Setor é responsável por 12, 4 % das 1.121 patentes vigentes no portfólio da Unicamp
Com um vasto portfólio de patentes, a Unicamp possui tecnologias em praticamente todos os domínios tecnológicos existentes e, pelo segundo ano consecutivo, o Farmacêutico assume a liderança entre as famílias de patentes das quais a Universidade é detentora da titularidade.
De acordo com o departamento de Propriedade Intelectual da Agência de Inovação Inova Unicamp, ao todo, são 979 tecnologias protegidas vigentes – tecnicamente conhecidas como: famílias de patentes –, que se desdobram em 1.121 patentes vigentes no portfólio da Universidade, entre depósitos no Brasil, via PCT (Tratado de Cooperação de Patentes, em português) e no Exterior.
Das famílias, 122 são do domínio farmacêutico (12,4%), 100 de medição (10,2%), e 88 de engenharia química (8,98%). Elas ocupam, respectivamente, o primeiro, segundo e terceiro lugar no ranking dos domínios tecnológicos da Unicamp.
O destaque do setor Farmacêutico, na opinião da diretora de Propriedade Intelectual da Agência de Inovação Inova Unicamp, Patrícia Leal Gestic, não significa que a Unicamp tem mais expertise nessa área. A maior produtividade de docentes e pesquisadores nesse campo de estudo, diz Patrícia, tem relação com o fato desses profissionais terem mais conhecimento dos trâmites de patentes, dada a agressividade do setor e busca permanente por inovações.
“A Unicamp apresenta uma alta produtividade em diversas áreas. O ponto é que o setor farmacêutico, tradicionalmente, recebe investimentos altíssimos em pesquisa, tem uma concorrência acirrada entre os players, e a estratégia de Propriedade Intelectual é imprescindível tanto para se resguardar quanto para se manter à frente. Essa é uma visão difundida e clara para o mercado e também para a academia”, avalia Patrícia.
De acordo com o Sindusfarma, entidade associativa do setor industrial farmacêutico no Estado de São Paulo, o mercado brasileiro de medicamentos movimentou R$ 54,73 bilhões entre agosto de 2016 e agosto de 2017 – o valor representa um crescimento de 12,58% em relação ao mesmo período do ano anterior. Com isso, o mercado brasileiro equivale a 2,4% do mercado mundial, sendo o país o 8º em faturamento no ranking das vinte principais economias.
DEMANDAS DO SETOR
Na avaliação o professor Carlos Roque Duarte Correia, do Instituto de Química (IQ) da Unicamp, o destaque do setor Farmacêutico também tem relação com as oportunidades de inovação que a área oferece. “O setor Farmacêutico brasileiro ainda é pouco competitivo em termos internacionais. Há grandes demandas em quase tudo o que se refere à saúde pública. Em particular, há uma enorme demanda por medicamentos e fármacos para nossas doenças endêmicas. Isso, certamente, atrai a atenção dos pesquisadores que querem estar na fronteira do conhecimento”, avalia o docente.
“O setor Farmacêutico demanda constantemente novos desenvolvimentos, incluindo novas formulações e princípio ativos mais eficientes. Portanto, é muito importante que o pesquisador, quando chega ao desenvolvimento de uma nova tecnologia, tome as providências para patenteá-la, para que essa invenção tenha chance de se tornar um produto que traga benefícios para a área da saúde e também um retorno financeiro para a própria Universidade, após o seu licenciamento”, alerta o docente do Instituto de Química, Marcelo Ganzarolli de Oliveira, que teve uma de suas patentes da área Farmacêutica concedida no ano passado.
Trata-se de uma tecnologia voltada para formulações poliméricas que servem de veículo para a liberação localizada de óxido nítrico na pele ou em lesões. Essa tecnologia pode ser ofertada em forma de hidrogéis e pomadas. Após a aplicação tópica, o óxido nítrico atravessa a pele e aumenta a circulação sanguínea no local da aplicação. Isso é um diferencial especialmente nos tratamentos de doenças isquêmicas. A formulação tem também potencial para promover a cicatrização de lesões e combater infecções bacterianas, sem desenvolver resistência, como ocorre com os antibióticos.
“Essa é uma solução que atende a uma demanda clara de mercado. Isso nos motiva. É gratificante podermos contribuir com tecnologias que trazem benefícios para a área da Saúde”, reforça Ganzarolli. A tecnologia encontra-se atualmente disponível para licenciamento.
UNIÃO DE FORÇAS
Bem como demonstrado no exemplo anterior, engana-se quem pensa que as tecnologias do domínio tecnológico farmacêutico são provenientes exclusivamente da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unicamp.
Na verdade, estão inclusos nesse domínio tecnológico – inclusive em maioria de participação – patentes vindas do CPQBA (Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas), da Faculdade de Ciências Médicas, do Instituto de Biologia, entre outros.
Algumas dessas tecnologias também carregam uma outra peculiaridade entre as patentes desse domínio tecnológico: a interdisciplinaridade. São vários os exemplos existentes hoje no portfólio de patentes da Unicamp de tecnologias que foram desenvolvidas em parceria entre pesquisadores e docentes de unidades diferentes na Universidade.
“Essa é uma tendência. Produtos altamente tecnológicos envolvem muitas áreas do conhecimento para que possam ser, efetivamente, robustos. Isso é resultado de grandes ideias e colidência de conhecimento”, afirma a diretora de Propriedade Intelectual da Inova Unicamp, Patrícia Leal Gestic.
É o que reforça o professor Carlos Roque Duarte Correia, do Instituto de Química da Unicamp, responsável por duas tecnologias da área Farmacêutica concedidas no ano passado. “A grande maioria das pesquisas de impacto tem demonstrado a enorme relevância da interdisciplinaridade. Isso se deve à crescente complexidade no desenvolvimento de pesquisas de ponta, nas quais encontramos situações que exigem a experiência de profissionais em outras áreas. A criação de grupos de pesquisa interdisciplinares é uma tendência positiva nos dias de hoje”, avalia.
Foi nesse contexto que o professor Marcelo Lancellotti, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unicamp, desenvolveu a vacina anti-zika, cuja patente foi depositada no ano passado.
Trabalhando em conjunto com a Rede Zika – criada com o objetivo de criar um plano científico e operacional para combate ao vírus –, o professor desenvolveu essa tecnologia, que dispensa o uso da técnica de DNA recombinante, e utiliza a nanotecnologia como foco principal para combater o vírus do Zika. A tecnologia apresentou eficácia comprovada em testes in vivo.
“Esta rede é um grande exemplo de trabalho multidisciplinar, envolvendo pelo menos quatro institutos e 32 grupos de pesquisa da Unicamp”, relembra Lancellotti, ao destacar o know-how e a contribuição da Unicamp na aplicação de conhecimento na parte tecnológica.
“O pesquisador, sozinho, não vai conseguir manter todas as linhas tecnológicas de teste em um mesmo laboratório. Ciência não se faz sozinho, ao menos uma ciência de qualidade. Hoje, a tendência é pesquisa científica e tecnológica caminhando juntas e colaborando. Proteger a tecnologia não diz respeito apenas a resguardar seu direito sobre ela. É preciso olhar lá na frente, para o mercado. Esse é um caminho inevitável. A produção científica precisa dar ganhos também para a sociedade”, finaliza Lancellotti.