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Prêmio Inventores Unicamp

Spin-off da Unicamp desenvolve teste que sinaliza resposta a antipsicóticos

A Quarium busca agora viabilizar comercialmente exame de sangue que indica a eficácia do tratamento medicamentoso em pacientes com esquizofrenia

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Um exame de sangue comum, processado a partir da técnica de lipidômica, pode ajudar a sinalizar precocemente a resposta de pacientes diagnosticados com esquizofrenia a diferentes tratamentos com antipsicóticos. O método resultou de um estudo desenvolvido na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP)

A pesquisa, coordenada pelo professor do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, Daniel Martins de Souza, identificou um conjunto de biomarcadores associados à melhora dos sintomas em resposta a três antipsicóticos atípicos da segunda geração de remédios para sintomas da esquizofrenia.

“A vantagem dessa tecnologia está na simplicidade da preparação da amostra e na rapidez da leitura. Os resultados do exame podem ficar prontos no mesmo dia e servir de parâmetro na prescrição do melhor tratamento desde o momento do diagnóstico”, explica o pesquisador.

Os resultados foram protegidos pela Agência de Inovação Inova Unicamp. O novo método foi licenciado em 2021 para a Quarium, uma spin-off da Unicamp. A empresa busca agora viabilizar comercialmente o exame, que identifica precocemente a resposta ao tratamento com antipsicóticos, possibilitando um prognóstico personalizado e mais preciso.

A esquizofrenia é um dos mais graves transtornos psiquiátricos e afeta aproximadamente 24 milhões de pessoas no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, cerca de 1,6 milhão de pessoas convivem com essa condição mental crônica e incapacitante, sem cura conhecida. Os sintomas incluem delírios e alucinações em períodos críticos, os quais podem ser controlados com medicações. Uma das dificuldades enfrentadas pelos pacientes está na adaptação à terapia, que pode levar de quatro a seis semanas.

A literatura científica mostra que aproximadamente 40% dos pacientes não respondem adequadamente à medicação e cerca de 60% abandonam o tratamento devido aos efeitos colaterais. Com isso, suas funções cognitivas e relacionadas ao humor podem não melhorar, comprometendo a recuperação e afastando os indivíduos do convívio social.

“A resposta à medicação é crucial desde o diagnóstico, pois o paciente que não melhora ou não tolera os efeitos colaterais de determinado antipsicótico pode ter novos surtos psicóticos e registrar declínio cognitivo irrecuperável, à medida que a doença evolui”, explica Licia da Silva Costa, fundadora da startup Quarium

Como o método foi desenvolvido

O método identifica o perfil lipídico, uma espécie de assinatura das moléculas de gordura no plasma sanguíneo associada com a melhora dos sintomas da esquizofrenia.

A pesquisa analisou o sangue de 54 pacientes diagnosticados com esquizofrenia que nunca haviam feito uso de medicamentos. As amostras foram coletadas na clínica psiquiátrica da Universidade de Magdeburg, na Alemanha, e analisadas com a colaboração dos laboratórios de inovação da empresa Waters Technologies do Brasil.

Os voluntários foram tratados com antipsicóticos atípicos (segunda geração): olanzapina, risperidona e quetiapina. Cada paciente tomou apenas um tipo de medicação e novas amostras de sangue foram coletadas seis semanas após o início da terapia.

Analisamos os lipídios e percebemos que os pacientes que respondem bem para as diferentes medicações tendem a processar melhor as proteínas. As alterações observadas podem destacar alvos para o desenvolvimento de novas abordagens ou refinar os medicamentos atuais”, explica Souza.

Novos estudos para validação do teste

Atualmente, o diagnóstico e a prescrição de remédios para esquizofrenia são feitos com base em análises clínicas e na experiência dos psiquiatras. O novo método poderá permitir tratamentos personalizados, com uma melhor escolha do medicamento logo no início da terapia. Entre os resultados, é esperada a melhora dos sintomas e a diminuição do tempo de debilidade, além da redução da severidade da doença.

“O produto que propomos é inexistente no mercado e poderá oferecer uma solução inovadora aos psiquiatras e pacientes, permitindo mais prescrições bem-sucedidas e melhora na qualidade de vida”, diz a empreendedora.

Boa parte dos estudos sobre biomarcadores e assinaturas moleculares em psiquiatria concentram-se no diagnóstico do distúrbio e não na terapia, comenta Costa. Psiquiatras contatados pela empresa apontaram a importância de estabelecer os efeitos colaterais específicos associada ao uso de antipsicóticos de segunda geração (como a síndrome metabólica), os quais, se não monitorados, podem levar à morte.

O objetivo da Quarium é chegar a um exame comercialmente viável, validando os resultados da pesquisa com um número maior de pacientes, agora brasileiros. Para isso, pretende oficializar parcerias com instituições de pesquisa em saúde que atendam pacientes com esquizofrenia. Além dos dados lipidômicos e clínicos, a startup planeja empregar técnicas de machine learning e incluir, nessa segunda fase de desenvolvimento, antipsicóticos de outras classes químicas. O estabelecimento e otimização do método de análise direcionada aos marcadores lipídicos de resposta recebeu financiamento do Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) da Fapesp.

Inventores premiados neste licenciamento

Daniel Martins de Souza (IB-Unicamp), Adriano Aquino (IB-Unicamp), Johann Anton Christian Steiner (University of Magdeburg, Alemanha), Guilherme Lionello Alexandrino (IQ- Unicamp), Michael Murgu (Waters Technologies do Brasil Ltda), Alexandre Ferreira Gomes (Waters Technologies do Brasil Ltda) e Fábio Augusto (IQ-Unicamp) foram premiados na categoria Propriedade Intelectual Licenciada no Prêmio Inventores 2022.

SPIN-OFF ACADÊMICA HOMENAGEADA

A Quarium é uma empresa que tem no seu core de negócios uma tecnologia da Unicamp. A startup passou por pré-incubação na Incamp (Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da Unicamp) e busca soluções que auxiliem na seleção de medicamentos relacionados à saúde mental, por meio de tecnologias ômicas (campo de estudo que lida com grandes quantidades de dados, como a lipidômica) aplicadas à medicina de precisão.

A premiação, organizada pela Agência de Inovação Inova Unicamp, está em sua 15ª edição e conta com o patrocínio de ClarkeModet, 3M e Neger Telecom

Confira todos os premiados e acompanhe a série de reportagens no site Prêmio Inventores da Unicamp.

Imagem de capa JU-online
Prof. Daniel Martins de Souza. | Foto: Pedro Amatuzzi/Inova Unicamp)

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