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A Unicamp e uma concepção moderna de universidade

Luís Fernando M. Costa | Editora da Unicamp | Especial para o JU

Desde o século XIX, o ensino e a pesquisa estreitaram seus laços no âmbito universitário. O filósofo Fausto Castilho inspirou a Unicamp com uma concepção que deu à pesquisa primazia em relação ao ensino. Com o intuito de discutir o tema “Universidade: Ideias e inovação”, participaram da edição de outubro do Café com Conversa o ex-reitor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Carlos Vogt, e o filósofo Alexandre Soares. A gravação do programa ocorreu na Casa do Professor Visitante (CPV-Unicamp), no dia 10.

Para Castilho, a universidade deve ter, como base fundamental, a pesquisa. O ensino, portanto, dispõe-se próximo da produção de conhecimento. Ao ingressar na universidade, o jovem se depara com um mundo que o profissionalizará, porém apenas após um processo de formação integral. Segundo o modelo de Castilho, o aluno primeiro se dedicaria, por alguns anos, ao “ciclo básico”, um estudo direcionado às áreas fundamentais – humanidades, artes e ciências básicas –, para depois se dedicar à sua profissionalização.

A própria composição espacial do primeiro campus da Unicamp foi influenciada pela visão do filósofo. Enquanto no interior se localizam as áreas fundamentais, no entorno se encontram as ciências aplicadas, que, teoricamente, aproveitariam o conhecimento produzido no centro. É sugerida uma prioridade dessas áreas tanto para o ensino quanto para a pesquisa em relação à profissionalização.

Alexandre Soares pontuou que a visão de Castilho se refere a um modelo de universidade constituído a partir do século XIX, quando o filósofo Humboldt (1769-1859) propôs a inserção da pesquisa em um espaço até então exclusivamente voltado ao ensino. A universidade de Princeton, por exemplo, exemplifica uma instituição que radicalizou esse conceito. Ao associar a pesquisa ao ensino, ela deixou de oferecer cursos como medicina, direito e administração.

Em sua contribuição, Carlos Vogt expôs o caso concreto da Unicamp em sua gestão (1990-1994). Nesse período, ocorreram progressos, como a obtenção da autonomia universitária, em 1989, que concedeu, à instituição, a liberdade de tomar decisões em relação às carreiras docentes e a todas as atividades de apoio técnico e administrativo. Além disso, criaram-se padrões de qualidade e mérito a fim de avaliar todas essas ocupações. Nesse mesmo período, surgiu a carreira de pesquisador.

Ambos os debatedores refletiram sobre a conjuntura atual. Soares indicou a importância do Estado na manutenção da pesquisa produzida pelas áreas fundamentais do conhecimento. Para ele, a atuação do setor privado só seria possível no desenvolvimento restrito às ciências aplicadas. Vogt assinalou a ameaça pela qual passa a autonomia universitária. O perigo decorreria tanto da posição tomada pelos governantes quanto de uma futura reforma tributária, que poderá prejudicar uma gestão financeira autônoma.

O Café com Conversa é um espaço de debate que acontece mensalmente, tendo por base livros da Editora da Unicamp. A iniciativa vem de uma parceria entre a Editora, a Secretaria de Comunicação da Unicamp (SEC) e a Casa do Professor Visitante (CPV-Unicamp). O evento é aberto à comunidade interna e externa.

A edição de outubro teve como pano de fundo os livros O conceito de universidade no projeto da Unicamp, de Fausto Castilho, e A solidez do sonho, de Carlos Vogt.

 

 

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