Ao longo de 13 anos, a Faculdade de Ciências Aplicadas e a cidade de Limeira vêm se aproximando por meio de cursos de extensão, parcerias, oficinas e ações comunitárias
Como universidade e sociedade dialogam? Nas universidades públicas brasileiras, de muitas formas: atividades de extensão; disciplinas de graduação e pós-graduação envolvendo a comunidade externa; pesquisas que geram novos conhecimentos e fomentam o debate de questões nacionais. Ao longo de 13 anos, a Faculdade de Ciências Aplicadas e a cidade de Limeira vêm se aproximando por meio de cursos de extensão para a comunidade externa; parcerias de laboratórios de pesquisa e organizações estudantis com entes públicos e privados; eventos, oficinas e ações comunitárias que transformam a paisagem - física, social, cultural e política -, dentro e fora do campus. É cada vez maior o número de cidadãos que frequentam o campus com propósitos diversos, assim como o de alunos, professores e funcionários que extrapolam os limites da sala de aula e laboratórios para atuar nos múltiplos espaços da cidade e região.
Um exemplo de interação transformadora é o Cursinho Popular Colmeia, coordenado pelos professores Josely Rímoli e Marcelo Maialle em parceria com a Prefeitura de Limeira. A iniciativa nasceu há mais de dez anos e vem colaborando para que centenas de jovens de baixa renda ingressem no ensino superior. Graduandos da FCA ministram aulas supervisionadas pelos docentes da Unicamp e adquirem experiência profissional em ensino.
O Cursinho funcionou em modo remoto durante a pandemia. Para Maria Helvira Andrade, do Serviço Social Educacional da Secretaria Municipal de Educação, a parceria foi muito importante para a defesa do ensino público e de qualidade no município. “O programa possibilitou diversos outros projetos em parceria com a Unicamp de Limeira. Foi um enorme ganho para a cidade”. O Cursinho funciona no Centro Comunitário Morro Azul, nas proximidades do campus, colaborando para a circulação de pessoas e a segurança no bairro.
Ele agora realiza um projeto piloto de pré-vestibular indígena, já com 186 inscritos de 54 etnias. “Apesar das dificuldades de conexão, confirmou-se a necessidade de um cursinho virtual para as populações com alta vulnerabilidade, como indígenas, quilombolas e filhos de agricultores familiares e assentados”, conta Rímoli.
Organizações estudantis: interdisciplinaridade e relações com a sociedade
Organizações estudantis são associações estruturadas voluntariamente para aproximar academia e sociedade, enriquecer os cursos de graduação e impactar positivamente organizações civis, mercado e poder público. O engajamento de aproximadamente 30% do corpo discente da Faculdade em organizações que congregam alunos e professores de diferentes cursos, em uma prática interdisciplinar, é uma característica da instituição. Há empresas juniores que prestam consultoria nas áreas de engenharia, administração, esportes e nutrição; grupos de voluntariado; equipes de construção de carros de competição; grupos de estudo sobre temas variados; grupos para promoção de esportes, intercâmbios etc. Todas mantêm um relacionamento com a comunidade e têm papel relevante na formação dos estudantes e no cumprimento da missão da FCA. (Veja neste link a lista completa de todas as organizações presentes na Faculdade).
Em janeiro de 2020, várias delas foram reconhecidas pela Prefeitura de Limeira como organizações de utilidade pública. Para o advogado Valmir Caetano, responsável pelo processo de reconhecimento e egresso da Faculdade, “os decretos do prefeito Mário Botion são o reconhecimento da cidade a essas organizações”.
Um exemplo é a Integra. Composta por alunos de graduação da FCA, a empresa presta consultoria em engenharia e gestão. “O trabalho desenvolvido por eles permitiu organizar o setor administrativo-financeiro da empresa”, contou Priscila Andrieto, proprietária de uma clínica de fisioterapia infantil. Sem qualquer custo e executada de maneira 100% remota, a consultoria permitiu a estruturação financeira da clínica. “Suas recomendações me ajudaram a dividir meu tempo entre a gestão e os atendimentos, na definição das metas financeiras e da precificação dos serviços que presto”, explicou.
Graduação, empresas e poder público
Modelos inovadores de Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC) envolvem a comunidade e colocam os alunos de graduação em contato direto com a prática profissional, beneficiando empresas e poder público. Desde 2017, nos cursos de Engenharia de Manufatura e Engenharia de Produção, por exemplo, os alunos desenvolvem projetos de TCC em parceria com a indústria local, através do CIESP–Limeira. Até o momento, 22 empresas já trouxeram 39 problemas reais para serem analisados por alunos e professores.
Para João Aldrigui, gestor de pessoas na Máquinas Furlan, a aproximação com a Universidade permitiu aprimorar os processos industriais. “A academia pode contribuir em termos de acréscimo de tecnologia, visto que alunos e professores se dedicam ao que há de mais atualizado na área”, disse.
Outro exemplo de impacto positivo na comunidade vem do curso de Administração Pública. A partir da disciplina Políticas Públicas no Brasil, um grupo de alunos conseguiu aprovar, na Câmara Municipal de Conchal, um projeto de lei que dá visibilidade a um serviço de utilidade pública – o número 180 – essencial para o enfrentamento da violência contra a mulher. “A disciplina era eminentemente teórica e histórica. A partir de sugestões dos discentes, ela passou a contar com um trabalho prático, em que eles são atores de uma política pública. Eles devem buscar viabilizar a tramitação de uma lei em alguma Câmara Municipal da região. Para tanto, realizam o diagnóstico de um problema, aprofundam o entendimento do processo de tramitação de um projeto e contatam atores envolvidos na temática, como prefeitos e vereadores”, explica Paulo Van Noije, que coordena a iniciativa.
Como destaca Milena Serafim, diretora associada da Faculdade e docente do curso de Administração Pública, as interações com a sociedade fomentam o fortalecimento da cidadania e democracia no país. “As universidades devem se colocar em diálogo com o poder público para produzir conhecimento que permita o aprimoramento das políticas públicas e o fortalecimento das instituições democráticas e da cidadania. A universidade não substitui as responsabilidades do Estado, mas ela soma esforços para que ele cumpra suas atribuições junto à sociedade”.