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Maio de 68: depois da primavera

IFCH organiza colóquio de três dias para discutir os desdobramentos no presente do movimento que sacudiu Paris há 50 anos

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O colóquio “Maio de 68: depois da primavera”, que acontece de 22 a 24 de maio no auditório do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp, foi pensado menos para celebrar os eventos daquele que é considerado o acontecimento maior do século 20, e mais para compreender quais desdobramentos estão ativos nas lutas políticas do presente. “É um tema que me é caro e, com a aproximação da efeméride dos 50 anos, achei que não podia deixar escapar a oportunidade de organizar esse colóquio para discutir aqueles acontecimentos”, diz o professor Gabriel Zacarias, do Programa de Pós-Graduação em História da Unicamp.

O objeto de estudo de Zacarias no pós-doutorado foi o pensador francês Guy Debord, fundador do grupo Internacional Situacionista, criado na década 1950 como comunidade artística e que na passagem para os 60 se tornou um grupo político. “Esses intelectuais publicavam uma revista com o mesmo nome do grupo, na qual discutiam diferentes vias revolucionárias – é uma literatura política que teve grande influência na juventude que faria o movimento de Maio de 68. Quando o movimento explode, Guy Debord já tinha 37 anos, mas as ideias veiculadas por seu grupo estavam sendo muito repetidas pelos jovens que ocupavam as universidades.”

O colóquio, acrescenta o professor do IFCH, cumpre ainda um papel pedagógico junto a alunos envolvidos em lutas como as chamadas identitárias, ou mesmo do movimento estudantil. “Várias práticas e demandas desses alunos remetem ou recordam problemas levantados pela primeira vez em 68 – e às vezes eles não sabem disso. A exposição que integra o evento também atende muito bem a isso, com documentos originais dos situacionistas; a última revista que editaram, abordando 68; cartazes originais da época; e a produção bibliográfica da Champ Libre, editora de extrema esquerda criada por efeito do movimento.”

Gabriel Zacarias considera interessante trazer esse conhecimento aos alunos para mostrar que as formas de luta têm uma historicidade e, inversamente, para reconhecer aquilo que ainda nos interessa de 68. “Muito do que há de importante não é o que se passa no mês de maio, e sim depois – daí eu ter sugerido o título ‘Depois da primavera’. Porque vários processos vão se desdobrando, como o caso do feminismo.”

O organizador do evento observa que, dentre as grandes figuras do Maio de 68, a presença de mulheres é secundária.  “Ocorre que o movimento coloca no centro do debate político a questão cotidiana, de que não adianta mudar as relações de produção se não mudarmos as nossas relações sociais afetivas. O problema da desigualdade de gênero ganha então destaque e dois anos depois, a partir de 70, temos uma explosão de movimentos feministas. Do movimento feminista sai o movimento homossexual, e essa luta se desdobra até o presente.”

Gabriel Zacarias recorda que o Brasil viveu um outro 68, de memória amarga, quando a ditadura se colocou mais pesadamente com o AI-5. “O que estamos vivendo hoje lembra um pouco aquele período: vivemos um momento de redução das liberdades democráticas, de ruptura na legitimidade institucional do Estado. É necessário refletir sobre as demandas progressistas de Maio de 68 justamente para tentar dar força à luta de resistência que temos pela frente, contra essa sombra ameaçadora que se aproxima.”

Luana Saturnino Tvardovskas, professora do IFCH, vai participar da mesa sobre “Feminismos”, abordando o impacto de 68 no campo da estética, da invenção e da arte, principalmente na produção artística das mulheres. “Falar do maio é potencializar o debate sobre o que é fazer ação política hoje, como enfrentar esse momento de mortificação de tudo. Em As Barricadas do Desejo, Olgária Matos diz que 68 foi uma revolução pela vida, e não pela morte. Acho que esse é o ponto: ali existiu uma intensificação dos afetos e uma ação política para construção da vida, de relações e modos de existência que precisam ser falados.”

Confira a programação de “Maio de 68: depois da primavera”.


