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Lançamento narra as origens da Unicamp e do polo tecnológico de Campinas

Livro escrito por Guilherme Gorgulho descreve o cenário que levou à criação da Universidade e seu papel no desenvolvimento científico do país

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Lançamento narra as origens da Unicamp e do polo tecnológico de Campinas

A Editora da Unicamp lança neste mês o livro Massa crítica: Unicamp e a origem do polo tecnológico de Campinas (208 p.), do jornalista Guilherme Gorgulho. O evento de lançamento acontecerá no dia 30 de outubro, às 16h30, no estande da Agência de Inovação Inova Unicamp, na área de exposição do evento  Inova Campinas, e contará com um bate-papo do autor com o físico José Ellis Ripper, ex-diretor do Instituto de Física Gleb Wataghin e um dos protagonistas da história narrada na obra.

Apoiado em 70 horas de entrevistas, em reportagens de periódicos da época e em documentos de arquivos públicos e privados, o livro apresenta os acontecimentos que levaram à união de cientistas, professores, técnicos e estudantes para a criação da Unicamp em 1966. Relacionando a fundação da universidade com o desenvolvimento do polo tecnológico de Campinas, um dos mais importantes núcleos científicos do Brasil, a obra permite, por meio de uma detalhada investigação, compreender ainda mais a importância desta universidade para os avanços científicos e tecnológicos do país.

Guilherme Gorgulho, bacharel em jornalismo e mestre em Divulgação Científica e Cultural, respondeu questões sobre a produção do livro.

Editora da Unicamp: Como surgiu a ideia de escrever Massa Crítica?
Guilherme Gorgulho: Esse livro surgiu de uma iniciativa do professor Julio Hadler Neto, do Instituto de Física “Gleb Wataghin”, que me propôs escrever a obra quando ele era coordenador do Fórum Pensamento Estratégico (Penses), órgão que existiu no Gabinete do Reitor entre 2013 e 2017. Eu trabalhava como jornalista do Penses e comecei a fazer entrevistas com personagens importantes ligados à história da Unicamp e da constituição do polo de tecnologia que se formou em Campinas a partir dos anos 1970. O projeto do livro foi desenhado e iniciado em 2013 e a pesquisa começou a ganhar corpo com entrevistas e pesquisas em acervos públicos e privados, incluindo também hemerotecas.

Editora da Unicamp: O livro reconstitui parte da história da Unicamp de uma maneira muito dinâmica, recriando diálogos e contextualizando cada momento narrado. O que motivou a escolha desse estilo mais despojado?
Guilherme Gorgulho: Eu escolhi escrever a obra no estilo do jornalismo literário com o objetivo de ampliar o leque de leitores e permitir que essa história ultrapassasse as fronteiras da academia e pudesse ser mostrada a um público mais amplo. É essencial que a sociedade compreenda o papel da universidade no atual momento da história do Brasil e perceba a importância dos investimentos em ciência, tecnologia e inovação para que o país tenha um desenvolvimento autônomo e consolidado, valorizando seus pesquisadores e fomentando a independência tecnológica e científica. É importante ressaltar que todos os diálogos foram reproduzidos tal qual foram narrados pelos próprios personagens, seja por meio de entrevistas, em transcrições de documentos ou outras fontes.

Editora da Unicamp: A proposta da obra é relacionar a fundação da Unicamp com o surgimento do polo tecnológico de Campinas e tentar entender se houve um planejamento por trás de tudo ou se as coisas se desenrolaram de maneira mais espontânea. Qual a sua conclusão sobre isso?
Guilherme Gorgulho: Com base na minha pesquisa, defendo que a criação desse polo tecnológico em Campinas foi decorrente de uma confluência de fatores e não de um projeto com linhas claras. Primeiro, a criação da Unicamp, em 1966, e a proposta do reitor Zeferino Vaz de torná-la uma instituição moderna e com foco em pesquisa. Em segundo lugar, o Brasil vivia um momento de crescimento econômico intenso, entre o final dos anos 1960 e início dos 1970, que permitiu a injeção de muitas verbas nesse projeto de formação de recursos humanos e competência científica em Campinas. O sucesso dessa iniciativa também foi decorrente das boas relações de Zeferino Vaz com a cúpula da ditadura militar. A partir dessa base, importantes instituições públicas de pesquisa e desenvolvimento tecnológico foram criadas e empresas foram atraídas para esse polo, resultando na criação de produtos nacionais cujo mercado era garantido pelas companhias estatais. Destaca-se que o principal setor abarcado por esse sistema de inovação foi o de telecomunicações, uma área em que o Brasil tinha demanda, mas que até o final dos anos 1970 era dominado por empresas multinacionais.

