Projeto de extensão do IFGW desmistifica a ciência para alunos de ensino médio há 15 anos
Chocolate e micro-ondas. Em dias levemente frios do mês de julho, estes dois vocábulos remetem a férias e filmes, descanso nas montanhas, passeio com bons amigos para um café, bolo de 15 anos. Depende. Se o assunto for sobre o evento Física nas Férias (Fife), projeto de extensão do Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW), os 15 anos foram cravados com a edição de 2018, realizada em julho deste ano, o micro-ondas e o chocolate servem para medir a velocidade da luz, o passeio com amigos, para discutir miniprojeto de mecânica quântica ou de óptica. E o lugar das férias seriam as montanhas? Por uma semana foi a Unicamp para cerca de 80 estudantes de ensino médio que participaram do evento. “Imagine explicar a velocidade da luz, utilizando micro-ondas e chocolate”, exemplifica o docente do IFGW Francisco Rouxinol, professor na primeira edição, em 2003, quando era estudante de pós-graduação.
No fim da semana, a física do dia a dia já fazia parte do universo dos escolares, e Vinicius Menezes, aluno do Cotuca, tomava como exemplo a lente da câmera utilizada na entrevista. “A gente começa a olhar para as coisas de um modo diferente. A gente aprendeu como evitar que a luz atrapalhe a filmagem, por exemplo”. E o professor Lisan Durao oferece outros exemplos práticos, a partir de conhecimentos de outra área de atuação, a música. “Mostramos a eles que o violão é uma cavidade acústica”.
Logo na abertura do evento, a diretora associada do IFGW, Mônica Cotta, mostrou aos escolares que a Física começa quando a pessoa tenta fazer uma descrição da natureza e esta descrição dá a previsão de algum fenômeno que pode ou não ser comprovado. “No Fife, tentamos mostrar a física como uma ciência produtiva. Hoje, toda nossa tecnologia depende basicamente da física.” A professora falou sobre a utilização na área médica e nas telecomunicações. “O próprio celular só existe por causa da mecânica quântica.”
E assim, estudantes de ensino médio de escolas públicas e privadas aprendem a tornar acessível toda a complexidade desta ciência, como aconteceu com Diego Scolfaro, que depois de frequentar o Fife em 2008, tornou-se aluno de graduação e pós-graduação no IFGW. Um dos professores no projeto, hoje ele quer que a física seja tão fácil quanto foi para ele. Filho de professora de matemática, Scolfaro escolheu a área de exatas sem medo de errar, mas atribui a decisão também ao incentivo de seus professores no ensino médio e aos alunos e professores do Fife.
Na escola de ensino médio onde Durao estudou, o professor de física também não poupava esforços em levar as melhores revistas científicas para a sala de aula. “Na minha adolescência, tinha um quadro no programa Fantástico, da Rede Globo, com Marcelo Gleiser, e meu professor levava revistas de ciências, até que acabei pensei: por que não? “.
Hermes Magalhães encontrou nas aulas de física, tanto na escola quanto no Fife, as informações que faltavam para concretizar seu plano de ajudar o ser humano. Definiu o campo “primeira opção” do formulário de inscrição para o vestibular 2019 e quer se especializar em física médica. “Ajudou muito porque eu vi realmente em que área vou trabalhar. Como vou usar a física na saúde para ajudar as pessoas.” Aluno do terceiro ano do colégio Rio Branco, em Campinas, ele demonstra a habilidade na disciplina durante o ensino médio e garante que a maneira como o professor transmite o conteúdo estimula o aluno.
Os vestibulandos esbarram somente em um desafio: a concorrência. Afinal, o evento, assim como a ampliação do leque de atuação, atrai um número maior de candidatos ao curso de física. Diante disso, aproveitam para explorar o máximo de informações em uma semana. Realista, Rouxinol acredita que tão importante quanto estimular o interesse em ampliar conhecimentos da área é também ajudar na decisão por outras habilitações. O Fife já ajudou tanto na escolha pela formação em física quanto em outro curso. “O evento vale por isso também, para que o estudante de ensino médio faça sua própria escolha. Já aconteceu de alguns alunos decidirem que não querem a física para o dia a dia”, pondera Rouxinol. “Mas tentamos transmitir o máximo que podemos sobre a área para eles”, acrescenta. No segundo ano do curso técnico de enfermagem, Menezes garante que se seguir carreira em outra área, pelo menos continuará estudando física, por gostar da disciplina.
De acordo com o coordenador de extensão, Mário Rodriguez, as atividades, que incluem palestras, demonstrações experimentais e visita ao Museu Exploratório de Ciências também aproximam os escolares do universo científico. Apesar de optar decididamente por Física Médica, Beatriz Viana , aluna do polo do Instituto Federal de São Paulo em São João da Boa Vista, fala com encantamento sobre suas visitas ao museu e seu interesse por astrofísica.
O início
O Fife nasceu para cumprir uma exigência do Capítulo da Unicamp na Optical Society of America (OSA), em 2003. Uma das exigências era suprir alunos de ensino médio de conhecimentos de óptica. De acordo com Rouxinol, o mentor do projeto, David Junqueira, se inspirou em uma ação de um grupo de alunos do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, que no início dos anos 2000, dedicavam uma semana do ano, a receber estudantes de educação básica para promover a inclusão na ciência.
Já na primeira edição, a equipe de alunos responsáveis pelo Fife mostrou a presença da física na rotina das pessoas, de acordo com Abner Siervo, coordenador de graduação do IFGW. Ele acrescenta que mesmo com organização a cargo da Coordenadoria de Extensão do instituto, o projeto conta com participação intensa dos alunos.
Quem quiser participar nos próximos anos precisa ficar atento e fazer como Beatriz, Igor, Hermes, André Rosera e Vinícius: manifestar ao professor de física a vontade de participar do Fife. “É uma boa motivação porque o ambiente universitário é muito característico, muito empolgante, traz um ar de ‘quero muito estudar aqui’”, declara André Rosera.
Veja vídeo sobre o projeto: