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Autopercepção e biomarcadores detectam estresse em policiais

Pesquisa da Faculdade de Odontologia de Piracicaba foi feita com 44 PMs da cidade de Chapecó (SC)

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Uma tese de doutorado desenvolvida na Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP) associou critérios de autopercepção a exames clínicos para identificar biomarcadores eficientes na detecção do estresse. O estudo realizado com 44 policiais militares, com idades entre 22 e 52 anos, da cidade de Chapecó (SC), apontou que 27% dos avaliados demonstraram alta percepção do estresse em sua atividade de trabalho. Apesar de considerada alta, se comparada a outros trabalhos que utilizaram a mesma metodologia, essa percepção subjetiva contrastou com os índices dos biomarcadores a que foi associada para avaliação do estresse no grupo. As alterações nos biomarcadores plasmáticos, que sugerem a síndrome metabólica, por exemplo, chegaram a atingir 84% dos participantes. “O treinamento a que são submetidos e o estado de alerta permanente condicionam o policial para uma condição de estresse, a qual ele acaba se adaptando. Entretanto, o organismo responde com alterações biológicas, como as observadas”, explicou Ilo Odilon Villa Dias, autor da pesquisa.

Foto: Reprodução
Ilo Odilon Villa Dias, autor da pesquisa: “Acreditamos que avaliar o estresse pode auxiliar no diagnóstico e na prevenção de doenças”

Segundo Dias, a maior parte do grupo (43,2%) teve média percepção do estresse. Esses valores foram obtidos a partir da Escala de Estresse Percebido na versão com 10 questões (PSS-10). Conforme explicou o pesquisador, a metodologia avalia a frequência da ocorrência de sentimentos e pensamentos relacionados a eventos e situações cotidianas ocorridas no mês anterior. A pontuação varia de 0 a 40, sendo que a mais elevada indica maior estresse. O resultado é dividido estatisticamente em quartis, que indicam baixa percepção (até 25%), média percepção (entre 25% a 75%) e alta percepção (acima de 75%).

Às respostas subjetivas, foram associados exames de sangue e de saliva, que avaliaram biomarcadores que tradicionalmente surgem em condições de estresse. Foram medidos pressão arterial, frequência cardíaca, índice de massa corporal, cortisol, alfa amilase, glicose, proteína C reativa (no sangue e na saliva), glicemia, colesterol total e lipoproteína de alta densidade (HDL-C). Grande parte dos participantes apresentou alteração na pressão arterial, 55% alteração das gorduras sanguíneas e 84% a proteína C reativa, um marcador inflamatório importante.

Outro marcador destacado por Dias, foi a lipoproteína HDL, um indicativo de síndrome metabólica motivada pelo estresse. De acordo com ele, 55% dos participantes apresentaram índices abaixo de 40mg/dL, quando o padrão de normalidade indica acima de 60mg/dL. “A lipoproteína HDL é extremamente importante para o transporte do colesterol dos tecidos para o fígado”, pontuou.

O pesquisador explicou que o estresse é uma resposta do sistema nervoso a adversidades físicas ou emocionais. Frente a situações como dor, calor, frio, perigo, o organismo sai do seu equilíbrio normal e prepara o corpo para enfrentar a situação. Essa reação, conhecida como estresse agudo, é um mecanismo de proteção que só será prejudicial quando deixar de ser acionado esporadicamente e tornar-se uma constante na vida do indivíduo. “Acreditamos que avaliar o estresse pode auxiliar no diagnóstico e na prevenção de doenças”, afirmou Dias.

Foto: Aantonio Scarpinetti
Para o autor da pesquisa, “o treinamento a que são submetidos e o estado de alerta permanente condicionam o policial para uma condição de estresse”

Conforme Dias, mesmo sendo subjetivas, as respostas são relevantes à avaliação dos biomarcadores fisiológicos, pois sua alteração também pode ser motivada por outros fatores, como por exemplo o colesterol, que pode ser associado ao estresse, mas também a uma dieta rica em gordura saturada e a uma vida sedentária.

O pesquisador ressaltou que o estresse crônico promove alterações fisiológicas que desregulam o organismo e podem levar a doenças em curto e longo prazos. “O ideal é que a pesquisa seja expandida para a população de maneira geral. A partir disso, com quadros comparativos, será possível detectar precocemente alterações metabólicas antes que ocorram agravos à saúde”, salientou o pesquisador. “Na medida em que vários estudos reproduzirem essa pesquisa subjetiva, associada à fisiológica, conseguiremos fundamentos para eleger um ou dois biomarcadores, sanguíneos ou salivares, capazes de identificar a situação de estresse.”

 

Imagem de capa JU-online
Policiais durante trabalho no trânsito | Foto: Antonio Scarpinetti

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