História Social da Cultura (Cecult) da Unicamp, que marcou o ingresso da Editora no mercado de e-Pubs. O formato digital possibilitou que fizessem parte do texto um conjunto amplo de documentos iconográficos e fonográficos permitindo uma abordagem mais completa do tema. Conforme explicou o pesquisador Marcelo Balaban, autor do livro, “o formato dessa coleção me parece uma grande vantagem, por ampliar a experiência do leitor, permitindo um contato maior com parte das fontes da pesquisa”.
Como parte do lançamento, foi produzido o vídeo Humor, Literatura e Publicidade. As imagens e músicas da época contam um pouco da história do Bastos Tigre e seu mundo. Veja o vídeo abaixo:
Título: Estilo Moderno - Humor, literatura e publicidade em Bastos Tigre
Autor: Marcelo Balaban
Editora da Unicamp
Preço: R$14,00