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Estudo analisa os efeitos da Covid no cérebro

Fruto de uma parceria entre a Unicamp, a USP e o Instituto D’Or, resultados do estudo foram publicados na edição de agosto da PNAS

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Um estudo desenvolvido com a participação do Laboratório de Neuroproteômica (LNP) da Unicamp sugere que o mecanismo de atuação do SARS-CoV-2 pode envolver danos físicos em estruturas importantes do cérebro, como a região responsável pela memória e pelo aprendizado. Idealizado para entender como o vírus causador da Covid atua no cérebro de pacientes com quadros leves da doença, a pesquisa teve seus resultados publicados na edição de agosto da revista PNAS, um dos periódicos científicos de maior impacto no mundo. Os achados devem ajudar a prevenir e tratar sequelas neurológicas em pessoas infectadas.

Multidisciplinar e com a participação de quase 90 cientistas, a pesquisa é fruto de uma parceria da Unicamp com a Universidade de São Paulo (USP) e o Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino. Na Unicamp o projeto é liderado pelo professor de Bioquimica, Daniel Martins-de-Souza, do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp.

O trabalho se pautou em três tipos de análises que visavam, em conjunto, elucidar o comportamento do vírus no sistema nervoso central e entender possíveis sequelas deixadas por ele em pacientes com diferentes níveis da doença. Entre os resultados, os pesquisadores constataram mudanças metabólicas em células que atuam como fonte de energia para os neurônios: os astrócitos. “Ao infectar os astrócitos, o vírus provoca uma alteração em todo o mecanismo de produção energética da célula, o que pode prejudicar a sobrevivência e a função de suporte que ela desempenha para os neurônios”, destacou Victor Corasolla, pesquisador do LNP da Unicamp e um dos autores principais do estudo.

audiodescrição: imagem A - Imagens de recorte de três cérebros com diferentes áreas marcadas em vermelho, imagem B - gráfico com correlação entre os escores de ansiedade (BAI) e a espessura do giro orbitário direito. imagem C - gráfico com correlação entre o teste Color Trail B (Z-TRAILB: os z-scores foram baseados em dados normativos brasileiros) e a espessura do giro reto esquerdo. Os dados descrevem coeficientes de correlação parcial (ajustados para fadiga) (Crédito: PNAS, agosto de 2022).
Atrofia da espessura cortical após infecção leve por COVID-19. Morfometria de superfície por RM 3T de alta resolução. (A) Resultados da análise de 81 indivíduos com diagnóstico confirmado de SARS-CoV-2 (que apresentavam sintomas respiratórios leves e não necessitaram de hospitalização ou suporte de oxigênio) em comparação com 81 voluntários saudáveis ​​(sem diagnóstico de COVID-19). A análise foi realizada dentro de uma média (DP) de 57,23 (25,91) d após o diagnóstico. (B) Correlação entre os escores de ansiedade (BAI) e a espessura do giro orbitário direito. (C) Correlação entre o teste Color Trail B (Z-TRAILB: os z-scores foram baseados em dados normativos brasileiros) e a espessura do giro reto esquerdo. Os dados descrevem coeficientes de correlação parcial (ajustados para fadiga) (Crédito: PNAS, agosto de 2022)

Em um primeira momento, liderados pela neurologista Clarissa Yasuda, da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, os cientistas examinaram imagens de alta resolução do cérebro de pacientes que passaram por quadros leves da doença. “Curiosamente, até mesmo pessoas assintomáticas apresentaram alterações no estudo de imagem, o que liga um alerta para possíveis sequelas mesmo em uma infecção silenciosa”, destacou Corasolla. Paralelamente, o pesquisador Thiago Cunha, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP), liderou a análise de amostras de tecido cerebral de pessoas que faleceram em decorrência da Covid-19, bem como células isoladas expostas ao vírus. “Identificamos que o SARS-CoV-2 tem a capacidade de atravessar as barreiras de proteção do organismo e chegar até as células do sistema nervoso central”, completou Corasolla.

Os resultados do trabalho incluem ainda uma descrição de alguns dos mecanismos moleculares que podem ser alterados pelo vírus durante a infecção do sistema nervoso. Em longo prazo, esses dados podem contribuir com o combate à e a prevenção da doença por meio da colaboração com a indústria médica e farmacêutica. “Com essas informações, podem ser criados medicamentos que agem diretamente nessa interação do vírus com a porta de entrada das células nervosas, bloqueando sua entrada e evitando a infecção”, disse Corasolla. “Podemos também direcionar tratamentos para minimizar os danos causados pela infecção e evitar possíveis sequelas, como o déficit cognitivo”, finalizou o pesquisador.

Imagem de capa JU-online
Imagem de recortes de cérebros com áreas marcadas em vermelho

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