Curso para vestibulares, feiras tecnológicas, palestras e ações ambientais estão entre as atividades do PET Engenharia Química
Levar uma feira de tecnologia produzida por alunos da Unicamp para o terreno da escola pública. Esta é ou não uma forma eficaz de divulgar ciência e estimular a continuidade da formação acadêmica? Estudantes da Unicamp integrantes do Projeto de Educação Tutorial em Engenharia Química (PET-EQ) apostam nesta e em outras atividades para atrair a atenção de alunos de escolas públicas para a produção acadêmica como um todo, mas principalmente para a área em que estão se graduando. Entre as primeiras missões está o convencimento sobre a diferença entre sua profissão e a de um químico. De acordo com o professor da Faculdade de Engenharia Química da Unicamp (FEQ) e coordenador do PET, Flávio Vasconcelos da Silva, há seis anos, além da feira, o PET-EQ abriga um projeto ambiental chamado 5 R´s, um conjunto de palestras sobre a vida acadêmica e, mais recente e ousado, o cursinho Joule, que não é bem um pré-vestibular, mas um aprimoramento de vestibulandos.
O conhecimento é transmitido em linguagem e práticas acessíveis, de acordo com a realidade dos escolares. A construção de um protótipo de uma fábrica de refrigerantes, por exemplo, aproxima os jovens da rotina do engenheiro químico, mas pode também despertar a curiosidade para outras áreas. A experiência, realizada com alunos de ensino médio inscritos no programa Pibic-EM da Pró-Reitoria de Pesquisa (PRP) da Unicamp, é levada para a escola dos participantes dentro da Feira de Tecnologia. Em vocabulário prático, a ideia é levar uma parte da universidade para a escola e estimular outros jovens a se tornarem um aluno de graduação e, futuramente, um profissional. “Seja em engenharia química ou na área que escolher”, afirma a futura engenheira Joyce Gomes. Oriunda de escola particular, Joyce pretende oferecer à população da escola pública a oportunidade que teve de chegar a uma instituição de ensino superior de ponta.
Aluno da Escola Estadual Professora Hercy Moraes, de Campinas, e do Pibic-EM, Vinicius Augusto Beneti admite que a experiência no PET, de fato, desmistificou muitos conceitos que tinha sobre engenharia química. Aquela cena cinematográfica secular de explodir laboratórios foi apagada assim que pôde acompanhar a rotina do laboratório e desenvolver um projeto ao lado de futuros engenheiros. “Eu vou levar para a vida toda. Sempre gostei dessas coisas relacionadas a pesquisa e esta experiência vai me ajudar quando eu tiver de escolher minha profissão. Quando eu vim pra cá, eu não sabia muito bem o que era. Confundia muito com experimento, confundir as coisas, mas agora estou gostando bastante de engenharia química.”
Tanto na feira quanto na atividade intitulada Palestras, os universitários esperam sempre inspirar outros jovens a darem continuidade em sua formação acadêmica. “Sempre identifico alguém, vejo os olhos brilharem enquanto falamos. Em uma das palestras, uma menina veio até mim e disse que decidiu prestar Unicamp. Eu espero encontrá-la aqui em breve”, recorda Joyce, satisfeita com o retorno.
Ao falar sobre a vida acadêmica, os alunos enfatizam os editais de bolsas do Serviço de Apoio ao Estudantes (SAE), que envolvem auxílio moradia, transporte e até trabalho em diversas áreas da Universidade. “Nós queremos mostrar a eles que é possível estar na Unicamp, mesmo sendo de escola pública. Mostramos que a Universidade é para todos, e eles podem prestar o vestibular”, enfatiza Vitor Augusto Oliveira da Silva, do quarto ano.
Para o professor Flávio Vasconcelos da Silva, a atividade de extensão no PET também dá subsídios para o desenvolvimento dos alunos da Unicamp, a partir do momento que permite, durante a graduação, a atuação no espaço escolar e como professores no Joule. Em sua opinião, a atividade também chama atenção dos alunos para questões sociais.
De acordo com o docente, as aulas do cursinho são totalmente ministradas por graduandos, aos sábados. Uma resposta rápida e que deixou contentes os alunos que lecionam no Joule foi o preenchimento de vagas poucas horas após anunciarem a iniciativa no facebook. Candidatos de diversos cursos entraram na corrida por reforço na preparação para a jornada de vestibulares. “Focamos o vestibular da Unicamp, mas isso não impede que os interessados se inscrevam”, declara Luís Miguel Ferreira. A proposta do Joule é dar atenção especial ao conteúdo de exatas, o que converge com as expectativas de alunos como Isabel Pallaro, que presta seu terceiro vestibular para pedagogia. “Tenho mais dificuldades nas provas de exatas. Os alunos da Unicamp são muitos bons, tiram todas as nossas dúvidas, mas precisamos nos dedicar, estudar em casa também.”
Para Tainara de Souza, que pretende seguir a carreira de engenheira ambiental, as disciplinas de física, matemática e química precisam estar na ponta dos dedos, então a criação do Joule aconteceu no momento certo. “São as disciplinas nas quais mais tenho dificuldade”, confessa.
5 R’s
O movimento pela preservação começou com três Rs, depois quatro e hoje são cinco. O desenvolvimento contínuo de pesquisas científicas e tecnológicas contribui para ampliar as discussões sobre o que é viável para a preservação ambiental, e Carolina Bearzotti, aluna de engenharia química, garante: “Temos de ir além da reciclagem, até porque ela exige um alto consumo energético”. Entre várias atividades com foco no ambiente, Carolina e outros estudantes coordenaram uma oficina com alunos da rede pública na qual copinhos depositados para reciclagem no restaurante universitário foram transformados em um chaveiro. Sim, aquele produto que você recicla pode ainda ter utilidades.
Segundo Carolina, o grupo precisou recolher centenas de copos para produzir um chaveiro, mas a produção foi importante para constatarem que não basta comprovou a utilidade além da reciclagem. “A reciclagem não é o fim, logo, não é a atitude mais eficiente para preservação porque ela tem uma grande demanda energética. Outras atitudes são mais efetivas e sustentáveis.” Para ela, além de ensinar, atividades como esta ampliam a consciência ambiental.
Para Joyce, uma forma de divulgar ciência é matando a curiosidade. Ela revela que quando os alunos chegam à Unicamp e veem um equipamento funcionando sozinho, somente por meio de uma programação, os olhos se abrem de curiosidade. “Eles descobrem o quanto a engenharia química está presente no cotidiano deles, dentro da casa deles. E isso pode estimulá-los a querer ser um aluno de graduação ou um profissional não somente de engenharia química, mas de outras áreas.”
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