Cesop fica responsável por alimentar a seção Opinião Pública e Eleições, que já está no ar
Aqueles que veem a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva como improvável, certamente se perguntam quantos votos o líder nas pesquisas mesmo estando preso será capaz de transferir para Fernando Haddad, o candidato provável do PT. Análises deste e de outros aspectos das disputas eleitorais para a presidência, governos estaduais e legislativos estão disponíveis no site do Observatório das Eleições 2018, em estilo direto e linguagem acessível ao público em geral. O site, alimentado por professores, pesquisadores e alunos da Unicamp, UFMG, UERJ, UnB e de outros centros de estudos, entra no ar no momento em que se inicia a campanha eleitoral, com a propaganda, carreatas e comícios liberados desde o último dia 16, e o horário gratuito no rádio e na televisão a partir de 31 de agosto.
O Observatório das Eleições 2018 é uma iniciativa no âmbito do programa INCT (Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia) “Democracia e Democratização da Comunicação”, financiado pelo CNPq e coordenado pela UFMG. Os trabalhos são desenvolvidos em torno de cinco grandes eixos: Opinião Pública e Eleições, Eleições na Rede e Sociedade, Legislativo e Governabilidade, Judiciário e Processo Eleitoral, e Mídia e Eleições. A Unicamp participa do projeto através do Centro de Estudos de Opinião Pública (Cesop), da Coordenadoria de Centros e Núcleos Interdisciplinares de Pesquisa (Cocen) da Unicamp, respondendo pela seção Opinião Pública e Eleições, onde já estão disponibilizados artigos, mapas eleitorais de outros pleitos, históricos de pesquisas e vídeos.
“Este INCT tem como objetivo avaliar o estado da democracia no Brasil e as implicações em termos de representação, partidos e participação política. Decidimos criar o Observatório das Eleições de 2018 por conta da conjuntura bastante singular dessas eleições”, afirma o professor Oswaldo Martins Estanislau do Amaral, diretor do Cesop e coordenador da seção da Unicamp. “A ideia é produzir análises sólidas do ponto de vista científico, mas ao mesmo tempo de forma simples e didática, a fim de contribuir com o debate público. Ao mesmo tempo em que é um projeto de acompanhamento das eleições, também é de divulgação do conhecimento em ciência política produzido nas universidades.”
Sobre a questão colocada no início, Oswaldo Amaral informa que está publicada uma análise sobre identificação partidária e escolha do voto, exatamente para discutir a capacidade ou não de transferência de votos pelo ex-presidente Lula para o atual candidato a vice Fernando Haddad. “Nas pesquisas realizadas pelo Cesop, identificamos que, historicamente, 20% do eleitorado brasileiro se declara simpatizante do PT; e que, destes, 80% tendem a votar nos candidatos do partido. Ou seja, ainda que o candidato não seja Lula, há um potencial de crescimento de Haddad (ou de qualquer outro nome indicado pelo ex-presidente) de pelo menos 15%, 16% – que equivaleriam a 80% dos 20% de simpatizantes.”
Segundo Amaral, as análises na seção Opinião Pública e Eleições focam as pesquisas eleitorais pré-campanha e as que estão por sair, alimentando um banco de dados com mapas eleitorais que remontam a 1989 – as análises se estendem ao nível estadual. A seção traz ainda o perfil do eleitor de cada um dos principais candidatos com base em pesquisas de opinião e vídeos com professores da Unicamp e das outras universidades paulistas discutindo até mesmo as possíveis coligações no próximo governo; um dos vídeos trata do efeito do programa Bolsa Família nas eleições deste ano.
O coordenador do Cesop ressalta, por exemplo, um texto sobre o perfil dos indecisos, constatando que apesar do cenário aparentemente mais conturbado, o número de eleitores ainda sem voto definido mantém-se instável em relação às eleições anteriores. “A singularidade desse momento é que a campanha começa mais tarde, com os candidatos tendo apenas 40 dias para conquistar os indecisos. Em outra análise, relacionada aos bancos de dados, vê-se que as eleições vêm se reconfigurando nos últimos anos, com candidatos do PT sendo mais bem votados no Norte e Nordeste, e os do PSDB (especialmente no segundo turno) concentrando seus votos no Centro-Sul.”