Olgária Matos (EFLCH/Unifesp)

Foto: Reprodução
A potência crítica do maio francês | Foto: Leonor Calasans (IEA/USP)

Comemorar o maio francês é fazê-lo renascer a cada aniversário. Assim, os cinquenta anos passados renovam sua potência crítica no horizonte da transformação da economia de mercado em sociedade de mercado, da cultura em indústria da cultura, da mutação da política em interesses de gestão empresarial, cuja lógica do custo-benefício se estendeu à vida do espírito. Contra os cartéis econômicos e os organismos do Estado que cada vez mais invadem as instituições sociais e o espaço público, 68 foi um movimento contra a tecnocracia que ameaçava a autonomia dos setores antes protegidos, como a educação. O maio francês foi uma luta contra ser governado por “leis científicas”, pelas “leis da economia” ou por “imperativos técnicos”; foi contra a ideia de “progresso tecnológico cego”.

Na França, dez milhões de operários transformaram uma manifestação estudantil – que, no início, criticava os procedimentos disciplinares dos Liceus [1] e empenhava-se na liberalização dos costumes na Universidade e na não separação entre moças e rapazes nos alojamentos universitários – em um “movimento revolucionário”, ao se reunirem a ela nas ruas. Seu eixo foi a ideia “revolução”, mas anunciando o caráter poético e erótico do movimento que inscreveu nas paredes: “Faça amor e repita”. “Gozar sem entraves, viver sem tempos mortos”. “Camaradas, também se faz amor na

Escola de Ciência Política, e não apenas em praias e bosques”. E lúdico “desviou” a mensagem evangélica para o “ amai-vos uns sobre os outros”.

Contrário a todo tipo de hegemonia, a livre circulação da palavra – literária, poética, política – buscava novas razões da vida em comum. Não por acaso, Roland Barthes observou: A palavra estudantil transbordou tão plenamente que, irradiando-se, foi e se inscreveu por todos os lados, que se teria algum direito em definir [... ] a revolta universitária como uma Tomada da Palavra (como se diz: Tomada da Bastilha)." [2]

Grafites, panfletos, palavras-de-ordem marcaram seu caráter inédito, o de uma tomada poética da cidade e da palavra. Palavras muitas vezes enragés em sua retórica anti-burguesa, elas foram, porém, antes de tudo, literárias, como que emergindo dos romances em que Paris é o objeto de desejo e campo em que se deflagram as paixões humanas e suas ambições, como Stendhal, Balzac, Flaubert, Baudealire ou Proust: de todas as cidades, anotou Walter Benajmin, não há nenhuma que se ligue mais intimamente ao livro que Paris”.

O maio de 68 inovou o sentido da ideia de revolução: não a poesia a serviço da revolução, mas a revolução a serviço da poesia. Nesse mês de maio a ação foi irmã do sonho.


Alcir Pécora (IEL/Unicamp)

Foto: Perri
Uma metáfora quase bíblica | Foto: Antoninho Perri

“Maio de 68” é uma metáfora, como “Paris” é uma metáfora (dizia Cortázar). A data está contaminada de símbolo e um símbolo que alcança o conjunto da existência, não apenas um mês determinado de um ano particular. Mais ou menos como se dá na Bíblia, quando os supostos eventos históricos da vida de Cristo são também alegoria de todos os eventos da história do homem, do gênese ao apocalipse. De resto, é sabido o que “maio de 68” metaforiza: juventude, liberdade, comunidade, igualdade, utopia, revolução, direitos de minorias, paz e amor livre. Enfim: um continuado êxtase.

