Proveniente de rochas e solos, o radônio pode se acumular nos ambientes e afetar a saúde humana
O radônio é um gás radioativo sem cheiro, cor ou gosto que ocorre em todos os ambientes. “Há uma série de estudos que associam a exposição contínua a esse elemento químico por meio de inalação ao aumento do risco de câncer de pulmão em humanos. Ele é a segunda causa da doença em todo o mundo, após o tabaco”. Quem explica é Danila Dias, doutoranda do Instituto de Geociências (IG) à frente de uma pesquisa que visa medir a concentração de radônio em residências, escolas e locais de trabalho, ambientes em que as pessoas permanecem por longos períodos. Danila é orientada por Wanilson Silva, do IG, e Nivaldo da Silva, da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN/Poços de Caldas). Colabora com o grupo Hugo Teixeira, mestrando em Geociências.
Localizada no sul de Minas Gerais, Poços de Caldas foi escolhida como área das medições por apresentar níveis de radiação natural acima da média, devido a características geológicas da região. Por abrigar uma mina de urânio desativada, a cidade tem concentrações desse metal mais elevadas do que as normalmente observadas na crosta terrestre. Um dispositivo que registra a radiação do radônio será instalado no interior de algumas residências e a população responderá a questionários sobre a percepção do problema. “De modo complementar, pretendemos monitorar as dependências do IG, oportunidade única para conhecermos os níveis deste gás em ambientes de convívio na Unicamp”, destaca Wanilson. “A pesquisa também investigará os níveis de radônio na Fazenda Argentina. Em 2013, a Unicamp adquiriu essa área, de 1,4 milhão de metros quadrados, contígua ao campus de Campinas. Estudos assim são importantes para orientar projetos urbanísticos”, complementou o docente.
O núcleo dos átomos de elementos radioativos, como o urânio, contém muita energia, o que os torna instáveis. Ao buscar uma estabilização, é liberada radiação. O radônio é um dos produtos desse processo. “O urânio ocorre na crosta terrestre e o radônio se origina nas rochas e nos solos que derivam dele. Sendo um gás nobre, ele exala em direção ao ambiente externo, dissipando-se na atmosfera. No caso das construções, ele pode se deslocar para o interior dos ambientes através de frestas e rachaduras em pisos, paredes e encanamentos e ficar concentrado aí”, explica Danila.
Dependendo da concentração, o radônio pode provocar danos à saúde. “Em geral, os níveis na atmosfera terrestre são muito baixos e não oferecem riscos. Mas isso pode mudar quando há fontes de emanação do gás no interior de construções”, explica Wanilson. “Diferentemente dos países do primeiro mundo, o Brasil ainda não tem uma legislação sobre o radônio ambiental. Também são raros os trabalhos sobre sua concentração nos ambientes urbanos. Essa pesquisa faz parte dos esforços da Comissão Nacional de Energia Nuclear para prover o país de uma legislação sobre o assunto”, complementa.
Um dos métodos mais confiáveis e menos onerosos para avaliar a presença de radônio em ambientes fechados consiste na utilização de um “dosímetro passivo de gás radônio”, uma pequena placa feita de um polímero especial sensível à radiação emitida pelo gás. Ao incidir no material, a radiação deixa um “traço nuclear”. O dosímetro é mantido no interior de ambientes por um período de 3 a 12 meses, no qual é exposto ao radônio que circula no ar.
No âmbito do projeto, os dosímetros serão instalados em julho, no IG e em Poços de Caldas, onde permanecerão por seis meses em salas e residências. Ao fim desse período, as placas serão analisadas em equipamentos de microscopia. “O resultado permitirá quantificar a concentração média do radônio. A unidade de medida é o Becquerel por metro cúbico (Bq/m3). Referências internacionais recomendam que esse valor não ultrapasse 100 Bq/m3 e que busquemos diminuí-lo ao máximo nos locais onde vivemos, trabalhamos e estudamos”, explica Danila. Segundo Wanilson, o detector não oferece riscos à saúde, pois ele apenas identifica a presença do radônio no ambiente.
Uma maneira simples de reduzir a presença do radônio é ventilar os ambientes, mantendo portas e janelas abertas. “A pesquisa permitirá conhecer o comportamento do radônio no território brasileiro. Temos uma grande diversidade geológica e ambiental e são necessários estudos em todas as regiões. Entendendo o grau de exposição média da população ao radônio, podemos pensar em ações em larga escala, amenizando os riscos de incidência de câncer de pulmão”, conclui Danila.