Um dado surpreendente para os próprios pesquisadores, admite o docente da Unicamp, é que 53% dos eleitores não confiam na apuração de votos no Brasil. “Surpreende, primeiramente, porque o número é muito mais elevado do que se imaginava e bem distribuído entre todos os grupos sociais. Um diferencial é que as pessoas que preferem a democracia, em relação a qualquer outra forma de governo, tendem a confiar mais na apuração. Há ainda uma variação por região, que não conseguimos explicar, mas a desconfiança é generalizada, independentemente de renda, escolaridade, sexo ou idade.”
Imprevisível
Instigado a dar sua própria opinião sobre o quadro eleitoral de 2018, o coordenador do Cesop atenta que o número de candidatos está afunilando, o que demonstra que o sistema político possui seus mecanismos de defesa. “Tínhamos um quadro de muita volatilidade, com grande quantidade de políticos que se diziam candidatos, quando sabemos que ninguém tem chances na corrida se não contar com apoio. Isso faz com que os partidos procurem se acomodar, tendo em conta também a articulação política para as eleições regionais. Já não temos aquele cenário extremamente fragmentado.”
Uma exceção, na visão do pesquisador, seria o candidato Jair Bolsonaro, que aparentemente conta com um núcleo duro de eleitores e não possui alianças fortes. “Mas, no geral, o que vemos são partidos e candidatos buscando alianças, ou seja, aquela sensação de que teríamos um cenário político complemente diferente e novo, não se justifica, especialmente nas eleições para o legislativo. A própria estrutura de financiamento das campanhas, nas mãos dos partidos, tende a privilegiar políticos tradicionais e experientes. Não acredito em renovação. Para isso, é preciso ter alguém diferente em quem votar, quando são os partidos que escolhem os candidatos e dão o dinheiro de campanha.”
Voltando ao caso Lula, Oswaldo Amaral considera que o contexto torna difícil prever o desfecho. “Lula conta com grande apoio popular, em boa medida vinculado à memória do seu governo. Se for impedido de concorrer, acho que vai transferir uma expressiva quantidade de votos para quem indicar. Essa transferência seria suficiente para o Fernando Haddad brigar para ir ao segundo turno, o que depende do crescimento de Geraldo Alckmin – que tem no tempo de TV o seu ativo principal – e também de outros fatores. Bolsonaro no segundo turno também é possível, devido à pulverização dos votos no primeiro turno, mas é difícil que vença o segundo, pois tem um índice de rejeição elevado, especialmente entre as mulheres.”
Outro ator que torna qualquer previsão arriscada, acrescenta o professor do IFCH, é o Judiciário, que em sua opinião vem tomando decisões surpreendentes. “Os juízes estão apresentando decisões contraditórias no que toca à interpretação da legislação, inclusive por causa de disputas internas ao Judiciário, por vezes interferindo no próprio processo político ao tomarem para si um papel que seria do Congresso Nacional. Isso está deixando o jogo eleitoral ainda mais imprevisível.”
Participam do Observatório das Eleições 2018 projeto pelo Cesop: Beatriz Mezzalira, Mayara Rachid e Otávio Catelano, alunos de graduação do IFCH; Maria Vitória de Almeida, doutoranda em Ciência Política; e Sérgio Simoni Jr., pós-doutorando no Cesop/Unicamp. Veja abaixo os conteúdos que podem ser encontrados nas outras seções do Observatório:
É consenso entre pesquisadores que a internet e as mídias sociais terão forte impacto nas eleições de 2018. Nesta seção serão analisados dados sobre os usos da rede por candidatos e partidos políticos, e também por organizações da sociedade civil, coletivos e frentes que têm participado ativamente do processo eleitoral, com atenção especial às fake news.
Traz informações e análises sobre os principais aspectos relacionados à disputa eleitoral no Poder Legislativo, tendo como foco as regras do jogo e seu impacto sobre o comportamento dos candidatos e dos partidos; a evolução do quadro partidário no Legislativo e o futuro do Congresso Nacional; as estratégias partidárias para as disputas nos estados e no âmbito nacional; e as coalizões de governo e os cenários de governabilidade no Brasil após 2018.
Um grupo de qualificados analistas vai acompanhar os principais movimentos da justiça nas eleições e comentá-los nesta seção, que também oferece dados estatísticos e análises acerca da atuação da Justiça Eleitoral nas eleições de 2018, sobre as suas atribuições e o perfil dos ministros do TSE, além de outras informações fundamentais para a compreensão da mediação do judiciário no processo eleitoral.
Nesta seção será possível acompanhar análises sobre o comportamento da mídia durante o período eleitoral de 2018. Serão disponibilizados relatórios e artigos de opinião com o objetivo de subsidiar o debate sobre o pleito deste ano.
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