Por isso mesmo, “maio de 68” também é metáfora da ausência de contradição entre o desejo e a vida real, pois, nesta, como sabemos todos, liberdade raramente rima com igualdade; revolução e utopia acabam por ser mutuamente excludentes, como demonstraram os regimes revolucionários efetivamente implantados. Ao alegorizar o fim da existência agônica, “maio de 68” é, no fundo, alegoria de um milagre. Tudo se concilia numa grande prece para que nada contradiga o interesse mais coletivo e o desejo mais pessoal. Como disse o crítico russo Boris Groys: “O ano de sessenta e oito foi um afluxo súbito de energia. Por todo o mundo – em Moscou, em Praga, na América, na China, em Paris, (...) na Alemanha –, muitas pessoas começaram a reivindicar: queremos fazer qualquer coisa sem ter de fazê-lo. Queremos transformar os prazeres em trabalho e o trabalho em prazer. (...) É isso o que disseram, o que sentiram, e saíram em manifestação para exigi-lo – e afinal para exigi-lo de Deus, porque nenhum governo deste mundo pode dar qualquer coisa desse gênero. Era, por assim dizer, uma reivindicação dirigida ao céu”.

E então, nessa prece, que versículo toca à literatura? Essa prece não é ela mesma intensamente literária? Quando rezamos pelo milagre de fazer tudo sem o trabalho de fazer nada, da obra perfeita sem a mão que a efetue, da potência do pensamento que não se reduza com o ato de pensar, estamos imaginando justamente que a vida deva ser pautada pela literatura, ou, por extensão, pela arte. Pensamos nosso corpo como escritura e nossa vida como obra de arte. Mas se “maio de 68” pode ser entendido simbolicamente como submissão da vida à arte, que anula as contradições do real no gozo, a segunda coisa a dizer é que tal literatura, no limite, é estranha à literatura. Pois a questão decisiva da literatura não é liberar ou curar, mas gerar o novo, e isso implica necessariamente em confrontar-se com o legado cultural, produzir uma obra particular, difícil, que dispute com as outras obras do passado alguma forma de transcendência. Nesse ato de geração do novo, portanto, o presente ou o imediato ocupa apenas uma parte dele.

Para pensar a questão desse vasto “maio de 68” em relação à literatura brasileira, vou dar no próximo semestre um curso chamado “Contracultura e experimentalismo na ficção dos anos 60 e 70”. Achei apropriado, porque a polarização enorme daqueles anos da guerra fria, acentuada no Brasil com a ditadura, um pouco se repete nos dias de hoje. E evidentemente, num processo de radicalização de posições, também a resistência à ditadura assumia posições dogmáticas e excludentes. Por exemplo: no teatro, o Arena via com desconfiança tanto o desbunde do Oficina, como o brutalismo de Plínio Marcos ou o existencialismo e a ruptura comportamental da chamada nova dramaturgia. No caso da música, não há nada mais sintomático do que a famosa passeata da MPB a marchar contra a guitarra elétrica, tida como instrumento de adesismo e cooptação norte-americana.

A literatura do período é muito menos conhecida do que a música e o teatro, mas também nela se pode observar esse desvão entre dogmatismos, ainda que nunca se realize como obra de arte integral – e é dela que o meu curso vai tratar. Escolhi dez autores chaves para lidar, entre eles, Luiz Carlos Maciel, espécie de guru da contracultura que escrevia para O Pasquim; Paulo Leminski, do Catatau, um livro escrito under influence e não apenas de Joyce e dos concretos; Jorge Mautner, que fez sucesso como cantor e compositor, mas que antes disso já tinha uma extensa obra escrita que buscava conciliar a revolução socialista e os misticismos orientalistas, numa espécie de marxismo místico; Torquato Neto, que produziu textos cortantes contra a institucionalização do cinema novo e da música nacional; José Agrippino de Paula, que é, a meu ver, o mais importante escritor dessa geração no Brasil, com o seu PanAmérica, e que, infelizmente, tornou-se um tristíssimo caso de acid casualty.

Com tudo o que signifiquem de equívoco e porra-louquice, de expectativa necessariamente frustrada de um milagre, essas obras ainda fazem vibrar intensamente uma nota de inconformismo e de antidogmatismo. Agora me parecem até mais produtivas do que antes porque, no fundo, são a metáfora da esperança que resta.


