Pesquisador Marcos Alves, do CPQBA-Unicamp, participa da criação de Centro de Biotecnologia no Instituto Politécnico de Castelo Branco, em Portugal
A colaboração internacional entre docentes e pesquisadores de universidades é uma atividade frequente. É comum a realização de pesquisas e a elaboração de artigos científicos em conjunto. Também é usual o intercâmbio de estudantes de pós-graduação orientados pelos líderes dos grupos envolvidos. O pesquisador Marcos Nopper Alves, da Divisão de Agrotecnologia do Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas (CPQBA) da Unicamp, integrou um projeto que contemplou todas essas dimensões, mas foi além. Ele contribuiu decisivamente para a instalação do Centro de Biotecnologia de Plantas da Beira Interior (CBPBI) junto ao Instituto Politécnico de Castelo Branco, em Portugal.
O CBPBI, espécie de CPQBA com sotaque lusitano, está em operação há quatro anos e tem apresentado uma produção científica bastante promissora, segundo Alves, que é doutor em Biologia Vegetal. Lá, os pesquisadores portugueses têm investigado principalmente plantas frutíferas, com o objetivo de obter variedades mais produtivas e resistentes. “Embora a unidade seja muito recente, já é possível constatar que o trabalho deverá trazer resultados importantes tanto do ponto de vista cientifico quanto econômico. Um dos objetivos do Centro é agregar valor à produção dessas plantas. Isso pode ser feito, por exemplo, por meio da extração de óleos essenciais que sejam de interesse das indústrias farmacêutica e de cosméticos”, explica.
Além do avanço das pesquisas em nível de bancada, outras atividades importantes estão em andamento, segundo Alves. Uma ação estratégica adotada pelo CBPBI foi a instalação de uma incubadora para abrigar startups. Essas empresas de alta tecnologia deverão ajudar a tornar aplicáveis as descobertas feitas pelo Centro. Outro dado importante é que a relação entre CPQBA e CBPBI deverá ganhar corpo. As duas unidades estão em entendimento para viabilizar a mobilidade de estudantes, pesquisadores e docentes, de modo a internacionalizar ainda mais suas pesquisas e, assim, fazer com que o conhecimento avance sem o limite de fronteiras.
Nos dois anos em que passou em Portugal ajudando a criar o CBPBI, Alves diz ter vivido excelentes experiências no campo profissional e também pessoal. “Trabalhar com os colegas portugueses num projeto de tamanha envergadura foi muito gratificante. Estabelecemos um ambiente de cooperação muito positivo. O envolvimento dos cientistas e das autoridades locais foi fundamental para o sucesso da nossa empreitada. Sob o ponto de vista pessoal, também só tive ganhos. Tive a oportunidade de levar a família para ficar comigo. Além disso, pude experimentar o modo de vida dos portugueses, o que contemplou obviamente a hospitalidade, a gastronomia e a enologia”, relata.
Histórico
A criação do CBPBI cumpriu um longo e tortuoso trajeto e contou com a colaboração de diversos atores, como faz questão de observar Alves. De acordo com ele, os primeiros contatos entre as representações brasileira e portuguesa ocorreram entre os anos de 2007 e 2008. Na ocasião, foi firmado um convênio para o desenvolvimento de pesquisas em torno de plantas com potencial energético. A iniciativa, porém, não prosperou. Entre 2008 e 2009, Alves fez sua primeira viagem a Portugal, com o propósito de viabilizar um projeto para a produção de Jatropha, planta também com potencial energético, via cultura de tecidos vegetais. Por causa das dificuldades do desenvolvimento da espécie in vitro, a iniciativa não teve continuidade.
Já entre 2010 e 2011, a Câmara Municipal do Fundão, cidade portuguesa localizada no Distrito de Castelo Branco, cedeu uma área de 100 ha para a instalação de uma biofábrica, com o propósito de promover a produção extensiva de plantas para reflorestamento e produção de biomassa, para suprir as necessidades de material para queima nas usinas termoelétricas da região. “Naquele momento, solicitaram que eu elaborasse um projeto que envolvesse áreas de pesquisa em química, microbiologia e farmacêutica. Infelizmente, a ideia não avançou por falta de interesse de investidores privados”.
Finalmente, em 2013 Alves foi convidado para visitar o Instituto Politécnico de Castelo Branco a fim de viabilizar um centro de biotecnologia que pudesse ser o embrião de uma futura biofábrica. As tratativas deram origem a um novo convênio envolvendo Unicamp, CPQBA e Instituto Politécnico já com o intuito de criar o CBPBI. “O Instituto Politécnico nos cedeu um espaço que era ocupado anteriormente pelo seu Departamento de Artes. Nós o adaptamos às nossas necessidades. Nossa missão estava voltada para dois objetivos: desenvolver pesquisas na área de biodiversidade [manejo, cultivo, produção e conservação] e em bioprospecção [fitoquímica, microbiologia e farmacologia]”.
O projeto obteve financiamento da ordem de 3 milhões de euros por parte do Sistema de Apoio a Infraestruturas Científicas e Tecnológicas de Portugal. Os recursos foram aplicados na reforma física do edifício e na aquisição de equipamentos de campo e para os laboratórios. Em 2015, a unidade foi inaugurada. “Foi um desafio e tanto, mas o objetivo foi alcançado. Atualmente, o CBPBI está em pleno funcionamento e os primeiros resultados das pesquisas estão surgindo. Tanto é assim que já tivemos a oportunidade de publicar artigos em revistas científicas de alto impacto. Futuramente, novos projetos surgirão entre o CPQBA e o CBPBI. Tudo isso graças ao compromisso principalmente da Unicamp, do Instituto Politécnico de Castelo Branco e do presidente da Câmara Municipal do Fundão, função que equivale à de prefeito no Brasil, Paulo Alexandre Bernardo Fernandes, que não mediu esforços para viabilizar o projeto”, registra Alves. Segundo ele, a Câmara do Fundão pode ser uma porta de entrada para startups brasileiras que desejam entrar no mercado europeu.