Contemplado em 2015 com o Prêmio Marc Ferrez de Fotografia da Funarte, este trabalho apresenta releituras contemporâneas de meu arquivo familiar. Meu avô paterno, Bruno Valentin - médico, pesquisador e professor universitário - reuniu um vasto acervo documental que se somou a fotografias, cartas e relatos de viagens de seu pai, Gerhard Valentin, realizadas na Alemanha e no Brasil, nas décadas de 1930 e 1940. Em 1938, forçados pelo nazismo a deixar a Alemanha, suas famílias paterna e materna exilaram-se no Rio de Janeiro, onde iniciaram uma nova vida. Entre os poucos pertences que puderam trazer para o Brasil, estavam suas memórias e histórias.
Em 2014, antes de partir para Berlin, encontrei 10 diapositivos (slides em cores no formato 35mm) realizados em 1975 naquela cidade por meu pai, quando ali esteve com sua mãe. Intrigado por essa série de fotografias, procurei, primeiro, entender suas escolhas e decifrar os caminhos percorridos. Descobri que muitas foram feitas durante um passeio em ônibus turístico pela cidade. Refazendo esses caminhos, fotografei em filme preto e branco, exatamente do mesmo ângulo, os lugares que meu pai e minha avó haviam visitado.
À medida em que fui revisitando aquelas imagens, aprofundei-me naqueles trajetos, ampliando a busca por vestígios que dialogassem de formas diversas com a história de minha família. Desenvolvi, assim, o projeto “Berlin<>Rio: Trajetos e Memórias” que resultou numa exposição de fotografias e documentos, acompanhada da edição de um livro. A exposição foi apresentada no Centro Cultural Justiça Federal/Rio de Janeiro, na Sociedade Fluminense de Fotografia/Niterói e no Instituto Goethe. Em maio de 2018 será realizada em Berlin.
Complementando as 10 fotografias em preto e branco que emulam os locais visitados por meu pai, selecionei cerca de 150 fotografias e documentos do acervo familiar que se contrapõem às 40 fotografias contemporâneas realizadas em película preto e branco em Berlin entre 2014 e 2016. Painéis explicativos estabelecem a linha do tempo da família e ajudam a esclarecer, com detalhes e sentimentos, a vida na Alemanha pré-guerra, a fuga, o exílio e o reinício no Rio de Janeiro dos anos 1940 e 1950.
Na apresentação do livro, o fotógrafo e pesquisador Pedro Vasquez comenta que o “esforço de arqueologia familiar encetado por Andreas Valentin, tem interesse especial para todos os filhos do exílio. Ao relatar sua saga familiar ele evoca a memória de todos nós, fazendo com que sua família retrate também nossas próprias famílias. No espelho mágico em que ele visualiza a história de sua família, nós também nos reconhecemos, encontrando consolo e sentido para as desventuras de nossos antepassados expatriados”.
Desenterrando, assim, camadas de memórias evoco ainda Walter Benjamin, que em seu texto “Escavando e recordando” de 1932 afirmou que “a língua tem indicado inequivocamente que a memória não é um instrumento para a exploração do passado; é, antes, o meio. É o meio onde se deu a vivência, assim como o solo é o meio no qual as antigas cidades estão soterradas. Quem pretende se aproximar do próprio passado soterrado deve agir como um homem que escava”.
Link para o livro
https://4ormat-asset.s3.amazonaws.com/vfs/386139/public_assets/28489970/Capa_miolo.pdf
Andreas Valentin é professor de fotografia e artes (UERJ), pesquisador e fotógrafo. Doutor em História Social (UFRJ), com pós-doutorado na Freie Universität, Berlin. Em 2015 foi vencedor do Prêmio Marc Ferrez de Fotografia da Funarte. www.andreasvalentin.com / andreasvalentinrio@gmail.com
Alexander Platz 2016
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