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Livro revela faceta conservadora de José de Alencar

Historiadora analisa atuação parlamentar do escritor durante o Segundo Reinado

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O livro Política e escravidão em José de Alencar, da historiadora Dayana Façanha, analisa a produção do escritor considerado o fundador e o maior nome do Romantismo brasileiro sob a perspectiva de sua atuação como parlamentar, utilizando como fonte matérias publicadas no “Jornal do Commercio”. Fruto de dissertação de mestrado em História Social pela Unicamp, a pesquisa abarca o período entre 1870 e 1871, quando a pauta da escravidão dominava tanto as discussões políticas das quais ele participava na Câmara dos Deputados, como também o tema de sua obra O Tronco do Ipê, ambientada em uma fazenda na região cafeeira do Rio de Janeiro do século XIX. “Não se trata apenas de entender o pensamento isolado e particular de Alencar, mas de discernir dentro do diálogo dele com seus pares no parlamento as disputas intelectuais e políticas sobre escravidão no período conturbado que antecede a emancipação”, define a autora.

Formado em direito, o escritor José de Alencar também teve uma carreira sólida na política como membro do Partido Conservador, pelo qual atuou como ministro da Justiça entre 1868 e 1869. Os embates ideológicos oriundos da experiência, defende a autora, deram origem ao pseudônimo “Sênio” – um tipo meio nostálgico e cético em relação à política do Império – com o qual assina O Tronco do Ipê e outros romances publicados posteriormente. Exercendo o cargo de deputado provincial do Ceará, ele votou contra a Lei do Ventre Livre, que garantiu a liberdade dos filhos de escravas nascidos após 1871.

Alencar apostava na capacidade da política paternalista – uma lógica de relações desiguais negociadas entre senhores e escravos – tanto para gerir como para superar a escravidão no Brasil. Uma visão que não era questionada pela sociedade da época, mesmo entre os favoráveis à intervenção direta pró-emancipação: quer se fosse contra ou a favor da Lei do Ventre Livre, ninguém se opunha ao paternalismo, apenas divergiam como reformá-lo. Dentro dessa visão seletiva da escravidão, o escritor posiciona um projeto político que imagina o fim do cativeiro por negociações e rituais de troca e dependência em favor da harmonia entre as partes.

O escritor José de Alencar e o frontispício de seu romance “O Tronco do Ipê”: Sênio como pseudônimo
O escritor José de Alencar e o frontispício de seu romance “O Tronco do Ipê”: Sênio como pseudônimo

“Encontrei nas fontes da imprensa e do parlamento uma crença generalizada em que as relações escravistas no Brasil iam bem, que tendiam a ser humanizadas. Encontra-se nesse pensamento uma noção de processo dentro do qual o cativo passa por tutela e aprendizagem, resultando, a depender de bom comportamento, no acesso a direitos como pecúlio, roças próprias, manutenção de elementos de matriz africana e, lá na frente, inserção social. É um pensamento senhorial intransigente, limitado na capacidade de imaginar o ponto de vista cativo”, conclui a pesquisadora.

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Título: Política e escravidão em José de Alencar O tronco do ipê, Sênio e os debates em torno da emancipação (1870-1871)

Autora: Dayana Façanha

Editora: Alameda

Preço: R$ 46,00

Disponível em: www.alamedaeditorial.com.br

Imagem de capa JU-online
A historiadora Dayana Façanha, autora do livro  “Política e escravidão em José de Alencar”

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