Editora da Unicamp: Durante a pesquisa para a produção do livro, qual acontecimento da história da Unicamp mais chamou sua atenção?
Guilherme Gorgulho: O que mais chamou minha atenção foi o grau de proximidade do reitor Zeferino Vaz com governos do regime militar e como essa relação foi essencial para a canalização de verbas federais para o início da Unicamp e para a aproximação com a indústria. Sem as relações pessoais e institucionais de Zeferino e da Unicamp com os governos federal e estadual, a história seria muito diferente. Esse é um exemplo nítido do grande peso que as relações políticas têm no desenrolar da história. Mesmo que houvesse competência técnica, recursos humanos e financiamento, esse polo de inovação não teria se constituído sem a influência política de seus protagonistas nas decisões de governo.

Editora da Unicamp: A figura controversa do primeiro reitor da Unicamp, Zeferino Vaz, é muito destacada, já que foi o principal nome na criação da Unicamp ao mobilizar especialistas de várias áreas para trabalharem em uma universidade ainda em construção. O livro também deixa claro como isso foi um processo difícil, por diversos motivos. Como isso foi superado, tendo em vista o êxito da universidade, que se consolidou como uma das principais do país?
Guilherme Gorgulho: Uma parte dos civis e militares que assumiram o poder após o golpe militar de 1964 – causando enormes prejuízos ao país e que são sentidos até hoje – tinha consciência de que o Brasil precisava de autonomia tecnológica para poder crescer de maneira consistente e independente de ingerências externas. Na Unicamp, houve um movimento de resgate de cientistas evadidos para o exterior, atraídos com a promessa de que as condições de trabalho seriam muito boas. Apesar das crises e da ascensão de governos pouco atentos ao tema nas décadas seguintes, a Unicamp continuou crescendo e conquistando mais espaço no sistema de ciência, tecnologia e inovação. Isso foi feito com uma estratégia consistente que incluiu a criação de um escritório de transferência de tecnologia, em 1990, e, posteriormente, a constituição da Agência de Inovação da Unicamp, na década seguinte, além da autonomia financeira e de gestão, conquistada em 1989, entre outras iniciativas. Hoje, lamentavelmente, há uma ameaça no cenário nacional de repetição da “fuga de cérebros” ocorrida nos anos 1960, caso seja mantida a política deliberada de enfraquecimento e extinção de agências de fomento e de cortes de verbas para pesquisa e para as universidades.

Editora da Unicamp: O polo tecnológico de Campinas acompanhou as mudanças políticas e econômicas do Brasil e do mundo ao longo dos anos, passando por duas crises do petróleo, pelo governo militar e pela redemocratização, pela inflação do fim dos anos 1980, pela privatização do setor de telecomunicações e tantos outros acontecimentos. Mesmo com altos e baixos, manteve-se relevante, principalmente nos últimos meses, com a inauguração do acelerador Sirius. Qual a real importância desse polo nos dias de hoje?
Guilherme Gorgulho: Não estava no escopo da minha pesquisa fazer uma análise desse processo até os dias de hoje. No entanto, destaco que a construção do Sirius é um marco para a ciência brasileira que só pôde se tornar realidade pelo êxito do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron, inaugurado em 1997. Esse novo capítulo da história da ciência nacional é resultado da interação, competência e influência de atores que já estavam envolvidos nesse ambiente inovador algumas décadas antes.

Editora da Unicamp: O seu livro permite, além desse resgate histórico ao longo das entrevistas, vislumbrar qual o futuro do polo tecnológico? Quais as dificuldades atuais?
Guilherme Gorgulho: Não tive a pretensão de antever quais caminhos o polo tecnológico pode tomar nos próximos anos, mas sim construir uma narrativa histórica sobre os percalços que levaram à sua criação e consolidação. No entanto, são perceptíveis as semelhanças entre o atual momento que o Brasil vive e os anos que antecederam a constituição desse polo, como a evasão de cientistas – a chamada “fuga de cérebros” – decorrente da falta de investimento em ciência e tecnologia e a execrável difamação da academia por um governo de extrema direita. Se não houver uma mudança da percepção da ciência e tecnologia como eixo central do desenvolvimento do país, o retrocesso será inevitável e demandará décadas para ser revertido.

Imagem de capa JU-online
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