Estudo foi feito no Hospital de Clínicas da Unicamp com estudantes de medicina e médicos-residentes
Fidget spinner ou hand spinner é um brinquedo caracterizado por uma estrutura plana com rolamento que gira ao longo de seu eixo. A pessoa deve mantê-lo entre o polegar e os dedos indicador ou médio e girá-lo. Ele pode ser colorido, de plástico, metal ou cerâmica, e ter luzes e formatos inusitados. Febre entre crianças e adolescentes, o brinquedo recebeu até um apelido: inquieteco.
O dispositivo foi anunciado como uma nova ferramenta capaz de aumentar a atenção e aliviar o estresse e a ansiedade em crianças com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), transtorno do espectro do autismo (TEA) e outros distúrbios do desenvolvimento. Alguns afirmam que o brinquedo é útil até mesmo para crianças sem qualquer deficiência para aumentar a concentração.
“Não há evidências de que o spinner seja realmente eficaz para transtornos como TDAH ou TEA. É possível que os movimentos repetitivos possam ser relaxantes e melhorar a concentração. Entretanto, nenhum estudo científico ainda demonstrou a eficácia do spinner”, diz a neuropediatra Maria Augusta Montenegro, professora e pesquisadora do Departamento de Neurologia da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp.
Foi por isso que Maria Augusta e as mestrandas Karina Akinaga e Catarina Abraão Guimães desenvolveram o estudo O Fidget spinner realmente melhora a atenção? O objetivo da pesquisa foi avaliar se o brinquedo aumenta o desempenho de pessoas saudáveis em relação à atenção e à memória verbal.
O estudo foi realizado no ambulatório de neurologia do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp com 34 estudantes de medicina e médicos-residentes entre 18 e 27 anos de idade, sem diagnóstico de transtornos de desenvolvimento ou psiquiátrico ou que estivessem fazendo uso de medicação psicoativa.
Os participantes da pesquisa foram divididos aleatoriamente em dois grupos e foram feitos testes de leitura de sequências de números e letras em ordem direta, inversa e de maneira a reordenar a sequência. Os voluntários do grupo 1 foram orientados a brincar livremente com o spinner enquanto faziam o teste. Já os voluntários do grupo 2 fizeram o teste sem brincar como o spinner. Após o experimento, o desempenho de ambos os grupos foi comparado.
A maioria dos voluntários que utilizou o spinner informou que o brinquedo era irritante e que eles preferiam fazer o teste sem ele. Dois voluntários deixaram o spinner durante o teste e vários fecharam os olhos, tentando se concentrar melhor sem olhar para o brinquedo. Outros revelaram que desejaram parar de girar o spinner enquanto estavam respondendo ao teste ou o girariam no mesmo ritmo que diziam cada número ou letra, se fosse possível.
De acordo com Maria Augusta, a fim de permitir que os voluntários fossem livres para brincar com o spinner, foi escolhido um teste que não incluía nenhuma escrita. Inclusive, foi a partir de observações em sala de aula e de estudos sobre transtorno de movimento estereotipado – movimentos repetitivos que podem ser reprimidos por estímulos ou distrações sensoriais – que se chegou à suposição de que o spinner poderia melhorar a concentração do aluno na lição em sala de aula.
“Esse transtorno é frequentemente observado em pacientes com TEA e outras dificuldades de desenvolvimento. As estereotipias estão associadas à excitação, ao estresse, à fadiga e ao tédio. Alguns pacientes relatam que esses movimentos são relaxantes e aumentam seu nível de atenção”, explica Maria Augusta.
Segundo a especialista, os testes utilizados na pesquisa conduzida na Unicamp foram capazes de avaliar a atenção e memória verbal.
“O spinner não melhorou o desempenho e a capacidade de atenção em adultos jovens. Embora seja necessário realizar um estudo incluindo crianças, é improvável que o spinner melhore a atenção em crianças saudáveis sem distúrbios do desenvolvimento ou TDAH”, reforça Maria Augusta.