Cepae da FOP oferece acompanhamento desde a gestação
Gravidez requer muito cuidado, mas também muita paciência. A novidade tem de ser quase um anúncio, senão alguém se ofende por não ficar sabendo, e a lista de recomendações ecoam o tempo todo nos ouvidos das gestantes. Mas algumas orientações são importantes, como os cuidados com a saúde bucal do bebê. No Centro de Pesquisa e Atendimento Odontológico para Crianças Especiais (Cepae), da Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP), o acompanhamento começa com a mãe e, é claro, elas aprovam. Os serviços, iniciados em 1993 pela professora da FOP Rosana Possobon, é aberto à população de Piracicaba e região.
De acordo com a coordenadora do centro, professora Luciana Guerra, o projeto pensa no ser humano de forma abrangente e envolve profissionais de diversas áreas do conhecimento. E o mais interessante é que, desde 2016, a seleção destes profissionais se dá dentro do curso de especialização oferecido pelo Centro, procurado por profissionais da FOP e de toda a sociedade. "A cada ano, amplia o interesse de gestantes e também de profissionais preocupados em se especializar pelo projeto", afirma Luciana.
A psicóloga Alessandra Arevalo da Silva, membro da equipe, procurou o curso pelo enfoque na área de desenvolvimento infantil, a qual atraiu seu interesse desde a graduação na Universidades Paulistas (Unip). Doutora em fisiopatologia pela USP, a fonoaudióloga Gleice Colombari, mesmo com bagagem em aleitamento materno hospitalar, procurou o curso do Cepae para especializar-se em odontopediatria. “Eu me encantei e tomei a decisão de participar da especialização e do projeto. Tem sido sensacional.” As duas profissionais agora são fundamentais para a equipe do Cepae e já conquistaram as mães Renata Fabiana Gustineli e Alcione Maria Pimpinato. "Comecei na gestação, e tudo o que aprendi sobre o desenvolvimento da minha filha foi com eles", declara Renata.
A fonoaudiologia atua no Grupo de Incentivo ao Aleitamento Materno (Geami), para ajudar na parte de sucção, mastigação, manejo de aleitamento materno, auxílio de ordenha, lactação e translactação, se necessário, parte clínica, identificação de alterações de motricidade, fêmur encurtado, teste da linguinha e hábitos deletérios, como uso de chupetas e dedos, que causam deformidade no crescimento esquelético ou muscular da criança.
Para Alcione, a atenção do Cepae à dentição vai além da alimentação saudável durante a gravidez e a amamentação. Com quase 2 anos, Laura ainda mama, e a atuação da psicóloga e da fonoaudióloga, entre outros profissionais, tem sido fundamental. "Elas me disseram que nos encaminhariam até para um otorrinolaringologista, se precisar. Este projeto é muito importante para a comunidade. Eles nos recebem aqui, pessoas que eles nem conhecem, e nos acompanham até a criança completar 5 anos de idade. Só temos a agradecer." Opinião compartilhada também por Renata.
São muitas as ações disponíveis na literatura e na rotina dos dentistas para reduzir problemas na dentição, mas o acompanhamento regular feito pelos Programa de Orientação à Gestante e pelo Grupo de Amamentação, por exemplo, leva além de cuidados odontológicos à população de Piracicaba. Além disso, o programa, segundo Luciana, capacita alunos de graduação e pós a atuarem na área e mais: "Muitos dentistas, ex-alunos da FOP e do curso de especialização ou estagiários do Cepae nos procuram para informar que estão aplicando a integralidade nos postos de saúde onde atuam", relata Luciana. "Não vemos o ser humano somente como uma boca", acrescenta.
Para a dentista Cristina Lisboa, o estágio no Cepae enriquece a formação dos alunos de graduação. “Por ter abordagem de todas as áreas, este curso é muito importante para os alunos de graduação porque ele começa a mostrar necessidades especiais dos pacientes, como aborda as crianças de acordo com a idade, na parte psicológica, na parte do deficiente auditivo, como consegue interferir de forma positiva, para que haja melhora. Consegue melhorar a primeira infância de uma criança. Aqui, olhamos para o comportamento da criança como um todo e orientamos a mãe em relação ao que pode ser melhorado.”
Cristina acrescenta que até mesmo a interferência do baixo peso no aprendizado, futuramente, está na preocupação dos profissionais e alunos do Cepae. Como supervisora, ela recebe as observações dos alunos em relação ao pequeno paciente. “E a gente tenta interferir, com carinho, por meio das mães, porque quando a gente é respeitada, acata melhor o que o outro nos fala.”
“Participar do Cepae é uma experiência incrível, principalmente para nós que estamos na graduação. O fato de poder atuar na odontologia infantil e acompanhar a mãe desde a gestação até a criança completar 5 anos complementa muito mais nosso currículo. Aqui, temos palestras e atendimento clínico voltado para este público”, afirma a estudante do quarto ano de odontologia Gabriela Fernanda Bombarda.
Para a estudante de odontologia Júlia Dias Silvestre, o estágio amplia a oportunidade de desenvolver pesquisas de alta qualidade, publicação de artigos e participação em eventos da área. “Ele permite o compartilhamento de ideias novas em odontologia e outras áreas porque nós encontramos profissionais de diversas áreas, vindos de inúmeros lugares, com inúmeras bagagens. Então aqui a gente consegue interrelacionar odontologia com as outras especialidades e tratar a mãe e a criança como um todo. A gente consegue visualizar os inúmeros problemas e questões da família, principalmente na primeira infância, que a gente acompanha o lado psicológico, nutricional e tudo que podemos ajudar esta criança a entrar, a partir dos 5 anos, com o máximo das doenças prevenidas”, acrescenta Júlia.
Se pensar que o Cepae faz isso há 20 anos, com registros de 400 atendimentos por mês, envolvendo alunos de graduação que aplicam a integralidade onde trabalham, faz Luciana, Gleice, Gabriela, Júlia, Cristina e até o Extensão 48 acreditar que o diálogo entre sociedade e academia deve ser contínuo.
Veja vídeo sobre o programa: