Planta apresenta propriedades hepatoprotetoras, anti-inflamatórias e esquistossomicida
Estudo desenvolvido na Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp utilizou duas diferentes técnicas [líquidos pressurizados e fluidos supercríticos] para fazer a extração de lignanas, compostos bioativos presentes na espécie Phyllanthus amarus, planta medicinal popularmente conhecida como quebra-pedra. O segundo método proporcionou o melhor resultado, tendo sido responsável pela obtenção de extratos com até 35% da substância pretendida, índice considerado muito significativo para um extrato bruto. O trabalho, orientado pelo professor Julian Martínez e coorientado pela pesquisadora Vera Lucia Garcia, do Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas (CPQBA), foi realizado no contexto da tese de doutorado do engenheiro de alimentos Rúbner Gonçalves Pereira.
A pesquisa conduzida por Pereira abre perspectiva para uso das lignanas na produção futura de fármacos. Segundo a literatura científica, esses compostos bioativos apresentam propriedades hepatoprotetoras, anti-inflamatórias e esquistossomicida, ou seja, atuam no combate ao parasita Schistosoma mansoni, causador da esquistossomose. “Obviamente, ainda temos um longo caminho a cumprir antes de desenvolver um fármaco a partir das lignanas. Mas já demos um passo importante”, define o autor do estudo.
De acordo com Pereira, os dois métodos testados por ele são novos em comparação com outros que vêm sendo aplicados pela indústria há várias décadas. Tanto os líquidos pressurizados quanto os fluidos supercríticos, acrescenta o pesquisador, têm sido empregados pela indústria em outros países, mas no Brasil essas técnicas por enquanto são utilizadas somente em escala laboratorial. “São tecnologias bem interessantes porque melhoram as características dos solventes e aceleram o tempo de extração, em comparação com as técnicas convencionais”, explica o autor da tese.
Dito de modo simplificado, para extrair compostos de uma planta é preciso encontrar um solvente capaz de solubilizar as substâncias de interesse. O resultado vai depender do grau de interação entre os solventes e os compostos. Com o uso dos líquidos pressurizados, informa o autor da tese, é possível modificar diversos parâmetros presentes no processo, entre eles a temperatura. “Nós testamos diversas temperaturas, até chegar àquela que proporcionou o melhor índice de extração. O mesmo foi feito com os fluidos supercríticos, mas também em relação ao parâmetro pressão”, detalha Pereira.
Ao final dos experimentos, o engenheiro de alimentos concluiu que, no caso do líquido pressurizado, a temperatura não teve influência significativa sobre a extração. Na prática, qualquer temperatura dentro do intervalo testado [35 e 80 graus célsius] pode ser aplicada para realizar a extração das lignanas. “Nesse caso, a recomendação é optar pela menor temperatura, visto que isso acarretará um menor uso de energia no processo”, pondera o pesquisador.
No que toca ao fluido supercrítico, foram analisadas diversas variáveis. A principal conclusão foi que a combinação entre menor temperatura e nível de pressão intermediário proporcionou o melhor resultado. “Nesse caso, o fluido supercrítico foi bem mais seletivo. O método permitiu a obtenção de um extrato mais rico em lignanas, com concentração de 35%. Já a técnica com uso de líquido pressurizado gerou extrato com concentração que variou de 0,2% a 4%”, revela Pereira.
Outra vantagem do método que utiliza o fluido supercrítico, conforme o autor da tese, é que o solvente é removido durante o processo. Com o uso do líquido pressurizado, é preciso cumprir uma etapa adicional para fazer a remoção do solvente. O engenheiro de alimentos esclarece que trabalhos anteriores envolvendo a extração de lignanas foram feitos por áreas diferentes da engenharia. Nesses casos, o foco das pesquisas não era a quantificação dos compostos, mas sim a sua atividade biológica. “Por isso, tivemos dificuldade em estabelecer comparações, mas a quantidade de lignanas que obtivemos é muito expressiva”, reforça Pereira.
Em sua tese, o pesquisador também analisou o custo dos processos da extração das lignanas. O que ele apurou foi que a aquisição das plantas e dos solventes representa 90% do custo total de produção. Desses 90%, 67% correspondem somente ao custo de aquisição da quebra-pedra. “Isso ocorre porque a planta é usada majoritariamente em caráter doméstico no Brasil. Não temos fornecedores em larga escala para a indústria. Por isso, é mais difícil encontrar essa matéria prima, que por sua vez também custa mais caro”, analisa Pereira, que contou com bolsa de estudos concedida pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), agência de fomento do Ministério da Educação.