Estudo durante um dos picos da pandemia analisou amostras de 83 pacientes internados nas enfermarias e na Unidade de Terapia Intensiva do HC
Apesar da baixa probabilidade, é possível, sim, contrair a Covid-19 por fluídos oculares. O alerta é de um estudo realizado por um grupo de pesquisadores da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), Instituto de Biologia (IB) e Centro de Biologia Molecular e Engenharia Genética (CBMEG) da Unicamp, publicado recentemente na revista Experimental Biology and Medicine.
“Uma das nossas preocupações era saber a que riscos os profissionais de saúde estão expostos no cuidado de pessoas contaminadas, especialmente os oftalmologistas”, explica a professora colaboradora do Departamento de Oftalmologia da FCM e coordenadora do estudo, Mônica Alves. O objetivo principal da pesquisa foi investigar a presença do SARS-CoV-2 na lágrima e na superfície ocular de pacientes com Covid-19.
Financiada pela Faepex, a pesquisa envolveu mais de uma dezena de pesquisadores e médicos residentes do Departamento de Oftalmologia e Otorrinolaringologia da FCM, da Disciplina de Moléstias Infecciosas, do Laboratório de Patologia Clínica do Hospital de Clínicas e do Laboratório de Estudos de Vírus Emergentes do Instituto de Biologia (IB), que, durante um dos picos da pandemia, analisou amostras de 83 pacientes internados nas enfermarias e na Unidade de Terapia Intensiva do HC.
"Uma vez identificado, no exame RT-PCR, o SARS-CoV-2 na lágrima e na superfície ocular, observamos a relação existente entre a positividade do vírus na lágrima e no exame de nasofaringe e algumas manifestações clínicas dos pacientes. Conseguimos demonstrar que, apesar da baixa positividade para o vírus nas amostras (8,43%), existe a possibilidade de contaminação para a Covid-19, ainda que mínima”, conta a especialista.
Ainda de acordo com a docente, o estudo realizado na Unicamp corrobora os achados dos poucos estudos existentes sobre a transmissão do SARS-Cov-2 por fluídos oculares, os quais também apontam a baixa positividade para esse vírus nas amostras analisadas.
Para Mônica, essa baixa positividade não elimina os cuidados que os profissionais devem ter ao lidar com os pacientes infectados, e tampouco diminui a relevância do objeto investigado. Nesse sentido, ela relembra os instantes iniciais da pandemia. "Um dos primeiros profissionais de saúde a alertar sobre o surgimento de uma nova infecção foi o oftalmologista chinês Li Wenliang, que infelizmente faleceu vítima da Covid-19.
Matéria original publicada no site da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp.