Os pesquisadores da Unicamp aproveitaram o calor dissipado na parte de trás do eletrodoméstico para construir um desidratador de ervas e condimentos termosensíveis.
O desidratador “a frio”, econômico e de pequeno porte foi desenvolvido na Unicamp a partir de uma geladeira doméstica de 250 litros. O protótipo funciona com faixas de temperaturas consideradas baixas – entre 40º e 50º -, se comparado a outros secadores, sendo indicado para a secagem de alimentos termosensíveis como condimentos, chás e plantas medicinais.
Nessa faixa, o aparelho minimiza as perdas nutricionais que ocorrem naturalmente pela exposição dos alimentos ao calor. Hortelã e manjericão são exemplos das ervas aromáticas que podem ser conservadas por mais tempo com o dispositivo construído por pesquisadores da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp.
A invenção foi concebida pelo professor Vivaldo Silveira Junior, coordenador do Laboratório de Automação e Controle de Processos de Alimentos (LACPA), do Departamento de Engenharia e Tecnologia de Alimentos (DETA), da Unicamp, e pela engenheira de alimentos, Paula Lyra Falquetto, durante a pós-graduação dela.
O dispositivo opera em condições diferentes, proporcionando uma bomba de calor fácil de operar e com baixo consumo de energia. Os dois circuitos são similares, explica o docente. “Tem algumas pessoas que olham pelo lado frio e outras pelo lado quente. Nós olhamos os dois lados juntos, pensando na eficiência energética”, diz Vivaldo Silveira Junior.
O desidratador de ervas pode ser aplicado para uso doméstico ou em pequenos comércios, como restaurantes e pizzarias. “Uma das vantagens de se ter um secador em casa ou no restaurante está em evitar perdas mantendo a qualidade, o sabor e a aparência das ervas o mais próximo do alimento fresco”, comenta.
Prova de conceito
O desperdício é um dos grandes desafios mundiais. A ONU estima que 17% de todos os alimentos disponíveis para consumo vão parar no lixo. Enquanto, a fome extrema é uma realidade para 690 milhões de pessoas. O processo de secagem aumenta a vida útil dos produtos de forma econômica, reduzindo as perdas pós-colheita e garantindo o valor nutricional, quando feito de forma adequada.
“Nosso objetivo foi testar o conceito e mostrar que um aparelho doméstico podia ser adaptado. Usamos uma geladeira para isso, o que não seria a condição ideal, e demonstramos que é uma tecnologia válida”, comenta a cientista Paula Lyra Falquetto.
Os testes foram feitos com hortelã-pimenta (Mentha piperita L.). A erva aromática é muito apreciada como condimento, bem como para fins medicinais e cosméticos. Ela é produzida o ano inteiro, mas é altamente perene e estraga rapidamente depois de colhida.
Três ensaios foram realizados em diferentes condições de temperatura e umidade relativa do ar. As folhas ficaram entre três e quatro horas no desidratador de ervas. O resultado foi um produto seco por igual. A cor também foi mantida bem mais próxima do verde natural, se comparada à hortelã desidratada disponível no mercado.
“A característica da cor está diretamente ligada a presença de antioxidantes e bioativos, o que mostra que o processo preserva esses compostos de interesse”, relaciona Falquetto. A umidade na hortelã tratada também ficou mais baixa do que o indicado na literatura científica para que ocorra a inibição do crescimento de microorganismos que deterioram o alimento.
O dado mostra que o tempo de secagem empregado no desidratador de ervas poderia ser menor, reduzindo ainda mais o gasto energético. O dispositivo patenteado, com apoio da Agência de Inovação Inova Unicamp, também permite o dimensionado do sistema para outros tamanhos de equipamentos e tipos de alimentos, como a secagem de grãos selecionados de café.
Leia matéria na íntegra publicada no site da Agência de Inovação da Unicamp.