Segunda turma de alunos da Unicamp organiza evento para festejar jubileu de ouro em setembro de 2018
O ano era 1968. Fundada pouco mais de um ano antes, em 5 de outubro de 1966, a Unicamp ainda dava seus primeiros passos. Não dispunha, por exemplo, de estrutura suficiente para abrigar todos os seus alunos no campus de Barão Geraldo, na época um vasto canteiro de obras. Assim, alguns cursos eram ministrados em outros espaços, como o Colégio Ateneu Paulista, localizado no Centro de Campinas. Naquele momento histórico, em que o Brasil vivia as consequências de uma forte ditadura, não havia indícios de que a Universidade viria a se tornar a melhor instituição de ensino superior da América Latina, segundo ranking divulgado em julho último pela publicação britânica Times Higher Education (THE).
No início do ano letivo de 1969, estudantes da área de Exatas que ocupavam as salas do Ateneu Paulista foram transferidos para o campus. A viagem até Barão Geraldo era uma aventura. “Nos primeiros dias de aula no campus, choveu muito e o ônibus que nos trazia atolou no que hoje é a Avenida Romeu Tórtima, mas que na ocasião era uma via de terra batida. Nós tivemos que descer do veículo para empurrá-lo”, recorda o engenheiro eletricista aposentado Abel Cabral, integrante da segunda turma de estudantes da Unicamp.
Ele e o cientista da computação aposentado Frederico Atílio, o Fred, estão à frente de um projeto que tem por finalidade reunir seus contemporâneos para comemorar os 50 anos da segunda turma de alunos da Universidade. A ideia é promover um encontro nas dependências da instituição, provavelmente em setembro de 2018. “Ainda estamos pensando na programação, mas queremos realizar, entre outras ações, um culto ecumênico, uma caminhada e algumas apresentações artísticas e culturais”, adianta Fred.
Uma das primeiras missões da dupla, que conta com a ajuda de outros companheiros, é tentar localizar o maior número possível de colegas, para poder convidá-los para a celebração das bodas de ouro. “A Unicamp nos forneceu a lista dos matriculados. Eram 251 pessoas. Até agora, nós já identificamos 106. Infelizmente, outras 20 faleceram”, lamenta Cabral. Para tentar chegar aos demais pioneiros, os organizadores do encontro criaram uma página no Facebook (o link não existe mais) .
Eles esperam que a rede social ajude a fazer com que a ideia do evento se espalhe. Paralelamente, Cabral e Fred têm solicitado aos colegas de turma que forneçam fotografias e documentos da época, como forma de criar um memorial. “Esse contato é muito saboroso. Temos recordado episódios muito interessantes, de uma Campinas que não existe mais. Dá para imaginar que nós subíamos a Avenida Francisco Glicério tocando violão e fazendo serenata para as garotas que moravam nas repúblicas próximas ao Pátio dos Leões? [prédio histórico pertencente à PUC-Campinas]”, indaga Fred.
As repúblicas, aliás, compõem um capítulo à parte nas memórias desses “desbravadores”. Além de servirem de espaços às melhores festas estudantis daquele período, elas ostentavam nomes, digamos, bastante pitorescos. Exemplos: Monte de Bossa, Poleiro dos Anjos, Lesma Lerda, Maloca do Escudo Negro, É Aqui Mesmo e Toco Cru Pegando Fogo. “Foi um período muito importante para nós. Uma fase de formação profissional, mas também de amadurecimento pessoal”, considera Cabral.
Orgulho
Quando questionados sobre qual sentimento define melhor a relação que os membros da segunda turma de estudantes mantêm com a Unicamp, a palavra mais mencionada é “orgulho”. Segundo eles, embora a Universidade já oferecesse um ensino de elevada qualidade nos primeiros anos de atividade, era impossível imaginar naquela ocasião que a instituição poderia chegar ao patamar que ocupa hoje. “A Unicamp me propiciou uma sólida formação, o que me abriu as portas para o mercado de trabalho. É um orgulho testemunhar o avanço e o crescimento da Universidade, que se tornou uma das melhores da América Latina. Não é por acaso que o seu vestibular é um dos mais concorridos do Brasil”, afirma o engenheiro mecânico José Carlos Covizzi.
Ainda na ativa e ocupando um cargo de gerência em uma indústria de papel instalada em Iracemápolis (SP), ele guarda muitas recordações do período em que estudou na Universidade. “Tenho muitas lembranças, inclusive de uma gincana automobilística que realizamos em Campinas. O evento movimentou a cidade inteira e teve direito a transmissão ao vivo por uma rádio. Um dos desafios da gincana era levar até o ponto de concentração um objeto de Carlos Gomes. Uma das equipes convenceu os familiares do maestro e apresentou uma partitura original dele”, relata.
Natural de Santos (SP), o cientista da computação aposentado José Cássio Erbisti vive hoje na cidade paulista de Socorro. De lá, acompanha com satisfação as notícias sobre a Unicamp, escola que viu nascer literalmente. “A região onde a Universidade foi construída era um deserto e o campus, um canteiro de obras. A cada retorno de um período de férias, dois ou três prédios haviam sido erguidos. A Unicamp se transformou na potência que é hoje graças ao esforço de várias gerações. Hoje, além da graduação, ela também oferece uma pós-graduação de qualidade. Isso sem falar das pesquisas que trazem muitos benefícios para a sociedade”, analisa.
As histórias contadas nesta reportagem pelos estudantes da segunda turma da Unicamp certamente serão relembradas no encontro de 2018. Muitas outras se somarão a elas, como vaticina Fred. “Vamos promover um encontro prévio ainda este ano para reunir parte da turma e definir as ações que vamos realizar nos festejos das bodas de ouro. Uma medida, porém, está certa: vamos confeccionar crachás para identificar cada participante. Afinal, tem gente que não se vê há 40 anos e é preciso facilitar o reconhecimento”, justifica, em tom de gracejo.