Colóquio internacional discute duas faces da efeméride: sua monumentalização e seu apagamento
Nos dias 29, 30 e 31 de agosto o Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) sedia o Colóquio Internacional “Na Semana que vem: história e futuro da Semana de Arte Moderna de 22”. Pesquisadores de Teoria Literária, Antropologia e História, assim como poetas e atores, vão discutir o legado da Semana e o que pode ser criticado. O objetivo é refletir sobre dois riscos relacionados à efeméride: sua monumentalização e seu apagamento. "Sem dúvida, é preciso tirar a Semana de Arte Moderna de 22 do pedestal. Aliás, nada mais modernista do que zombar das institucionalizações. Os modernismos justamente ensinam uma postura criativa, crítica e apropriadora em relação aos elementos da tradição, a partir do aqui e do agora. O gesto modernista então em relação à Semana não é reduzi-la ao ensino nas escolas, com a solenidade do hino nacional. É rir de todas as suas evidentes contradições e devorar o que ainda é nutritivo. E há muito de nutritivo", disse Tomaz Amorim, pós-doutorando em Teoria e História Literária na Unicamp e um dos coordenadores do evento.
O colóquio oferecerá, no ano do centenário da Semana de 22, perspectivas críticas e contemporâneas sobre seu legado, levando em conta sobretudo as tensões políticas e estéticas dos tempos atuais. A programação terá duas mesas temáticas por dia, nas quais cada convidado falará por volta de 25 minutos, ao que se seguirá um debate aberto. Ao final de cada dia, haverá uma conferência com um pesquisador de peso. Músico, compositor, ensaísta e também professor de literatura brasileira na Universidade de São Paulo (USP), José Miguel Wisnik falará no primeiro dia sobre “Música e literatura: contrapontos modernistas”. Gilberto Mendonça Teles, poeta e crítico literário, fechará o segundo dia com a conferência “Mito e vanguarda na Semana de Arte Moderna”. O antropólogo do Museu Nacional Eduardo Viveiros de Castro discorrerá sobre “A antropofagia contra o Estado: Oswald de Andrade e o matriarcado transcendental”, encerrando a programação do evento, que também contará com uma “Conferência-Performance” do Teatro Oficina.
A motivação principal do colóquio é tentar escapar da troca de tiros em que se transformou o debate atual sobre a Semana, indo para além das duas perigosas trincheiras a que o debate, quase exclusivamente, se reduziu: a meramente laudatória, monumentalizante; e a meramente ressentida, destruidora. Desde a escolha da arte oficial do evento – o eloquente quadro “ReAntropofagia”, do artista plástico Denilson Baniwa –, o que se propõe é uma devoração crítica e uma discussão honesta sobre os limites históricos da e as possibilidades ainda abertas pela Semana. "A escolha do quadro de Baniwa, uma obra evidentemente crítica ao Modernismo, mas que de certa forma também se enquadra em sua tradição iconoclasta e crítica, a partir de uma perspectiva indígena, sintetiza um pouco as diversas abordagens e a tensão que envolve o evento. O Brasil passa por um momento em que sua tradição e suas instituições são destruídas ou rapidamente trocadas pela moedinha do ‘atual’. É papel da Academia preservar os grandes acontecimentos de nossa cultura. Mas preservar não significa imobilizar, e sim justamente religar os temas e formas da tradição às questões do presente. É isso que pensamos ao organizar um colóquio que aponta para o futuro, `Na Semana que vem`, para falar do passado. O que importa é como a Semana continua se desdobrando no tempo e oferecendo ferramentas para pensar até depois do Brasil", destacou Amorim.
O colóquio está sendo organizado em uma parceria da Unicamp e da Universidad de Buenos Aires (UBA), com apoio da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da Unicamp, do Programa de Pós-Graduação em Teoria e História Literária do IEL e do Mecila, um centro de pesquisa financiado pelo governo alemão com sede em São Paulo. As mesas ocorrem no Auditório do IEL e o evento também será transmitido no YouTube do Instituto.
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