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Programa #CafécomConversa debate “Epidemias”

Luís Fernando M. Costa | Editora da Unicamp | Especial para o JU

Segundo o senso comum, as doenças são problemas restritos à área da saúde. No entanto, tanto fatores sociais quanto econômicos determinam suas dinâmicas, desde a dimensão de sua contaminação até a eficácia das respostas governamentais. Os médicos e professores da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp (FCM-Unicamp) Eros Antonio de Almeida e Mariângela Ribeiro Resende debateram o tema “Epidemias” no programa Café com Conversa, gravado na última quarta-feira (9/5) na Casa do Professor Visitante (CPV-Unicamp).

Enquanto endemias são doenças persistentes – restritas a uma certa dimensão e localidade –, as epidemias surgem a partir do momento em que essas doenças ultrapassam certo nível de magnitude e repercussão social. Em casos extremos, encontramos as pandemias, de amplitude global, como a da H1N1, ocorrida em 2009. É a dimensão dessa contaminação que influencia sua visibilidade, assim como a atenção pública e a eficácia das respostas institucionais.

Devido à repercussão midiática das doenças de maior impacto, há uma constante negligência com relação às endemias. Surgidas num curto espaço de tempo e contaminando uma grande parcela da população, as epidemias e as pandemias se sobressaem, recebem grande parte da atenção da mídia e tomam para si a parcela majoritária dos recursos governamentais, destinados a uma rápida solução. No entanto, a resposta institucional não corresponde à demanda da população, uma vez que há um longo processo até que os investimentos repentinamente mobilizados se transformem em pesquisa e tratamento.

A professora Mariângela Resende ressalta o desafio em relação à produção de vacinas. A vacina da febre amarela, por exemplo, além de difícil produção, ainda depende de métodos artesanais, razão pela qual não há um estoque mundial suficiente para suprir a demanda. Ela também pontuou a necessidade de investir em pesquisa para o desenvolvimento de novas tecnologias de produção.

Para o professor Eros de Almeida, para além da importância dos casos de alto impacto, como as epidemias, deve-se investir na pesquisa e nas respostas às endemias que, independentemente de sua visibilidade midiática, têm relevantes impactos sociais. Elas persistem em diversas populações, que devem receber a atenção adequada dos órgãos de saúde.

Ele ressalta o caso da coinfecção entre a doença de Chagas (Tripanosoma cruzi) e a Aids (HIV/Aids) – tratado mais a fundo no livro Epidemiologia e clínica da coinfecção: Trypanosoma cruzi e vírus da imunodeficiência adquirida, publicado pela Editora da Unicamp e indicação de leitura dessa edição do Café com Conversa. Nesse caso, a pouca incidência é compensada pela alta mortalidade caso não haja um precoce diagnóstico seguido de tratamento.

Por fim, os debatedores colocam em foco os desafios. Mariângela Resende ressalta a necessidade de medidas estruturantes, como ações de financiamento e vigilância direcionadas ao SUS. Segundo ela, apesar da excelência do sistema,  existem problemas na gestão e no financiamento que impedem que ele funcione adequadamente. Eros de Almeida, além de mencionar os desafios políticos, destaca a importância da atenção ao paciente. Segundo ele, apesar da relevância da pesquisa no enfrentamento das epidemias, também é fundamental destinar esforços e recursos ao tratamento das pessoas.

 

 

 

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