Mais de 60% das mulheres acompanhadas pelo Hospital da Mulher-Caism na pandemia tiveram melhoras significativas na perda involuntária de urina
Um estudo envolvendo mulheres com incontinência urinária atendidas no Hospital da Mulher José Aristodemo Pinotti Caism-Unicamp, durante a pandemia, mostrou que um aplicativo para celular, desenvolvido por pesquisadoras da Unicamp em parceria com o Instituto de Pesquisas Eldorado, pode ser um importante aliado no combate ao distúrbio, que causa perda involuntária de urina.
O aplicativo faz parte do Portfólio de Patentes e Softwares da Universidade, gerenciado pela Inova Unicamp. Ele ainda não está disponível para o público, mas pode ser licenciado por empresas e instituições interessadas em levar a tecnologia ao mercado ou aplicá-la em suas rotinas de tratamento e pesquisa.
As pesquisadoras acompanharam 156 mulheres que realizaram os exercícios, em casa, duas vezes ao dia, por 30 dias, guiadas pelo aplicativo. Ao final do período, 52% das entrevistadas relataram melhora dos sintomas ou “quase cura” e outras 10,2% das mulheres se disseram curadas. O trabalho foi realizado durante o período em que o atendimento presencial para fisioterapia pélvica nos centros de saúde ficou prejudicado.
“Com o acompanhamento do Diário Saúde, observamos que 74% das participantes do estudo realizaram o treinamento muscular do assoalho pélvico com frequência. Sendo que 36,5% disseram realizar o exercício sempre ou quase sempre e outras 37,8% faziam-no diariamente, o que é muito importante na reabilitação e no prognóstico”, conta Cássia Raquel Teatin Juliato, médica ginecologista, docente e pesquisadora da Faculdade de Ciências Médicas (FCM-Unicamp).
O estudo “Uso de aplicativo de celular no treinamento da musculatura do assoalho pélvico em mulheres com incontinência urinária” foi apresentado durante o 27° Congresso Paulista de Ginecologia e Obstetrícia, realizado em São Paulo, em agosto, sendo classificado entre os cinco melhores do evento.
Maior adesão ao tratamento
A incontinência urinária é marcada pela perda involuntária de urina em situações de rotina que exigem mínimo esforço, como uma caminhada, um espirro ou uma risada. Em casos mais graves, a vontade súbita de urinar já vem acompanhada do escape de urina, sem que a pessoa tenha tempo de chegar ao banheiro.
O distúrbio atinge 45% das mulheres acima dos 40 anos, mas não é exclusividade delas. Mulheres mais jovens e 15% dos homens também podem apresentar o problema, que, segundo a Sociedade Brasileira de Urologia, está associado a causas diversas, entre elas, o envelhecimento natural, gravidez e parto.
O tratamento com exercícios, orientado por fisioterapeutas pélvicos, precisa também ser realizado em casa, sem a necessidade de aparelhos, como explica Andrea de Andrade Marques, fisioterapeuta aposentada da Unicamp. Apesar do baixo custo e da facilidade de acesso, no entanto, o treinamento do assoalho pélvico está associado a taxas reduzidas de adesão dos pacientes.
“A ideia é que o aplicativo Diário Saúde seja uma espécie de auxiliar, um guia domiciliar, capaz de complementar a orientação dada pelo fisioterapeuta, que incentive o paciente a se exercitar com a frequência necessária”, diz Marques, que participou do desenvolvimento do programa de computador Diário Saúde.
Guia domiciliar
No aplicativo, os profissionais estabelecem qual seria o programa de treinamento ideal para cada paciente, com enfoque em contrações rápidas ou de sustentação. Além disso, o aplicativo apresenta animações que orientam o usuário sobre a posição do exercício (em pé, sentada ou deitada), de forma semelhante ao que é trabalhado na avaliação física presencial com o fisioterapeuta.
“Outra funcionalidade do aplicativo é o estímulo visual, semelhante a uma eletromiografia, como guia para o exercício, que mostra quando a participante deve contrair e sustentar ou contrair e relaxar, juntamente com a duração da contração e o número de repetições”, explica Camila Carvalho de Araújo, fisioterapeuta especialista na saúde da mulher e pesquisadora da Unicamp.
Os recursos do aplicativo envolvem, ainda, arte musical para melhorar a experiência dos usuários. Os exercícios são acompanhados por uma melodia exclusiva, que ajuda a manter o ritmo do treinamento, composta pela cantora e preparadora vocal Adriana Barea, bacharel e mestre em Música pelo Instituto de Artes (IA-Unicamp).
“Saúde e música são, cada uma à sua forma, feitas de ciclos, ritmos, cadências. Assim, a linguagem dos sons comunica-se de forma poderosa com nossa vida. Os compassos e a melodia foram elaborados para informar às mulheres, de forma lúdica, intuitiva e agradável, os exercícios a serem executados em cada etapa do treinamento muscular pélvico”, ressalta a musicista.
Também é possível receber notificações em forma de lembretes para que o paciente não se esqueça dos treinos e tudo isso de forma discreta. Isso porque os desenvolvedores evitaram na proposta visual qualquer referência direta ao distúrbio, que é motivo de constrangimento para quem sofre dele.
Após o treinamento, a pessoa tem a opção de deixar registrada sua evolução. Assim, o aplicativo também funciona como um diário de registro. Os dados são armazenados na nuvem para que profissionais de saúde e pesquisadores possam acompanhar o processo de reabilitação do paciente. “A ferramenta auxilia na padronização de intervenções e no registro, contribuindo para um maior rigor metodológico”, diz Andrea.
Transferência de tecnologia
O Diário Saúde, para ser disponibilizado para uso da população, precisa ser licenciado por empresas interessadas em levar a solução ao mercado, por hospitais ou clínicas de fisioterapia e instituições que buscam aumentar a aderência de pacientes ao tratamento ou por centros de pesquisa que usam protocolo de exercícios para estudos. O aplicativo faz parte do Portfólio de Softwares da Unicamp, gerenciado pela Agência de Inovação Inova Unicamp, que é responsável por fazer a conexão entre os inventores e o mercado. Mais informações no site.
Matéria originalmente publica no site da Agência de Inovação - Inova Unicamp.