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Projeto avalia presença e mobilidade de resíduos de fármacos veterinários em SP

Pesquisas reforçam os riscos do uso indiscriminado de algumas categorias de medicamentos

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Na condição de um dos maiores produtores de proteína animal do mundo, o Brasil figura, consequentemente, entre os líderes de consumo de fármacos veterinários do planeta. Contudo, muitos deles, por mais que sejam importantes para o bem-estar animal e para aumentar a produtividade da pecuária brasileira, são utilizados sem controle. Ademais, os fármacos veterinários, de modo geral, são pouco metabolizados, o que faz com que grandes quantidades desses produtos sejam lançados diretamente no ambiente, seja no solo ou na água.

Dessa forma, avaliar a presença e mobilidade dos resíduos de fármacos veterinários no meio ambiente foi um dos objetivos de um projeto temático desenvolvido ao longo de quatro anos na Unicamp. A pesquisa foi financiada pela Fapesp e conduzida pelas docentes Susanne Rath e Anne Hélène Fostier (ambas do Instituto de Química – IQ) e pelo professor José Roberto Guimarães (da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo – FEC). Participaram também 3 pós-doutorandos e 28 alunos de doutorado, mestrado e iniciação científica.

Foto: Scarpa
A professora Susanne Rath: “No Brasil ainda se usa antimicrobianos sem finalidade terapêutica”


Os desafios da pesquisa

O projeto, ao longo do seu percurso, foi repleto de desafios. Em um primeiro momento, o obstáculo era desenvolver métodos de análise que permitissem quantificar esses resíduos no ambiente, já que a concentração deles é muito baixa, da ordem departes por trilhão (ng/L ou ng/kg).

E mesmo com a possibilidade de desenvolver esses métodos, os pesquisadores esbarraram em outra questão: o grande número de insumos farmacêuticos ativos no mercado e a ausência de informações qualificadas disponíveis, mesmo em órgãos governamentais, entre os quais o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

Por isso, o projeto focou em famílias de medicamentos. A primeira delas foi a de antimicrobianos, por causa do amplo emprego e da resistência antimicrobiana que já é conhecida no mundo inteiro. Portanto, há um apelo muito grande. “No Brasil ainda se usa antimicrobianos sem finalidade terapêutica, principalmente na criação de frango, como aditivo melhorador de desempenho, também conhecidos como promotores de crescimento. Em outros países isso já é proibido. Aqui no Brasil este assunto está em discussão e, como exemplo, temos a recente proibição do uso da colistina. A segunda classe é a dos antiparasitários, largamente empregados na criação animal”, comenta a professora Susanne, uma das responsáveis pela pesquisa.

Outro desafio do projeto era conseguir informações de uso de medicamentos junto aos produtores. “Não adianta coletar solo para análise em regiões onde não são mantidos os animais que receberam medicação. Precisávamos ter a cooperação dos produtores para que permitissem estudos no local”, relata Susanne. Nesse ponto, ela também se deparou com o receio dos produtores em fornecer informações sobre o que era administrado nas criações.

Foto: Divulgação
Integrantes da equipe (acima) e pesquisadores em trabalho de campo e em laboratórios

Foto: Reprodução


A partir disso, os pesquisadores procuraram compreender a mobilidade de famílias de fármacos no solo e prever o destino dos mesmos no ambiente, assim como avaliar sua dissipação. Eles seriam, por exemplo, sorvidos pelo solo ou poderiam ser lixiviados e contaminar lençóis freáticos? A composição do solo poderia influenciar esse processo? Diferentemente da água, o solo é uma matriz extremamente complexa, que varia muito de acordo com a sua localização geográfica, tanto a fração mineral como a orgânica.

O trabalho permitiu aos pesquisadores prever a partir da estrutura molecular dos fármacos e da composição dos solos o destino desses compostos no meio ambiente, o que é importante na avaliação de seus impactos.
 

Sinal de alerta

O amplo uso dos fármacos veterinários, principalmente os antimicrobianos, acende o alerta para o aumento da resistência antimicrobiana, tornando micro-organismos resistentes aos fármacos existentes, o que pode afetar a saúde humana e impactar a biota.

Por isso, Susanne reforça a necessidade do controle da venda dessa categoria de medicamento veterinário, que não tem o mesmo rigor de quando destinado ao uso em humanos. A docente defende também a necessidade de estudos de impacto ambiental aplicados à realidade brasileira para que empresas consigam registrar novos medicamentos, como acontece na Europa, e que seja realizado um monitoramento amplo da presença dos resíduos no meio ambiente, já que os dados disponíveis atualmente são esparsos.

Ao todo, o projeto resultou em 32 artigos já publicados (e mais 7 aguardando publicação), 10 dissertações de mestrado, 8 teses de doutorado e 51 trabalhos apresentados em congressos nacionais e internacionais.

 

Imagem de capa JU-online
Audiodescrição: Em laboratório, imagem em perfil e plano médio, mulher sentada em cadeira, à direita na imagem, movimenta com a mão direita um mouse que encontra-se sobre uma mesa à frente dela, sendo que ela olha para um monitor de lcd à frente dela, mantendo o braço esquerdo baixado. À frente dela, há uma extensa mesa retangular de madeira em tom branco, com móveis embutidos embaixo, e sobre a qual estão vários equipamentos modernos semelhantes a cpu de computador. Ela usa jaleco branco. Imagem 1 de 1.

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