Tese defendida no Instituto de Geociências vence Prémio Científico Mário Quartin Graça, voltado para estudos realizados em universidades de Portugal e da América Latina
O ecossistema empreendedor brasileiro assiste há certo tempo um intenso movimento de inovação em grandes empresas por meio de relações com startups. A nova economia, caracterizada por rapidez nas mudanças tecnológicas, intensa competição, ciclos cada vez mais curtos de desenvolvimento de produtos e escassez de recursos, tem na inovação um caminho para sobreviver no mercado e crescer. Aos executivos cabe a decisão sobre o melhor modelo de engajamento com as startups: como fornecedoras, aceleradoras, incubadoras, sendo investidores e, até mesmo, por meio da aquisição.
Buscando entender os fatores que influenciam as grandes empresas quanto aos modos de engajamento com startups, a pesquisadora Carla Kitsuta, do Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT) do Instituto de Geociências da Unicamp, defendeu a tese "Engajamento corporativo com startups: ambiente de negócios, capacidades em gestão da inovação e modos de engajamento”. O estudo foi vencedor do Prémio Científico Mário Quartin Graça 2021 na categoria Ciências Econômicas e Empresariais. A premiação, instituída pela Casa da América Latina e pelo Banco Santander, destina-se a distinguir teses desenvolvidas em universidades de Portugal e da América Latina.
Sob orientação do professor Ruy Quadros, Carla iniciou em 2016 sua pesquisa sobre o engajamento corporativo com startups no Brasil, na tentativa de compreender que fatores poderiam influenciar as empresas no processo de tomada de decisão quanto à forma de iniciar o engajamento, o programa a ser seguido e o modo como tais iniciativas se inseriam na estratégia de inovação das organizações. “Exploramos a influência do ambiente de negócios, das capacidades em gestão e dos objetivos estratégicos das empresas no processo de tomada de decisão quanto ao engajamento com startups”, conta Carla, que mapeou iniciativas das empresas com predomínio de programas de startups e de aceleração. “Analisamos empresas que adotaram modos de engajamento do tipo programas de startups, aceleradoras, incubadoras, venture builders e Corporate Venture Capital (CVC). Eles têm diferentes características e se distinguem quanto ao nível de flexibilidade e comprometimento que demandam das organizações”, explica.
De acordo com a pesquisadora, a transformação digital foi o principal motivador para o engajamento corporativo com startups. “Empresas que atuam em ambientes de alta competitividade, com capacidade interna de inovação digital e com uma visão estratégica empreendedora em relação à transformação digital adotaram modos de engajamento caracterizados por alto comprometimento e baixa flexibilidade, como incubadoras de startups internas e CVC”, analisa. Tais empresas tinham como objetivo a criação de novos modelos de negócios baseados em tecnologias digitais, colaborando para a renovação e redefinição do seu negócio. “Aquelas que definiram objetivos estratégicos relacionados à eficiência/efetividade e aprendizado/conhecimento adotaram modos de engajamento caracterizados por baixo comprometimento e alta flexibilidade, como programas outside-in de startups e programas de aceleração”, complementa.
A tese, financiada pelo CNPq e defendida em fevereiro de 2021, contribui para aprofundar o conhecimento da transformação digital, o principal foco das pesquisas no Laboratório de Gestão Estratégica da Tecnologia e Inovação (LabGETI), liderado por Ruy Quadros. Carla montou uma base de dados sobre as corporações brasileiras que desenvolvem programas de engajamento com startups com informações básicas sobre setor da empresa: se nacional ou estrangeira, ano de início do programa de startups, seus objetivos, entre outros. A partir daí, desenhou o contexto no qual se desenvolveu a parte principal da pesquisa, baseada em estudos de caso múltiplos de uma amostra intencional.
O Prémio Científico Mário Quartin Graça foi entregue no dia 9 de dezembro. “A tese explora a influência do ambiente de negócios, das capacidades de inovação e das estratégias das empresas na adoção de modos de relacionamento específicos das empresas com startups”, registrou o júri no anúncio dos vencedores. A originalidade do tema, a relevância para o estreitamento de relações entre os países e a qualidade da investigação foram os quesitos avaliados para distinguir a tese de Carla. Outras duas categorias foram contempladas: Ciências Sociais e Humanas, Tecnologias e Ciências Naturais. Este ano foram recebidas 80 candidaturas, oriundas do Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Portugal e Venezuela. A honraria é concedida há 12 anos, com 33 teses premiadas nesse período. “O Prêmio é um reconhecimento da importância do trabalho, que parte de uma base teórica sólida, mas procura avançar o conhecimento do fenômeno a partir de pesquisa empírica bem realizada. Dessa forma, reconhece nossa contribuição em um campo muito relevante do ponto de vista econômico-social, bem como os esforços realizados pelo LabGETI em pesquisas sobre transformação digital e gestão da inovação”, finaliza Carla.