Pesquisa demonstra que modalidade conhecida como HIIT pode trazer melhoras cardiorrespiratórias para um público maior
As recomendações internacionais de prescrição de atividades físicas preconizam um mínimo 150 minutos por semana de exercício moderado ou 75 minutos em intensidade vigorosa. Mas será que cumprir essas recomendações garante uma vida mais saudável? Na verdade, não. Há um consenso entre os pesquisadores de que 30% das pessoas não apresentam melhoras cardiorrespiratórias quando submetidas a exercícios tradicionais, mesmo seguindo as recomendações. Mais: 10% dos praticantes apresentam certa piora.
A partir desse problema, Alex Castro desenvolve um estudo de doutorado, na Faculdade de Educação Física (FEF) da Unicamp, manipulando a intensidade do exercício e comprovando que esse fator pode ser fundamental para aumentar o número indivíduos com respostas positivas à atividade física. A pesquisa é orientada pela professora Mara Patrícia Traina Chacon-Mikahil no Laboratório de Fisiologia do Exercício (Fisex), com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Fundo de Apoio ao Ensino, à Pesquisa e Extensão (Faepex) da Unicamp.
Castro focou seu estudo no Treino Intervalado de Alta Intensidade (HIIT, em inglês Hight Intensity Interval Training). O HIIT consiste em realizar exercícios em intensidade próxima ao esforço máximo, por curtos períodos (até 4 min), alternados com momentos de recuperação, ou descanso ativo (atividades de baixa intensidade) de duração igual ou inferior a do exercício intenso. O tempo total de cada sessão de treinamento pode variar de 5 a 40 minutos e a frequência, de 3 a 4 dias por semana dependendo dos objetivos.
O pesquisador comparou indivíduos submetidos ao HIIT e ao treino tradicional, menos intenso e sem intervalos para recuperação. Enquanto 22,8% dos indivíduos submetidos ao treino tradicional não responderam positivamente ao exercício, apenas 5,8% não responderam ao HIIT. “O HIIT é um método mais efetivo para minimizar a frequência de não respondedores ao exercício”, afirma.
Segundo a coordenadora da pesquisa, o HIIT é uma forma de treino alternativo seguro que traz a um grupo mais amplo de pessoas melhora da sua capacidade cardiorrespiratóra. “O número de indivíduos que melhoram seu consumo de oxigênio é mais frequente no HIIT do que no treino aeróbico tradicional”, conta Chacon-Mikahil.
Durante a pesquisa, 69 homens sedentários com idade entre 18 e 30 anos foram submetidos ao treino tradicional, no qual foi mantida uma frequência cardíaca contínua de 70% da frequência máxima, e ao HIIT, em que ela foi alternada entre 50% e 90% da máxima, ambos com sessões de 40 min, de 3 a 4 vezes por semana.
A responsividade dos participantes foi avaliada pela medida direta do consumo de oxigênio, ou seja, da quantidade de oxigênio que eram capazes de captar do ar que respiravam. “Se a capacidade de captação esta ruim, pode haver uma sobrecarga do sistema cardiovascular e respiratório, pois o indivíduo terá que aumentar a frequência cardiorrespiratória para obter o oxigênio que precisa. Pessoas bem condicionadas conseguem ter uma boa captação de forma mais natural”, sublinha Castro.
O consumo de oxigênio reflete, portanto, a atividade cardiorrespiratória, que por sua vez, é um importante indicador de longevidade. “Quanto maior for a aptidão cardiorrespiratória, menor o risco de morte prematura por qualquer causa e de desenvolvimento de doenças cardiovasculares”, explica Castro. “Por isso é importante investigar o consumo máximo de oxigênio e propor diretrizes para prescrição de exercícios físicos que possibilitem a melhora desse parâmetro para a maioria das pessoas”.
De acordo com Castro, a novidade do projeto é tentar individualizar ao máximo a prescrição de exercício físico. “É o que chamamos hoje de medicina personalizada do exercício. Os dados que temos na literatura geralmente são baseados em dados médios da população e não atendem às demandas de um número expressivo de indivíduos”, discute.
Juntamente com as análises de consumo de oxigênio, foram realizadas coletas de sangue, saliva e tecido muscular, antes e depois dos treinamentos. Estas amostras estão sendo processadas pela Equipe do projeto, que inclui alunos de iniciação científica dos Programas Institucionais de Bolsas de Iniciação Científica e Tecnológica (PIBIC e PIBIC Ensino Médio) da Unicamp, no Laboratório Nacional de Biociências (LNBio/CNPEM), e servirão de base para o mapeamento do metabolismo desses indivíduos, antes dos treinos e em resposta a eles.
Os pesquisadores pretendem, a partir dessa análise, encontrar biomarcadores que sejam preditores da responsividade ao treinamento, indicando a pré-disposição do indivíduo para responder ao exercício físco antes mesmo de começar a treinar. “Características metabólicas diferentes podem ser marcadores diagnósticos de responsividade. O ideal é que consigamos identificar o sujeito que é não-respondedor antes, para poder personalizar e encontrar o treino que efetivamente traga benefícios a ele”, esclarece o pesquisador.
Os pesquisadores comentaram que o objetivo é que, no futuro, seja possível apontar a partir de uma dosagem simples, em amostras de sangue ou saliva, a predisposição do indivíduo ao exercício. “É uma medida de fácil acesso que pode ser feita na hora e indicaria se aquela pessoa se adaptará às recomendações internacionais ou se precisará de uma nova estratégia de prescrição de treinamento”, explica Castro.
Internacionalização
Neste semestre, Castro continua sua pesquisa, com bolsa PDSE-Capes, no Pennington Biomedical Research Center (PBRC), em Luisiania nos Estados Unidos, em colaboração com o pesquisador Claude Bouchard, professor Emérito e referência internacional na investigação da responsividade do exercício. “Ele trabalha na área de genética, doenças crônicas não transmissíveis e exercício físico. Investiga como a genética pode explicar a resposta fisiológica do indivíduo ao exercício”, conta Mara Patrícia.
A parceria com o Bouchard é fruto do Programa de Internacionalização da Unicamp, que possibilitou a ida de Mara Patrícia, Alex Castro e da funcionária do Laboratório Integrado da FEF (LabFEF), Giovana Vergínia de Souza, ao PBRC, em outubro de 2016. Com projetos casados, o grupo foi aprovado nos editais de docente e funcionário para mobilidade internacional. “Foi uma experiência importantíssima. Graças a esse contato, Alex poderá desenvolver parte de sua pesquisa junto ao Dr. Bouchard, que referência na nossa área de trabalho”, enfatiza a professora.