Imagem fundo branco com escrita a esquerda "Vozes e silenciamentos em Mariana. Crime ou desastre ambiental?", no lado direito mapa com a extensão do desastre.

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Nem sempre é o que parece ser

Depois de premiada cinco vezes como a “melhor mineradora do Brasil”, Samarco tenta resgatar sua imagem

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A empresa Samarco foi premiada cinco vezes pela revista Exame – três consecutivas como a “Melhor Mineradora do Brasil”, a última aconteceu em julho de 2015 – quatro meses antes do rompimento da barragem de Fundão. A empresa luta para restabelecer sua imagem, após virar assunto negativo em diversos noticiários do país e do mundo.

Quais teriam sido os critérios de avaliação e premiação? É importante considerar que esta mesma empresa premiada foi responsável pelo maior desastre ambiental do País – que poderia ter sido evitado, se normas de segurança tivessem sido cumpridas. Uma interpretação possível está contida na fala do pesquisador Wilson Bueno, ao escrever o artigo “A farsa dos cases e das premiações” sobre a falta de responsabilidade social e ambiental das empresas publicada na revista eletrônica Comunicação Empresarial on line.

Empresas que degradam o meio ambiente buscam, agressivamente, conquistar prêmios de responsabilidade ambiental, criam a figura de embaixadores ambientais, fazem qualquer negócio para ‘tapar o sol com a peneira’. Como diz o ditado: ‘por fora, bela viola; por dentro, pão bolorento’ – tudo não passando de uma santa hipocrisia do tipo ‘me engana que eu gosto’

A suspensão das atividades de mineração provocou uma crise econômica na região. Exatamente por isso, o prefeito de Mariana, Duarte Eustáquio Gonçalves Júnior, em entrevista aos estudantes da Unicamp que estiveram na cidade, em 4 de junho de 2016, expôs a necessidade da liberação de recursos junto ao então presidente em exercício, Michel Temer. Apesar do reconhecimento do problema ambiental, Gonçalves Júnior defendeu a retomada das atividades da Samarco. “Não dá para continuar penalizando a população. A mineração é importante para nossa economia”, defendeu o prefeito. O prefeito se comprometeu, no entanto, a recuperar as áreas degradadas no município.

Vamos recuperar o município de Mariana e o Rio Doce. Todo dia matávamos um pouco o Rio Doce, com o lançamento de esgoto de várias cidades circunvizinhas. Não adianta falar que antes da tragédia alguém fazia algo por ele. Já estava numa situação muito complicada – como se estivesse na UTI e a Samarco desligasse o aparelho. Agora vamos fazer o tratamento do esgoto das 39 cidades que lançam diuturnamente dejetos no Rio Doce, podendo chegar a 40 com a participação de Ouro Preto.

No tocante à transformação de Bento Rodrigues, em ruína, Gonçalves Júnior destacou a necessidade da construção de algo que seja sustentável.

Não adianta fazermos algo que posteriormente o município tenha que aportar recursos para a manutenção – como um memorial ou museu. Queremos também que a ‘nova Bento’ seja construída de forma resiliente, com placas solares, calhas para captação de água da chuva, calçamento intertravados para a impermeabilização do solo – passando assim a ser referência, pois será um local de muita visitação

Apesar de reconhecer a sua responsabilidade pelo desastre de Mariana, por ter assinado o termo de conformidade para a operação da extração do minério, Gonçalves Júnior questionou a cobertura da mídia. Em sua opinião, os veículos de comunicação fizeram apenas críticas, sem destacar as mobilizações de moradores e funcionários pela retomada de funcionamento da empresa.

A prefeitura de Mariana tem acompanhado as famílias atingidas pelo desastre com assistência médica e psicológica, entre outras. “Essa tragédia é um grande ensinamento e um milagre de Deus. Perdemos 19 vidas, mas se fosse à noite teriam morrido mais de mil pessoas, sem chance nenhuma de escapar alguém”, lembra o prefeito.

A Igreja Católica também foi muito importante no apoio às vítimas e seus familiares. A Cáritas Brasileiras e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lançaram a ação Gesto Solidário em defesa dos direitos das vítimas da tragédia do Rio Doce, com o lema “direitos violados, vidas destruídas”. A Arquidiocese de Mariana colaborou para a publicação mensal do Jornal A Sirene, veiculado sempre no dia 5 de cada mês (ver mais detalhes no capítulo 4).

 

Referências

ARQUIDIOCES de Mariana emite nota lamentando desastre em Bento Rodrigues. Cáritas Brasileira, Nov. 2015. Acesso em: 10 abril. 2016.

BUENO, W. C. Comunicação Empresarial: Políticas e Estratégias. Saraiva, 2009. p.244.

SAMARCO é premiada como a melhor mineradora do Brasil. Portal 27, Jun. 2015. Acesso em: 10 abril. 2016.

 

Maria Angelina Bueno Pereira Leite é graduada em Jornalismo pela Universidade Metodista de Piracicaba e em Administração de Empresas pela Fundação Karnig Bazarian, pós-graduada em Gestão de Conteúdo de Comunicação pela UMESP e é aluna especial do Mestrado em Divulgação Científica e Cultural pela Unicamp. Jornalista e professora de ensino superior nas Fatecs de Tatuí e Santana de Parnaíba, onde ministra as disciplinas Promoção e Merchandising, Publicidade e Propaganda e Comunicação Empresarial. Atua também como Coordenadora de Ações Culturais no município de Pereiras.

 

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Foto: Reprodução

 

 

 

Imagem de capa JU-online
Usina Risoleta Neves (Candonga) | Fonte: Douglas Magno, site O Tempo

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