Equipes da Unicamp podem se inscrever até 2 de outubro na Proec
Luana Cordeiro é voluntária desde a adolescência, mas participar da Operação Pantanal do Projeto Rondon, em Miranda, Mato Grosso do Sul, em julho de 2018, permitiu ampliar seus conceitos sobre melhorar a vida de seres humanos e o ambiente. Para quem deseja seguir o exemplo de Luana, o edital para julho de 2019 do Projeto Rondon está aberto até 8 de outubro e contempla as Operações Vale do Acre e João de Barro, no Piauí. As equipes da Unicamp interessadas devem se inscrever até 2 de outubro na Coordenadoria de Extensão (Conex), no prédio Reitoria 6.
“Já tinha ouvido falar sobre o Projeto Rondon e uni o desejo de participar à vontade de impactar a sociedade, vidas e o ambiente, mas voltei impactada com a filosofia e a realidade de vida deles”, declara Luana. Aluna do terceiro ano de administração pública da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) da Unicamp, Luana teve a oportunidade de coordenar a oficina de direitos humanos e participar de atividades de higiene bucal para a comunidade de índios terena.
Luana e seus companheiros de operação estavam no Brasil, mas com a sensação de estar em outro mundo, numa realidade distante das dificuldades encontradas no Estado de São Paulo, onde vivem. Encontraram níveis de desigualdade inesperados, índices de desenvolvimento humano diferentes, uma carência inestimável, mas se surpreenderam com a forma de tratamento entre as pessoas e a relação destas com o ambiente. As atividades em assentamentos e aldeias, segundo Luana, modificaram a maneira de olhar para a área na qual está se formando.
“Intenso.” Tiago Jingugi Kai preferiu definir em uma palavra o Rondon. Duas semanas nas quais cada segundo foi esgotado de forma proveitosa, segundo o estudante de Ciência do Esporte da FCA, “Conhecer pessoas com culturas diferentes e realidades totalmente distantes da nossa fez com que me transformasse. Poder brincar com as crianças, interagir com as pessoas das comunidades indígenas, das escolas, dos assentamentos e de toda a cidade me provou que as relações humanas nos tornam melhores.”
O coordenador da equipe da Unicamp na expedição, professor Luciano Allegretti Mercadante, da FCA, enfatiza o impacto da vivência para ele e seus alunos, principalmente pelas adaptações exigidas ao depararem com cultura e realidade social tão discrepantes. Professor há mais de 30 anos, ele afirma que a participação na Operação Pantanal foi uma das atividades de maior impacto em sua carreira. As relações humanas vividas no Rondon, segundo ele, não foram comuns à rotina da equipe e promoveram experiências emocionais grandiosas pela intensidade e diversidade. “Quando você sai de um Estado como São Paulo e vai para uma cidade de IDH baixo, uma enorme diferença entre ricos e pobres, com indígenas, povoados, assentamentos e uma população carente em diversos aspectos, contrastando com empresas e fazendas agropecuárias enormes, começa a viver uma experiência que jamais imaginava.”
“O que mais me chamou atenção foi a discrepância da desigualdade social. Numa manhã, estávamos com crianças muito desprovidas de afeto, atenção e com dificuldades financeiras. À tarde, conhecíamos pessoas de cargos altos e com um poder aquisitivo gigante”, acrescenta Kai. Durante a estada em Miranda, ele realizou oficinas sobre drogas e álcool e transformação de lixo em brinquedo. “Também pudemos aplicar atividades e brincadeiras pedagógicas com a comunidade de Miranda, principalmente crianças.”
Os ditados populares foram tema de uma oficina de direitos humanos oferecida por Luana. “Quantos ditados repetimos sem pensar no quanto ferem o direito do outro e até mesmo a Constituição? Tive a oportunidade de conversar sobre isso com as crianças.” Os rondonistas ofereceram mais 24 oficinas em cinco aldeias indígenas, dois assentamentos, seis escolas de ensino fundamental, três de ensino médio, dois povoados e uma escola rural durante duas semanas, além de participarem das festividades de aniversário da cidade, com Feira Ecológica, Cultural, Indígena e Rural e desfile cívico.
Oportunidade única é expressão a ser respeitada e Luana e Kai sabem que não voltarão ao Rondon, mas acham importante ser modificados (para melhor) em uma dose “intensa”. Em 2019, mais estudantes e professores poderão conferir pessoalmente as experiências descritas pelos alunos.
Tempo, tempo
Em Miranda, Luana e Kai nem ouviram a campainha tocar. Não porque estivesse longe de sua sala de aula, mas porque estava numa classe sem relógio, sem sinal para a merenda ou o término das atividades, onde a relação de tempo e, logo de confiança, é princípio. Quem determina o tempo é o tempo. “O contato com a população de Miranda me fez enxergar minha área com mais amplitude, a partir de outros pontos de vista que não eram os meus. A dinâmica social deles é tão diferente que nos faz pensar no que acontece em nossa vida. Nós voltamos diferentes.”
“Lá tem coisas que nossa cultura esqueceu. A escola indígena, por exemplo, não tem relógio, e as coisas acontecem”, ressalta Mercadante. Ele acentua que o tempo de tudo é respeitado na aldeia. A logística planejada em solo paulista foi totalmente alterada, diante da realidade da comunidade indígena visitada logo no primeiro dia, pelo tempo para as pessoas se olharem e se aproximarem, seguido pelo tempo das apresentações pessoais, das conversas e risadas informais, para depois iniciar qualquer oficina ou trabalho, segundo Mercadante. Além do respeito ao tempo, o respeito do aluno e de toda a comunidade pelos professores também não foi esquecido pela cultura indígena.
Um vídeo com entrevista realizada pela equipe da Diretoria de Comunicação da Proec com o professor Luciano Mercadante sobre a experiência na edição de 2018 do Projeto Rondon está disponível no canal Proec Unicamp no Youtube.
Veja o vídeo: