Dispositivo faz com que fármacos cheguem a regiões um pouco mais profundas da mucosa oral
Pesquisadores do Brasil e do Texas começaram a testar em humanos uma nova estratégia para aumentar a eficácia da anestesia tópica odontológica.
Trata-se de um pequeno dispositivo contendo 57 microagulhas que, ao ser colocado na gengiva, na bochecha ou em qualquer outro local da boca a ser anestesiado, cria pequenos furos pelos quais substâncias anestésicas como a lidocaína penetram – alcançando regiões um pouco mais profundas da mucosa oral.
O tema foi destaque no último dia 21durante o simpósio FAPESP Week Nebraska-Texas, nos Estados Unidos.
Como explicou Harvinder Gill, professor do Departamento de Engenharia Química da Texas Tech University (UTT), em Lubbock, a anestesia tópica é usada pelos dentistas para diminuir o desconforto de seus pacientes durante a aplicação da anestesia injetável, necessária para procedimentos mais invasivos como o tratamento de cáries, extração de dentes ou cirurgias.
“Uma injeção muito profunda é necessária para adormecer a área a ser tratada ou para bloquear um nervo. E essa injeção costuma ser dolorosa, pois os métodos convencionais de anestesia tópica têm pouca penetração e eficácia”, disse Gill.
Na avaliação do pesquisador, o medo da injeção é um dos principais fatores que levam os pacientes a desenvolver fobia de dentista e a evitar tratamentos odontológicos, o que impacta negativamente a saúde oral da população.
“Essa situação causa ansiedade tanto nos pacientes como nos dentistas, podendo comprometer os resultados do tratamento”, afirmou.
No âmbito de um projeto financiado pela Fapesp e realizado em parceria entre Gill e a pesquisadora Michelle Leite, da Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP) da Unicamp, está sendo avaliada a viabilidade dessa nova estratégia para liberação de fármacos para a mucosa oral.
“Entre nossos objetivos estão mensurar a dor causada pelas microagulhas, que têm cerca de 700 micrômetros de comprimento cada, e determinar a eficácia desse sistema para aumentar a ação da anestesia tópica”, disse Gill.
O método já foi testado em 10 pacientes em um ensaio preliminar e, segundo Gill, foi bem tolerado.
A parceria entre Gill e Leite foi firmada no âmbito do FAPESP São Paulo Researchers in International Collaboration (SPRINT), uma estratégia de organização que consiste no anúncio simultâneo de oportunidades de colaboração da FAPESP com diversos parceiros no exterior e que oferece financiamento para a fase inicial de colaborações internacionais em pesquisa (seed funding) visando estabelecer projetos conjuntos de médio e longo prazo.