Artigo publicado na revista Nature Metabolism alerta para a situação da qualidade de cuidados aos pacientes com doenças metabólicas
Acaba de ser publicado na revista Nature Metabolism o artigo Consequences of the Covid-19 pandemic for patients with metabolic diseases. Bruno Geloneze, pesquisador do Centro de Pesquisa em Obesidade e Comorbidades (Cepid OCRC) da Unicamp é coautor do artigo, que trata das consequências de Covid-19 em pacientes com doenças metabólicas. O artigo foi redigido por um grupo de especialistas representando todos os continentes e alerta para a catastrófica situação da qualidade de cuidados aos pacientes com doenças metabólicas, em especial, diabetes e obesidade.
De acordo com os especialistas, pacientes com doenças metabólicas enfrentam desafios crescentes na pandemia de Covid-19, como consequência do bloqueio prolongado, do esgotamento dos sistemas de saúde, da própria doença viral e dos efeitos dos medicamentos introduzidos para o tratamento da infecção pela SARS-CoV-2.
“O acesso reduzido aos prestadores de cuidados primários e uma alta demanda para o atendimento de pacientes gravemente enfermos com Covid-19 desviam a equipe e os recursos do hospital que, consequentemente, faltam em outras áreas de atendimento. Essa situação representa um risco substancial para todos os pacientes com doenças crônicas, especialmente aqueles com doenças metabólicas crônicas com o diabetes e a obesidade”, diz Geloneze.
Os pontos específicos abordados pelo artigo são: tratamento dos pacientes com Covid-19 e doenças metabólicas; acesso aos cuidados de saúde; cuidados agudos a pacientes com pé diabético; cuidados com os pacientes com obesidade; cuidados com os pacientes com obesidade e vacinação.
Tratamento dos pacientes com COVID-19 e doenças metabólicas
A dexametasona vem sendo o tratamento padrão juntamente com suplementação de oxigênio para os pacientes hospitalizados reduzindo a mortalidade em pacientes em estado crítico. Os problemas, segundo o artigo, é que altas doses usadas nas infecções graves pioram muito o controle glicêmico e desencadeia o coma diabético pela acidose metabólica e o coma hiperosmolar. Os médicos retardam o uso intensivo de insulina endovenosa e na falta de monitorização contínua pode alternar situações críticas de hiper ou hipoglicemia.
“A dexametasona pode causar edema grave e aumento da pressão arterial. No plano celular pode induzir a morte das células produtoras de insulina e resultar na necessidade permanente de insulina em pessoas que só usavam medicamentos orais”, explica Geloneze.
Acesso aos cuidados de saúde
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 155 países reduziram ou interromperam os programas de assistência aos pacientes com doenças metabólicas crônicas, sendo que em 47 países a assistência ao diabetes foi severamente reduzida. Além disso, pacientes tem medo de contrair a doença e evitam consultas e vem trocando medicações anti-diabetes e anti-hipertensivas que foram equivocadamente relacionadas a maiores riscos de gravidade da doença pelo Covid.
“O pior cenário deverá ser observado no futuro quando mais complicações crônicas do diabetes, tais como retinopatia e nefropatia, além de doenças cardiovasculares serão mais incidentes”, alerta Geloneze.
Cuidados agudos a pacientes com pé diabético
As feridas agudas no pé diabético são mais frequentes neste cenário de mal controle e requerem muitas vezes de internação para uso de antibióticos, cuidados cirúrgicos, imobilização e cuidados crônicos para reabilitação das feridas. No quadro atual, os cuidados vêm sendo postergados ou não aplicados e o risco de amputação aumentou em 300% em países ocidentais desenvolvidos.
Cuidados com os pacientes com obesidade
O isolamento e as consequentes alterações psicológicas têm facilitado o aumento de peso em pessoas propensas a ganhar peso pela inatividade física e pelo estresse e depressão. Além disso, pacientes com indicação do tratamento cirúrgico da obesidade tem enfrentado o fechamento parcial ou total dos serviços de cirurgia bariátrica em todo o mundo. Sabe-se que as filas aumentam e a mortalidade desses pacientes deverá aumentar nesse hiato de tempo.
Vacinação
Pacientes com diabetes e doenças metabólicas devem ser incluídos nas fases iniciais da vacinação na condição de grupos prioritários. No entanto, os programas de vacinação prioritária desses pacientes quanto à influenza e pneumonia já tem falhado em todo o mundo. Mudar o cenário é mais um grande desafio.
“Com esse artigo, queremos incentivar os médicos e grupos de interesse de pacientes na área de diabetes e obesidade a levantarem suas vozes para garantir o atendimento adequado e a admissão desses pacientes aos cuidados de saúde de cada área, região e país”, reforça Geloneze.
Bruno Geloneze, pesquisadora do Cepid-OCRC da Unicamp e coautor do artigo. Foto: Antonio Scarpinetti - SEC/Unicamp
Acesse o artigo: Consequences of the Covid-19 pandemic for patients with metabolic diseases
Matéria original publicada no site da FCM da Unicamp.