Luiz Marques (IFCH/Unicamp)

Foto: Perri
Mal-estar em relação às certezas da ciência | Foto: Antonio Scarpinetti

Pretendo tratar neste seminário de aspectos menos lembrados, como o impacto do movimento estudantil e operário de 68 sobre a ciência e sobre outras manifestações dos anos 60 que traduziam certo mal-estar com relação a certezas de um futuro radioso, alardeadas nos anos 1950 e 1960 pelo binômio ciência-tecnologia. E isso, com ênfase no aspecto mais preciso da questão ambiental. Desde 1962, com a publicação de Primavera Silenciosa, de Rachel Carson, explicita-se esse mal-estar diante do binômio ciência-tecnologia.

Com o grande boom econômico do pós-guerra, na Europa e sobretudo nos Estados Unidos, houve uma enorme multiplicação dos bens industriais, o aumento do PIB e maior acessibilidade a fontes energéticas devido ao acordo do final da Segunda Guerra assegurando petróleo barato do Oriente Médio a esses países. Falava-se muito, então, em “milagre alemão”, “milagre italiano”, “milagre japonês” e, de fato, países destruídos pela guerra estavam nos anos 60 em atividade econômica exuberante.

Ocorre que esse boom, justamente por sua escala crescente, começou a produzir a sua contrapartida, manifesta em fortes crises ambientais já nos anos 50, como por exemplo, o Great Smog de 1952 em Londres, que causou 12 mil mortes, e o incêndio do rio Cuyahoga em Ohio, também em 1952, tal era a sua poluição. Fatos como esses suscitavam uma primeira e ainda incipiente percepção de uma crise ambiental mais generalizada, mas é nos anos 60 que a consciência ecológica emerge de maneira muito mais forte. As maiores ONGs ambientalistas anglo-americanas nascem justamente entre 1961 e 1971: WWF (1961), Environmental Defense Fund (1967), Friends of Earth (1969), International Fund for Animal Welfare – IFAW (1969), Natural Resources Defense Council – NRDC (1970) e o Greenpeace (1971).

Os dois livros científicos que vão catalizar essas manifestações são a já citada Primavera Silenciosa da bióloga marinha Rachel Carson (1962), e So Human an Animal (Um Animal tão Humano), do microbiologista francês, naturalizado americano, René Dubos, publicado nos dias seguintes ao Maio de 68. Dubos trazia em sua escrita todo esse espírito de revolta e desilusão com a tecnologia. Ele vai produzir em seguida, com Barbara Ward, o famoso Only One Earth (Apenas um Mundo), documento piloto do Congresso de Estocolmo em 1972, evento que precedeu a Eco-92 do Rio de janeiro – processo, aliás, inegavelmente influenciado pelo espírito de contestação de Maio de 68.

Outro elemento fundamental relacionado com 68 é a criação da Union of Concerned Scientists. Trata-se da primeira vez em que os cientistas se organizaram nos EUA para denunciar o mau emprego da tecnologia – e isso nada menos que no MIT (Massachusetts Institute of Technology), o templo da tecnologia norta-americana. A corrida armamentista, a guerra do Vietnâ, a crise dos mísseis de 1961-1962 em Cuba deixavam claro que a tecnologia não estava cumprindo as suas promessas de um futuro exponencialmente melhor, ao contrário, estava ameaçando a simples existência desse futuro.

Mas mesmo quando “bem utilizada”, a tecnologia produzia contrapartidas negativas, estressantes para o meio ambiente, como a proliferação do plástico, cuja produção começa a ganhar escala nos anos 50 e 60, tendo se tornado hoje um dos nossos piores pesadelos globais. É importante perceber que os anos 60 começam a revelar que revolta anticapitalista e revolta ambiental são duas faces da mesma moeda. O problema ambiental é inerente ao caráter necessariamente expansivo do sistema capitalista, inclusive pelo fenômeno de escala: a atividade econômica, obviamente, sempre poluiu, mas a escala anterior aos anos 1950 era ainda susceptível de ser absorvida “silenciosamente” pelo meio ambiente como um todo.

