Profissionais formados pela Universidade se destacam no Comitê Paralímpico Brasileiro. Tradição contribui para desenvolvimento de algumas modalidades do esporte adaptado no país
Oferecer mais qualidade de vida às pessoas com deficiência: foi com esse desejo que Luiz Gustavo dos Santos ingressou na Unicamp para cursar Educação Física em 2008. O interesse do jovem pelas atividades adaptadas surgiu dentro da família. Com um glaucoma congênito, seu primo tinha dificuldades para se integrar em práticas esportivas. Isso fez com que Luiz Gustavo começasse a pesquisar universidades que valorizassem os esportes adaptados em seus programas. A Faculdade de Educação Física (FEF) lhe deu a oportunidade de realizar seu desejo profissional.
Hoje ele é mestre e doutor em Educação Física pela Unicamp e integra o quadro de professores da Academia Paralímpica, braço do Comitê Paralímpico Brasileiro dedicado a pesquisas científicas. Em sua trajetória, Luiz teve a oportunidade de participar de projetos de extensão universitária, com o rugby e a esgrima em cadeira de rodas, e mesmo contribuir para o desenvolvimento de uma nova modalidade. Esporte estreante nos Jogos Paralímpicos de 2016, a paracanoagem foi tema de sua pesquisa de doutorado, concluída em 2020.
"Quem fez parte da Unicamp entende que os pilares do ensino, pesquisa e extensão precisam estar conectados para que a teoria e a prática façam sentido. Pelo fato de a Universidade desenvolver projetos de extensão e a FEF estar envolvida desde o início com as atividades do Comitê, essas experiências nos permitem trilhar com mais facilidade o caminho até o alto rendimento em uma modalidade paralímpica", explica Luiz Gustavo. Embora já tenha recebido convites para atuar em outras áreas do esporte, ele tem clara qual é sua missão: “Meu foco são as atividades adaptadas e paralímpicas".
A história de Luiz Gustavo é um exemplo da contribuição da Unicamp para o desenvolvimento do esporte paralímpico no país, formando pessoas que fazem a diferença nessa área. Atualmente, o Comitê Paralímpico Brasileiro conta com 13 profissionais formados pela Unicamp que atuam em toda a cadeia de formação de campeões, desde projetos e oficinas esportivas com crianças e adolescentes até a preparação de atletas para os Jogos Paralímpicos.
Fonte de campeões
Jonas Freire teve a vida marcada pelo esporte paralímpico. Formado em 1998, suas primeiras experiências na área ocorreram na Unicamp. "Na época, poucas universidades ofereciam disciplinas sobre atividades motoras adaptadas. A Unicamp já tinha esse olhar à frente. Lembro de ter participado de festivais esportivos e, no final da minha graduação, a FEF esteve envolvida na organização do Campeonato Mundial de Futebol de 5, para cegos, em Paulínia. Um dos meus estágios mais importantes também foi nessa área. Atuei na Pró Visão, uma instituição de Campinas que atua com crianças cegas. Tudo isso graças ao envolvimento da Unicamp com o esporte adaptado", lembra Jonas.
Atualmente ele é diretor de Esporte de Alto Rendimento da entidade. Com 22 anos de experiência, Jonas reconhece o quanto a participação de professores, pesquisadores e alunos de graduação e pós-graduação foram importantes para que o setor conquistasse o sucesso que tem hoje. "O esporte paralímpico se desenvolveu junto com as universidades. Isso ocorre desde que as modalidades esportivas chegaram ao Brasil. Algumas instituições abraçaram o esporte paralímpico, como é o caso da Unicamp, permitindo o desenvolvimento de pesquisas", avalia.
"É muito fácil produzir ciência hoje depois de tudo o que foi construído pela Unicamp. Por isso, temos condições de devolver isso à Universidade. Podemos oferecer nosso espaço e nossos atletas para a aplicação de estudos, por exemplo”, ressalta Thiago Lourenço, coordenador do Departamento de Ciência do Esporte do Comitê Paralímpico. Graduado em Educação Física, mestre e doutor em Biodinâmica do Movimento Humano pela Unicamp, ele explica que as pesquisas realizadas no local são voltadas para o desempenho dos atletas em situações específicas e acredita que a parceria é proveitosa para os dois setores. “Temos aqui a possibilidade de aplicar novos métodos de treinamento. Fora de um espaço como este isso não seria possível", pontua.
Os resultados do trabalho conjunto entre ciência e esporte estão nas vitórias conquistadas nas paralimpíadas. O Brasil participou dos Jogos Paralímpicos pela primeira vez em 1972, em Heidelberg, na Alemanha. Em toda a trajetória brasileira, 372 medalhas paralímpicas foram conquistadas. A melhor campanha do país ocorreu na edição de 2020 dos Jogos de Tóquio, com a conquista de 72 medalhas, 22 delas de ouro. Desde os Jogos de Pequim, em 2008, o Brasil está entre os dez primeiros colocados no quadro geral de medalhas. Em Tóquio, os paratletas brasileiros ficaram na sétima posição.
A colaboração da Universidade se estende a áreas que complementam o desenvolvimento físico dos paratletas. Coordenador do Serviço de Fisioterapia, Mauro Melloni aproximou-se da Unicamp ao cursar uma especialização oferecida pelo Laboratório de Bioquímica do Exercício (Labex), o que o levou ao mestrado e ao doutorado na Faculdade de Ciências Médicas (FCM). "A Unicamp já abriu as portas algumas vezes para avaliarmos nossos atletas com um equipamento de densitometria óssea. Ele avalia fatores de risco para lesões músculo-esqueléticas. O monitoramento da evolução e da composição corporal do atleta durante uma temporada é importante para seu desempenho, independente de o atleta ter ou não deficiência", conta. Os testes foram realizados no Laboratório de Crescimento e Desenvolvimento (LabCreD) da FCM, coordenado pelo professor Gil Guerra Junior.
O sucesso paralímpico brasileiro é resultado de um longo trabalho, que só é possível quando o esporte se torna acessível a todos. Mesmo com a meta de levar atletas ao pódio, o Comitê não perde de vista o objetivo de permitir que mais pessoas deem o primeiro passo. "Hoje lutamos pelo direito de a pessoa com deficiência praticar qualquer atividade física, não apenas de alto rendimento. Queremos que todos tenham o direito de praticar o esporte de forma lúdica. Ter a ciência ao nosso lado nos deu a base de que precisávamos para impulsionar isso", analisa Jonas Freire.