Estratégias de poder nas primeiras reformas educacionais no Brasil (1922-1935)

O presente livro analisa um momento da história da educação brasileira eivado das mais amplas ambições, sobretudo daquela de criar uma organização administrativa e pedagógica do ensino com a inserção compulsória da população. Em suas páginas encontramos uma arguta e fina análise acerca das reformas educacionais dos anos de 1920-1930, de seu ineditismo, das disputas de interesses, da ousadia de práticas, da divulgação de ideias, da criação de leis. Sua leitura permite uma compreensão das transformações da escola, da carreira docente, do esboço das primeiras políticas educacionais pensadas como estratégia de desenvolvimento da nação.

Amparado em denso e vasto referencial teórico-metodológico tanto quanto em extensa bibliografia sobre o tema, o professor André Luiz Paulilo se debruça sobre séries documentais centrais para a compreensão e a interpretação dos primórdios da constituição de um sistema educacional brasileiro no período de seu grande esplendor: 1922-1935. Como delimitação geográfica, temos a capital federal, a cidade do Rio de Janeiro que se impõe com suas contradições e seus contrastes. Mas são a argúcia e a sutileza do intelectual que não se deixa enredar pela facilidade das primeiras impressões que sustentam as interrogações precisas e fundamentais às fontes de modo a delas extrair aspectos ainda pouco considerados pelo campo da história da educação, sobretudo no que se refere às estratégias de poder na consecução das reformas empreendidas no período, objeto central deste livro. Como afirma o autor, “[...] o principal aspecto do qual me ocupei no estudo do fazer administrativo da época diz respeito aos modos de entender – e de lidar com – os dispositivos de mando numa repartição da prefeitura [...]” (p. 14), e cuja análise se fundamenta, sobretudo, nos estudos de Foucault acerca dos poderes e suas implicações.

Políticas públicas de educação - A estratégia como invenção (Rio de Janeiro, 1922-1935)Originalmente uma tese de doutorado apresentada à Faculdade de Educação da USP, sua reescrita para o formato de livro é muito bem-vinda, pois cobre grandes lacunas existentes nos estudos das primeiras reformas educacionais e dos esboços de criação de um sistema nacional de educação, de políticas e, sobretudo, de estratégias de poder para sua consecução.

O livro é composto por cinco extensos capítulos, cada qual com contornos bem precisos, em cujas páginas as fontes são confrontadas de modo a fazer emergir uma narrativa fluida e elegante, que permite ao leitor perceber as muitas camadas de discursos e também de instâncias que implementaram políticas públicas de educação do período, articuladas pelas reformas empreendidas no que se refere à estrutura de funcionamento escolar e que foram, sucessivamente, promovidas por três formuladores de políticas educacionais no Brasil:  Carneiro Leão, Fernando de Azevedo e Anísio Teixeira. Como sintetiza o professor Paulilo, os capítulos “[...] tratam, nesta sequência, da administração educacional, das relações entre a docência e a burocracia, do sistema escolar, das práticas legislativas e do controle das populações escolares [...]” (p. 17).

Ler os interstícios, confrontar os discursos, decodificar arcabouços legais, desconfiar de quadros estatísticos, esforçar-se por ouvir o que parecia inaudível, enxergar singularidades onde somente se via o mesmo, desenhar com firmeza diferenças onde aparentemente só existiam similitudes, eis o longo percurso de pesquisa empreendido e que agora é reunido neste livro.

O trabalho realizado demonstra que, entre os formuladores de políticas e de ideias acerca da educação que foram objeto da pesquisa e aqui já citados, as ideias e proposições acerca da renovação da escola e da própria escolarização na então capital do país se fazem para além das similitudes facilmente identificáveis, aproximando-se muito mais de um inventário das diferenças.

Ricamente documentado com mapas, tabelas, quadros, estatísticas sempre muito bem colocadas ao longo das 461 páginas, este livro torna-se leitura obrigatória ao campo da história da educação e um convite a leitores de outros campos que aqui poderão conhecer os inícios e meandros do que veio a se constituir uma política e um sistema de educação nacionais. Deixo ao leitor o caminho aberto para adentrar nesta obra de referência para a história da educação brasileira.

Carmen Lucia Soares é livre-docente, professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Unicamp e pesquisadora do CNPq-CD-ED-História da Educação.



SERVIÇO

Título: Políticas públicas de educação - A estratégia como invenção (Rio de Janeiro, 1922-1935)
Autor: André Luiz Paulilo
Editora da Unicamp
Páginas:
 464
Área de interesse: Educação
Preço: R$ 74,00

 

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