Projeto de extensão do Instituto de Biologia amplia público do Herbário da Unicamp
Os olhares curiosos se satisfazem assim que os estudantes de ensino fundamental da Escola Municipal Darcy Ana Dêgelo Briski, de Vinhedo, e do Instituto de Ensino Platão (IEP), de São Bernardo do Campo (SP), chegam ao Herbário da Unicamp (UEC), um museu que abriga a segunda maior coleção de plantas secas do Estado de São Paulo. Para a maior parte da turma, era a primeira visita ao Instituto de Biologia (IB) da Universidade, a um museu de ciência e especificamente a um acervo de plantas. “Nossos monitores e eles ficaram encantados com a estrutura dos laboratórios. As crianças ainda não tinham passado por essa experiência dentro de um meio acadêmico, o que estimulou a pensar nos seus próprios projetos da escola como ‘coisas grandes’”, revela a monitora do IEP Jennifer Fernandes.
A iniciativa de atrair o olhar da sociedade para o Herbário UEC com o projeto de extensão “Diversidade Vegetal em Foco” é das professoras Maria Fernanda Calió e Ingrid Koch e tem como objetivo ampliar as visitas ao acervo e, a partir disso, conscientizar sobre a crise da biodiversidade. “Nasceu numa compreensão da necessidade de conscientizar o público sobre a importância da universidade como centro de pesquisa e ao mesmo tempo sobre a biodiversidade vegetal. Queríamos o maior público possível da área externa, mas decidimos iniciar pela escola, porque permite uma comunicação mais fácil”, revela Fernanda.
Segundo Ingrid, a partir do projeto, é possível transmitir mensagens para valorização da conservação das plantas, mostrar a importância delas para garantir água, proteção do solo. “Se sensibilizarmos dois ou três, estamos plantando uma semente importante”. Se depender do aproveitamento de Lívia, estudante do IEP, o desejo da docente começa a ser atendido: “Gostei quando mostraram a terra seca e molhada.”
Enquanto se encantam com os experimentos e orientações, a cada troca de sala, as crianças associam a prática à teoria já visitada nas páginas de botânica do livro didático de ciências e garantem que o estudo do meio é um “passeio importante” para ampliar a bagagem: “Na escola, não aprendemos especificamente o que estamos vendo aqui. É bacana sair da escola para fazer estes passeios importantes”, manifesta Ágata, aluna da “Darcy Brinsk”.
Além de sensibilizar aprendizes, alunos de graduação e pós-graduação acreditam participar, a partir de uma linguagem acessível – e em alguns momentos lúdica – do processo de formação das crianças e até desmistificar a botânica. “A botânica tem um pouco de má fama no ensino, então as visitas nosso dão a oportunidade de perceber por que ela é mal-interpretada e perceber como a gente poderia atuar para desmistificar. O projeto de extensão faz com que eles vejam que a gente faz aqui não é tão distante do que estão aprendendo”, diz Ingrid.
Para os alunos do Instituto de Ensino Platão, de São Bernardo do Campo, em São Paulo, as informações somam-se ao projeto de biologia desenvolvido para a grade escolar. “Tenho um projeto e tenho bastante ajuda aqui; ficará bem melhor. Meu projeto é sobre plantas medicinais para a cura de diabetes”, diz a pequena Lívia. Vinte dias depois da visita ao Herbário, Jennifer afirma que os alunos ainda comentam sobre a experiência. “Eles fizeram relação do tema explicado pelos monitores com os projetos que estudam na escola. E disseram: ‘A Ciência é uma coisa só! Tudo está ligado!’”
A monitora acrescenta que a visita à Universidade "foi um estímulo infinito” e que seus alunos querem voltar para estudar detalhadamente as espécies. “Eles também se interessaram em estudar a anatomia das plantas com desenho de observação.” O interesse foi motivado na volta à escola, quando Jennifer falou sobre artes, biologia, matemática e geometria. “Eles falaram sobre a importância de observar e conseguir desenhar e expressar a qualidade e a função da planta, porque, biologicamente, as estruturas seguem padrões e a forma e função entram também na geometria, na matemática, porque é preciso e visível a harmonia desde a germinação até toda estrutura de galho.” A monitora pretende voltar ao Herbário UEC com os alunos para estudar e desenhar as plantas do acervo.
Estar fora da sala de aula com amigos pode até ser um convite à dispersão, mas os olhares se atentam para os ensinamentos sobre coleta vegetal e identificação de plantas; herborização e montagem das exsicatas; visita ao herbário com enfoque na importância das coleções de plantas; diversidade morfológica de flores, frutos e sementes; polinização e polinizadores; anatomia vegetal e sua importância nos estudos das plantas; fluxo de água, minerais e fotossíntese; plantas aromáticas; elaboração e uso de tintas naturais; compostagem; biossistemática e cromossomos; plantio de mudas em garrafas PET.
De forma didática, a biodiversidade vegetal começa a fazer parte da vida dos visitantes a partir do momento em que compreendem o funcionamento das plantas e seu papel no ecossistema. “Eu achei bacana aprender sobre a clorofila. Eu nem sabia que os animais conseguiam ver onde diretamente está o pólen na planta.” diz a aluna do IEP.
O “passeio” ao museu auxilia também o professor em sua prática pedagógica. Muitos, segundo Ingrid, levam para o cotidiano da escola a forma acessível de ensinar ciências. Para os alunos da Unicamp, monitores no projeto, a participação contribui para pensar na atuação como professor de ciências. “A participação no projeto auxilia na minha formação, e é gratificante saber que minha pesquisa não ficará aqui dentro somente para quem é da área. Precisamos também transmitir essas informações para qualquer pessoa da sociedade, já que a gente está numa universidade pública e o conhecimento não é da instituição, mas pertence a toda a sociedade, então a gente precisa encontrar uma forma de falar sobre isso de forma mais simples”, reflete Lucirene Rodrigues, aluna de pós-graduação em biologia da Unicamp.
Pode ser que o número de professores especialistas aumente com projetos como o Diversidade Vegetal em Foco, mas no momento o que as coordenadoras do projeto querem é fazer com que mais pessoas se interessem por ciência e promover, partir da extensão, a comunicação entre a Universidade e a sociedade. “A gente espera sensibilizar as pessoas e fazer com que elas fiquem apaixonadas pela ciência. Realmente no cenário atual professor não é muito valorizado em termos de salário, mas acho que existem iniciativas muito bacanas. A própria Unicamp tem programa de pós para professores de ciências. O que a gente quer é realmente poder levar para as escolas e não ficarmos isolados. Não sei se o cenário vai melhorar em algum momento, mas vai continuar tendo gente que gosta de fazer isso e não consegue fazer outra coisa. Se a gente continuar jogando luz para essas pessoas, vamos ter sim mais cientistas, talvez não na biologia mas em outras áreas.”
O projeto “Diversidade em Foco” acontece há um ano e atende alunos de ensino fundamental e médio de instituições públicas e privadas de Campinas e região, mas alunos de ensino superior e de institutos de pesquisa também podem realizar visitas, que são quinzenais e têm limite de 40 pessoas. As atividades envolvem 20 pessoas e, além dos alunos e das docentes, envolvem funcionários e estagiários.
De acordo com Maria Fernanda, o retorno é positivo. Em 2017, a equipe do Herbário UEC ofereceu treinamento a profissionais do Jardim Botânico de Jundiaí para informatização, digitalização e inclusão de espécimes de interesse de preservação em seu acervo. As orientações sobre visitas estão disponíveis na página do Herbário UEC.
Veja vídeo sobre o projeto: