Parceria com Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), de quase duas décadas, para o desenvolvimento de pesquisas com interface computacional e médico-cirúrgica, já rendeu 8 patentes e 13 registros de software
A patente “Método de Telemedicina para o acompanhamento remoto e em tempo real de procedimentos médicos”, depositada por um grupo de docentes e pesquisadores do Laboratório de Bioinformática (Labi) da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) e do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, foi contemplada em 2021 com o Prêmio Inventores (Modalidade Patente Concedida), pela Agência de Inovação (Inova) da Unicamp.
Os inventores da Unicamp e Unioeste, Wu Feng Chung, Huei Diana Lee, Claudio Saddy Rodrigues Coy, Maria de Lourdes Setsuko Ayrizono, Raquel Franco Leal juntamente com os pesquisadores Weber Shoiti Resende Takaki, Leandro Augusto Ensina e Newton Spolaôr, contribuíram para o processo de concessão da patente e esta é um dos fruto da cooperação de quase duas décadas entre ambas as instituições, e que consiste no desenvolvimento de pesquisas com interface computacional e médico-cirúrgica. No total, a parceria já rendeu 8 patentes e 13 registros de software.
“Gerar pesquisas com a preocupação de também desenvolver produtos que sirvam à saúde da população, da prevenção ao diagnóstico, é uma das principais características do nosso grupo. Na realidade, esse é o grande sonho de todo pesquisador”, afirmaram os docentes da Unioeste, Wu Feng Chung e Huei Diana Lee, em entrevista especial para a FCM.
Casados, ambos os professores também atuam no Programa de Pós-graduação em Ciências da Cirurgia da FCM. Ele, médico cirurgião. Ela, cientista computacional. Do enlace perfeito entre as áreas médica e computacional, a Telemedicina desponta como a potencial ‘alavanca de Arquimedes’ a movimentar a área médica durante a pandemia e no futuro que a seguirá.
FCM Unicamp – Como vocês avaliam essa trajetória de quase 20 anos de parceria com a Unicamp, através da FCM? Quais os ganhos acumulados nesse percurso, sejam eles acadêmicos, científicos ou tecnológicos?
Huei Diana Lee – Um ponto fundamental para a motivação e manutenção da parceria foi a visão de ambas as instituições de que poderia ocorrer uma boa cooperação entre as áreas de tecnologia e de saúde. Começamos em uma época em que esse tipo de cooperação, no Brasil, ainda era muito incipiente. Ao longo de todos esses anos, já formamos diversos alunos, em vários níveis, e observamos a evolução da própria patente com o registro de softwares. A patente premiada, recentemente, é um bom exemplo desses ganhos. Começou lá atrás, a partir do desenvolvimento de uma tese, e evoluiu para o desenvolvimento de um software completo e único em Telemedicina. Ainda esse ano, faremos o registro de mais um novo software, com tecnologias mais novas, que englobam recursos de acesso móvel, de vídeo, de maquinação e de acompanhamento de exames, de interação multiusuário em tempo real, e, ainda, de suporte à educação continuada.
Wu Feng Chung – As pessoas são o ponto mais importante dessa parceria, que além de muito boas naquilo que fazem, sentem-se felizes com o que fazem. É muito mais do que produção técnica ou acadêmica. Da iniciação científica até o doutorado, mais de 130 alunos foram formados a partir dessa parceria. E esse é o ponto de maior valoração do nosso trabalho.
FCM Unicamp – Em 2013, vocês tiveram depositada uma primeira patente em Telemedicina, quando distanciamento social era, apenas, um futuro distópico. Como vocês enxergam esse campo, agora, em plena pandemia, que parece ter catapultado a sociedade global, incluindo a científica, para longe da zona de conforto?
Wu Feng Chung – Nos próximos 100 anos, a computação será a ‘alavanca virtual de Arquimedes’. Hoje, a computação está em tudo. Em países de proporções continentais como o Brasil, muitas vezes faltam insumos e médicos nas unidades básicas de saúde mais longínquas, mas não falta internet. Essas foram duas percepções importantes que nos levaram a atuar nesse campo da Telemedicina. A partir dela, podemos estreitar o distanciamento geográfico.
FCM Unicamp – Do ponto de vista da formação médica, como vocês avaliam a formação desses profissionais, na atualidade, considerando o desenvolvimento de habilidades necessárias para lidar com tantos avanços tecnológicos?
Wu Feng Chung – Quando falamos em avanço do conhecimento científico, as conquistas tecnológicas surgem para somar e não substituir. E não se trata de uma soma numérica, apenas, mas qualitativa também, pois, a partir delas, surgem novas combinações e correlações de ideias. Na medicina cirúrgica, a base da técnica de apendicectomia é a mesma de tempos longínquos, mas o fio necessário para a realização desse procedimento melhorou, a abordagem, o instrumental, as ligas, o aço, as ferramentas, os equipamentos e os componentes melhoraram. A computação é uma ferramenta de apoio, podemos dizer que é uma Ciência “meio” para a saúde. Vale ressaltar que não ocorrerá a substituição de tecnologias e máquinas do ser humano, pois qualquer ação deve ter o responsável pela ação, ou seja, qualidade essa inerente ao ser humano. Assim, nunca será uma substituição de perda. Ao contrário disso.
Huei Diana Lee – A falta de entendimento, ou o receio da substituição, no que se refere ao uso das novas tecnologias ainda é a grande barreira para uma cooperação ainda maior entre os diferentes campos do saber. Os Sistemas de Apoio à Decisão (SADs), que usam de Inteligência Artificial (AI), são um exemplo de tecnologia que ainda sofrem esse tipo de receio de substituição, contudo, eles sempre serão uma ferramenta de apoio e nunca poderão substituir o contato humano, ainda que consigam desempenhar muitas atividades digitalmente.
FCM Unicamp – Quais as vantagens da Telemedicina na formação médica?
Huei Diana Lee – Um problema real nos cursos de Medicina é a quantidade de alunos em um centro cirúrgico. Não cabem todos os alunos na sala de cirurgia. Com a Telemedicina, eles podem assistir a cirurgia a partir de um auditório, não apenas com o recurso de transmissão de vídeo, mas como todo o apoio necessário ao seu aprendizado.
Wu Feng Chung – Utilizar recursos de Telemedicina em um centro cirúrgico não significa dizer que os alunos não entrarão mais em um centro cirúrgico, mas permitir que um mesmo procedimento possa ser visto pelo restante da turma, que não entraria na sala cirúrgica ou que precisaria disputar o campo de visão.
FCM Unicamp – Na atualidade, podemos dizer que a Telemedicina está ‘pop’?
Wu Feng Chung – Não sei dizer, exatamente, se a Telemedicina está ‘pop’, mas temos a certeza de que é útil, avançou muito nos últimos anos, e ainda mais recentemente. Estamos muito felizes com as conquistas até aqui. Ainda há muitas arestas para aparar, justamente, porque as coisas evoluem muito mais rapidamente, hoje em dia.
Matéria original publicada no site da FCM Unicamp.