Nesse momento, 50 anos depois, muitos dos que refletem sobre Maio de 68 veem nele um marco simbólico muito forte. Essa revolta assinala o momento em que as sociedades de consumo e as sociedades aspirantes a sê-lo, como a nossa, negam consentimento, não consentem mais que o sistema de poder continue se exercendo da mesma maneira; esse fato é fundamental. O movimento não pode ser considerado um fracasso – como eu tenho lido – porque não se propôs programas; só existiria fracasso se houvesse metas não atingidas. A pauta de Maio de 68 era negar o establishment.

Foi um momento fantástico, que acontece raríssimas vezes na história. As revoltas europeias generalizadas de 1848, de Palermo à Rússia, obedecem a essa mesma dinâmica, tão rara quanto misteriosa: de uma fagulha explodiu a ideia de que o status quo não era mais aceitável. É inegável que nas décadas seguintes à de 60 houve um grande refluxo das aspirações e mesmos dos direitos civis conquistados nos anos 1960, e não apenas nos países onde se implantaram ditaduras militares. Mas, quem sabe, uma nova fagulha em 2018...


Margareth Rago (IFCH/Unicamp)

Foto: Perri
A volta do discurso do pecado original | Foto: Antoninho Perri

Maio de 68 de certa maneira abre espaço para que irrompam vários tipos de lutas específicas, no caso, a das mulheres e o feminismo. Considera-se que 1975 é o Ano Internacional da Mulher, mas é importante notar que 68 traz, entre vários temas e discussões, a questão da moral tradicional, da caretice, do engessamento das relações amorosas, afetivas e sexuais.

O movimento da contracultura também está acontecendo naquele momento, com grande crítica ao autoritarismo, às hierarquias e também às formas de sexualidade como um dispositivo que enquadra as práticas sexuais – conceito que Foucault formularia anos depois. É isso que está explodindo no final dos 60, sendo Maio de 68 emblemático nesse sentido. 

Todos esses processos acontecem na França, no México, em Praga e também aqui no Brasil, com a luta contra a ditadura, ampliada para uma crítica dos costumes. Não é à toa que vêm a Tropicália, o Teatro de Zé Celso Martinez, Ney Matogrosso, todo um movimento artístico-musical. É uma crítica também à antiga esquerda – que está sendo presa naquele momento – por um discurso de revolução que deixava de lado muitas questões. É uma mudança de paradigmas, de modos de pensar, e que para as mulheres teve um efeito impressionante.

Claro que muitas outras coisas estão acontecendo, como o acelerado processo de modernização, com as mulheres entrando em massa no mercado de trabalho e também nas universidades. Ao mesmo tempo, grande parte da classe média estava apoiando o regime: shoppings centers chegavam e casamentos começavam a acabar – até então nenhum casal se separava e ninguém falava em amor livre.

As comemorações de 50 anos são fundamentais porque oferecem um espaço político de discussão do que estamos vivendo: uma situação muito triste, com a ameaça de perda das conquistas de décadas de lutas, como dos direitos das mulheres. O discurso de Santo Agostinho, inventor do pecado original, está entrando com uma força assustadora e com ele voltam todos os preconceitos e a noção de que lugar de mulher é em casa, confinada. 

Mas também acho impossível puxar a roda da história para trás: como dizer a meninas de 15 anos, feministas que ocupam escolas, que devem ser belas e do lar? Com a massa de pobres que a desigualdade social está gerando, como querer menos violência na sociedade? As elites, além do mais, são burras, porque estão criando um mundo também para seus filhos e netos; um mundo em que jovens (não apenas pobres) estão se suicidando, por falta de perspectiva, do individualismo exacerbado, da competição muito maior do que em gerações anteriores. A situação está muito difícil e temos mesmo que falar do Maio de 68.

 


 

[1] Cf. O documentário sobre 68  « Mourir à trente ans » de Romain Goupil, realizado com filmes da época em 1982, sobre o cotidiano militante da extrema-esquerda nos liceus. Cf também o filme “No Intenso Agora” de João Salles, de 2017.

[2] Barthes, R., L écriture de l événement, Revue Communications, année 1968/  12, p109

 

 

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